quinta-feira, 20 de junho de 2019


Embora a popularidade de Aleister pareça indicar o contrário, Crowley era essencialmente um intelectual. Educado em teologia cristã e profundo conhecedor da Bíblia, além de diversos outros assuntos, sendo também um qualificado alpinista e exímio jogador de xadrez, aproveitou-se de sua criação e herança milionária para dedicar toda sua vida ao desenvolvimento de seu intelecto, sua arte e principalmente, sua espiritualidade. Mesmo que muitos possam contestar isso, fato é que a obra e vida de Crowley, quando observadas de perto e sob uma perspectiva desprovida de preconceitos, parecem mesmo serem únicas para os padrões que até então se tinham dentro do universo do ocultismo do século XIX. 

Entretanto, o caráter deste livro não é aquele de mais uma vez tentar explorar as vivências e peripécias praticadas por este inglês tão costumeiramente difamado, mas de apresentar e buscar entender o resultado mágico delas.

A MAGIA DE ALEISTER CROWLEY é um livro escrito por Lon Milo Duquette, com 255 páginas, divididas em 13 capítulos e publicado no ano de 2007 pela editora Madras.

Crowley nos legou um conjunto que contém em si um sistema de práticas mágicas herdadas da Ordem Hermética da Aurora Dourada, adaptadas e aprimoradas a sua maneira de acordo com suas perspectivas, baseadas em sua crença da chegada de uma nova era e uma nova religião para a humanidade, conhecida como Thelema. A partir disso, criou uma série de outros rituais próprios para serem praticados por seus adeptos de modo que pudessem cumprir suas próprias vontades mágicas e espirituais, de maneira alinhada com as influências destes novos tempos, em uma nova Ordem a qual denominaria A.’. A.’. . 

Porém, o que parece muito atraente num primeiro momento, pode ser um tanto decepcionante num segundo. Isso porque, tal como destacado por nós em parágrafo anterior, toda a erudição de Crowley talvez tenha o feito esquecer-se que 'pessoas comuns' podem não possuir tempo, dinheiro, ou mesmo condições intelectuais de entender toda a gama de referências, relações e correlações a sistemas, mitologias, artes e religiões contidas em seus escritos. O mesmo pode se dizer especificamente sobre muitos de seus rituais. E a falta de textos próprios e introdutórios podem fazer o interessado pensar que Thelema é complexa demais para a vida cotidiana. Sendo assim, nada mais justo que um livro para tentar sanar este problema.

Em seu prefácio, Hymeneaus Beta fala sobre esta obra de Duquette servir como uma introdução para aqueles que podem não ter o conhecimento necessário para entender as especificidades  da obra de Crowley, não sem antes salientar que parte do que é apresentado aqui encontra-se também no campo da interpretação pessoal do autor, e que portanto, não deve ser encarado de forma dogmática. Em seguida, Lon nos fala sobre esta ser uma edição revisada e ampliada da primeira edição de 1993 e até se propõe a tocar no assunto sobre as calúnias e difamações propagadas contra Crowley, até os dias de hoje, antes de introduzir seus comentários sobre seus rituais. Aqui ele trata sobre o conceito da vontade entendido através da perspectiva thelêmica, como aquela vontade divina distinta da vontade comum. Sobre as diferentes eras astrológicas e os aeons de Ísis, Osíris e o atual, de Hórus. Do recebimento do Livro da Lei como uma confirmação de Crowley como o profeta da nova era. Para finalmente apresentar os libri de classe D, que contém os rituais e instruções oficiais da A.’. A.’. .

Duquette então nos apresenta os Rituais do Pentagrama, como por exemplo, mas não apenas, o Ritual Menor de Banimento do Pentagrama; os Rituais do Hexagrama, como o Ritual Menor do Hexagrama; os rituais de Conhecimento e Conversação com o Sagrado Anjo Guardião, como em Liber Samekh; os Ritos Solares, como a Missa da Fênix; do misticismo thelêmico, como em Liber Nu e ainda sobre os Ritos Elêusis, tal como praticados por membros da OTO desde a década de 70. Todos esses capítulos são organizados conforme comentários pessoais do autor seguidos pela apresentação do próprio liber em si. A conclusão do livro trata sobre Ordens thelêmicas e tece comentários específicos sobre esta religião, finalizando com o Liber XV, a Missa Gnóstica, rito central da Ordo Templi Orientis.

