sábado, 13 de maio de 2017


Duas palavras. Basta que apenas duas palavras sejam ditas, e como num passe de mágica, as mais diversas reações são extraídas dos mais variados tipos de pessoas ao redor de todo o mundo. Do constrangimento ao riso, da curiosidade desavergonhada a pesquisa oculta e temerosa dos olhares críticos, são elas que dão título a este livro e através dos séculos  atravessam gerações, nos desafiando a questionar sobre qual deva ser o motivo para tamanha fama.



Sexo!...é a primeira resposta que nos vem a mente. Propagado como um manual perfeito para a arte do prazer, para a maioria de nós, não há dúvidas de que este título é sempre uma alternativa acertada para o tédio da rotina de um casal. Se este fosse um daqueles jogos de charadas, é bem provável que com estas dicas você já tivesse adivinhado sobre que livro estamos falando. 



Ousamos afirmar que não importa em que lugar do globo se esteja, a idade que se tenha, a convicção política que apoie, a religião que se professe, todos já ouviram falar nestas duas palavrinhas que dão nome a este famigerado texto hindu, que apesar de idoso, carrega a fama do tesão e criatividade de um jovem de apenas 20 anos...



O KAMA SUTRA é um livro escrito por Vatsyayana, publicado no ano de 2013 pela editora L&PM Pocket com 237 páginas divididas em 7 partes.



Esta é uma versão integral, reproduzida tal qual sua versão original, e especula-se que tenha sido escrita em algum momento dentre os séculos I ao VI, pelas mãos de um homem religioso a qual se tem pouca informação sobre as condições que possuía ou da vida que levava.



Vatsyayana é seu autor, mas em 1883 foi Richard Burton o responsável pela tradução do texto para a língua inglesa dando assim um dos pontapés iniciais para a grande fama dos Aforismos Sobre o Amor no mundo ocidental. Com uma biografia repleta de aventuras e disfarces literais pelos meandros exóticos de vários continentes, digna de um legítimo Indiana Jones, Burton fora um cronista dedicado e um inveterado explorador de novos mundos. 



Em seus comentários, Richard nos explica as razões que o levaram a traduzir esta obra em específico – graças as constantes citações dos sacerdotes hindus ao sábio Vatsyayana e sua curiosidade sobre quem teria sido, e o que teria dito, esta figura emblemática -, além de referenciar uma série de outros textos eróticos, produzidos sob influências deste título. Nota-se que desde seu princípio este livro tem sido usado como inspiração para outros trabalhos. Entretanto, nos dias de hoje, o que existe é uma apropriação do título como forma de propaganda, para expor um conteúdo por vezes absolutamente pornográfico que se distancia consideravelmente de seu contexto original.



Consideramos pertinente ressaltar ainda que erótico e pornô são conceitos distintos.



Em sua introdução, Vatsyayana esclarece que seu livro é na verdade uma compilação de outros escritos, aos quais perdidos e espalhados pelas adversidades do tempo, se viam em estado praticamente impossível de serem obtidos de maneira integral. Desta forma, apresenta esta obra como um resumo dos textos destes outros autores que o antecederam. 



Antes de mais nada é preciso que se compreenda que o Kama Sutra se apoia sobre um conceito: pretende-se como um manual para a prática e experiência do Kama. As ideias, quando resumidas, são aparentemente simples, mas podem confundir as mentes daqueles não familiarizados com a cultura e religião hindu. Estas premissas são aqui classificadas como conhecimento, Kama, Artha e Dharma. 



Segundo ainda seu autor, na infância o homem deve se preocupar com o conhecimento. Na velhice com o Dharma, ou seja, com o trabalho religioso e a obediência as Sagradas Escrituras Hindus. Mas é com a juventude e meia-idade, ou com Artha – a obtenção de riquezas – e mais especificamente o Kama – a prática e vivência do amor -, que se ocupa seus escritos. A partir desta conjuntura entende-se que apesar da indicação para o estudo do Kama Sutra, o homem que ignora as outras três práticas está fadado ao fracasso.



Longe de ser um manual de posições sexuais, o livro apresenta uma série de indicações sobre como deve ser a conduta das pessoas na vida social com foco no relacionamento. 



É majoritariamente destinado a homens, e dentre suas diversas classificações e recomendações, que oscilam entre o cômico e útil, - supomos para aqueles encerrados naquele período e recorte cultural - fala sobre como deve ser uma casa ideal, de seus cuidados para com seus criados, da boa recepção com os amigos em seu lar e da lida pública com prostitutas. Sobre a relação com homossexuais, quase exclusivamente referenciados para a prática do sexo oral, além de maneiras de criar consolos e receitas para aumentar seu pênis.



Como conquistar sua mulher, trair ou convencer a esposa do outro, incluindo neste conjunto alguns métodos considerados criminosos pelas leis modernas; como a aplicação de drogas na pessoa desejada e estupro da mesma – recomendado apenas em último caso.  



Para as mulheres, destinam-se indicações para serem zelosas por seus maridos e artes, e no caso de não casadas, sobre como serem bem sucedidas no ofício da prostituição.



Mas é por vezes também ingênuo, por listar tipos e dar nomes a abraços, beijos, arranhões e mordidas, supostamente praticados durante o ato sexual como indicativos de determinados sentimentos ou intenções...como se tais coisas fossem possíveis classificar. 



Além de meia dúzia de descrições sobre as posições sexuais, as famosas e extravagantes imagens contidas em livros outros que roubam o nome deste título para vender, e que muitas vezes desafiam até os mais experientes dos yoguins para sua execução, simplesmente não existem aqui. E quando falamos meia dúzia não estamos necessariamente exagerando já que isso é o que menos se vê neste livro.



O Kama Sutra tem uma inegável importância histórica e é sem dúvidas um dos livros mais conhecidos do mundo e só por isso, sua leitura pode vir a ser recomendada. Entretanto, os conceitos sobre conhecimento, Kama, Artha e Dharma continuam atuais, e com as devidas adaptações aos nossos tempos, podem servir como referenciais de base para a conduta de homens e mulheres, de modo a levarem uma vida plena e satisfatória. 



E isto é tudo. Sua fama definitivamente não faz jus a seu conteúdo: está velho e ultrapassado, e por que não dizer; broxante!
Para aprender sobre sexo vale mais ouvir as mentiras que o povo conta sobre esse livro do que lê-lo.

por Allan Trindade

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