sexta-feira, 30 de dezembro de 2016

Pode não parecer, mas a facilidade de comunicação instantânea é um advento bem recente da história da humanidade. Especificamente falando sobre celulares multifuncionais, computadores e internet em quase todos os lugares, toda esta realidade ainda comemora sua primeira década de existência. Para muitos, nascidos e criados com conexão direta ao plano virtual, vislumbrar contextos anteriores talvez seja uma tarefa no mínimo difícil: disquetes, k7s, Lps,...foram divindades menores, que tiveram uma importante participação neste mundo, mas que caíram com a chegada de um novo deus único. Aquele que, sendo onipotente, onipresente e onisciente, depois do tetragrammaton com seu YHVH, do pentagramaton com seu YHSVH, seguiria esta curiosa progressão, sendo então o hexagramaton dos nossos tempos, com seu G O O G L E. 

Antes dele a vida era bem mais difícil, ao menos no campo da pesquisa: era preciso se dedicar de verdade para encontrar informações sobre os temas que lhe interessavam; bibliotecas seriam seu browser, jornaleiros suas lojas virtuais, cartas seu whatsapp, e seus amigos seu site de notícias. Paciência seu loading, papel seu word, lápis seu ctrl+c e caneta seu pdf, porém, considerando no mínimo um dia inteiro para a execução de todas estes "rituais". 



Se para assuntos comuns a tarefa já não era fácil, o que dizer sobre temas de menor apelo  popular, como religião e ocultismo? 



Lembro com certa clareza das minhas idas semanais as bancas de revistas em busca de novidades. Certos assuntos eram recorrentes e já não supriam mais minhas necessidades: sociedades secretas e "TODOS OS SEGREDOS da Maçonaria finalmente revelados"...curioso é pensar que todo este sensacionalismo parece funcionar até os dias de hoje. Frustrante. Porém, um dia tudo mudou, e recebi um convite em minha casa - não de nenhuma Ordem, como eu tinha a ilusão de que um dia aconteceria, mas - para me tornar assinante de uma nova publicação da editora Abril: A Revista das Religiões! Li a sinopse e quase não acreditei: uma revista que abordava especificamente o tema religião de forma imparcial?! Devo até ter me emocionado...porém disso eu não lembro. Assinei! No mês seguinte recebi meu primeiro exemplar.


COLEÇÃO DIVINDADES é um conjunto de quatro livros publicados pela editora Abril, no ano de 2004, com 98 páginas cada, sob o título da Revista das Religiões.



O primeiro título chama-se Divindades Gregas, traz em seu prefácio a notável diferença de percepção existente do nosso ponto de vista para com o dos gregos antigos, quando tratamos seus Deuses como símbolos e sua religião como mitologia. Traz ainda apontamentos sobre os fatores possíveis para o surgimento da religião helênica, ou Helenismo, com seus cultos domésticos, e da mudança radical que marcou  o fim da era olimpiana: o advento do Cristianismo. Em sua lista de Deuses e Semi-Deuses apresentados através de suas histórias e curiosidades, destacam-se: Zeus, Hera, Hades, Posêidon, Afrodite, Dioniso, Atena, Apolo, Hermes, Héracles, Asclépio, Orfeu e Prometeu.





O segundo exemplar, intitulado como Divindades Afro-Brasileiras, aborda os tipos africanos que chegaram ao Brasil e suas misturas. Nos traz boas referências para pesquisa, que se contropõem a ignorância popular de considerar a África como um lugar único, tal qual um país, sem diferenças étnicas, religiosas ou linguísticas, que mais do que nunca, em tempos de orgulho pela ancestralidade preta, deveriam ser tratadas com muito mais rigor que se tem praticado por grupos ou pessoas em específico, que apelam para a demagogia em detimento do critério científico e histórico. Os Deuses comentados são: Exu, Ogum, Oxóssi, Omolu, Nanã, Iemanjá, Xangô, Oxalá, Iansã e Oxum.





O número três, Divindades Indianas, fala sobre o gigantesco número de adeptos da religião Hindu e as razões para, apesar de seus milhões de Deuses, esta religião também ser passível de ser considerada monoteísta. Aborda as origens históricas e sincréticas entre Drávidas e Árias, e os aglomerados de povos de compõem uma das maiores religiões do mundo. Além de curiosidades sobre os vários braços e cabeças das divindades e interessantes correlações com conceitos ocidentais, tais como a Trindade, ou Trimurti, e os novos movimentos vaishnavas. Os Deuses aqui são: Krishna, Vishnu, Shiva, Parvati, Brahma, Agni, Varuna, Indra, Kama, Ganesh e Skanda.




O último e não menos interessante, trata das Divindades Egípcias, e em seu prefácio também nos dá indicativos históricos sobre a formação do povo egípcio, e sua relação milenar com o rio Nilo. O Alto e Baixo Egito, a unificação e a formação da religião khemética, ou Khemetismo, sua adoração ao Sol, seus Deuses com cabeças de animais, o faraó como divindade encarnada, e a sucessão desses como influenciadores e modificadores não só para a religiosidade local, como para a eleição de uma divindade principal de seu panteão. Seus Deuses: Osíris, Ísis, Hórus, Rá, Seth, Amon, Hathor, Áton, Nut, Anúbis.

Como era de se esperar a revista não durou muito. Novamente recebi uma carta sendo informado que a publicação encerrava seu ciclo, e que eu poderia trocar o número de edições restantes da assinatura, por algum outro título da editora. Fiquei triste. Mas tal qual homens, espíritos e Deuses, tudo tem seu fim...mas será que este fim há de ser eterno?


por Allan Trindade