Uma breve busca por vídeos sobre rituais da Aurora Dourada ou mesmo da A.’. A.’. na internet sempre nos impressiona pela quantidade e, não raro,  pelos absurdos. A abertura de todos os documentos da Santa Ordem parece ter tido um efeito duplo: facilitou o acesso de novos aspirantes, porém, deu a oportunidade para que indivíduos nem sempre comprometidos com a honestidade, se aproveitassem da fama de muitos rituais para adaptá-los a suas próprias maneiras, e propagá-los como sendo genuínos. Perceba que não queremos dizer com isso que há qualquer tipo de proibição para adaptações pessoais, mas, que adaptações pessoais devem ser frisadas como adaptações pessoais.

Embora muitos thelemitas torçam o nariz para explicações públicas sobre os rituais da A.’. A.’., e o próprio Crowley tenha demostrado não gostar da ideia como exposto, por exemplo, em The Book of Lies, pensamos que livros como A Magia de Aleister Crowley, organizado e apresentado de forma honesta, distinguindo de forma clara opinião de escrito original, tem uma legítima função de existir.

por Allan Trindade

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quarta-feira, 12 de junho de 2019


Há alguns anos atrás me tornei hindu, devoto de sri Ganesha. Dentro desse período não era incomum que pessoas, especialmente cristãos, ao saberem disso, me confrontassem de forma debochada.

 - Quer dizer que você acredita num deus gordo com cabeça de elefante?
 - Sim, pratico meus pujas diariamente. Algum problema?
 - Não, só acho engraçado você acreditar nisso.
 - Pois é, também acho engraçado você acreditar que cobras um dia falaram, tal qual em Gênesis. Ou que um ser humano pode viver dentro de uma baleia, tal como o relato de Jonas. Ah, a Bíblia não fala de baleia mas peixe gigante? Como queira. Ou que teu deus precisa falar através de jumentas como no caso de Balaão, ou plantas como no caso de Moisés. Ou que esse mesmo deus seja capaz de mandar duas ursas arrancarem pernas, braços e cabeças de 42 crianças simplesmente porque chamaram Eliseu de careca. Ou ainda que é normal destruir duas cidades 'por pederastia', como Sodoma e Gomorra, mas deixar que os sobreviventes, Ló e suas filhas, transem a vontade, regados a muito vinho, mesmo depois de sua esposa/mãe ter morrido, num caso no mínimo bizarro de incesto. E isso porque eu nem citei os anjos do Apocalipse e suas formas bem mais exóticas que aquela do deus que eu sigo...

Mas o melhor mesmo deve ser rir também dos ribeirinhos que dizem que o boto sai do rio para engravidar meninas, mas achar absolutamente normal que Jesus tenha nascido de uma virgem, não é mesmo?

Vamos continuar essa conversa e rir mais um pouco?

O LIVRO DOS SANTOS é um livro em capa dura, escrito por Rogério de Campos, com 366 páginas, divididas em 16 capítulos e foi publicado no ano de 2012 pela editora Veneta.

Este livro chega assim: sem introduções ou explicações sobre sua estrutura, metendo o pé na porta da Igreja para, tal qual no dia do Apocalipse, reerguer os corpos empoeirados de santos e santas chamados a darem suas opiniões, ou relatar um pouco de suas vivências para nós. De tom cômico, irônico ou mesmo tenso em alguns momentos, cada uma de suas páginas contém um quadro onde a história é apresentada, tudo organizado por temas que vão desde o machismo característico de muitos santos conhecidos do grande público - conhecidos por sua imagem mas dificilmente por suas ideias -, perpassando pelo estranho hábito que outros tantos tinham de ficar andando por aí sem cabeça, até sua estranha adoração pelo sofrimento e pela morte. Os capítulos aqui são:


Da Perversidade Natural das Mulheres
Onde são apresentadas histórias ou falas de santos misóginos

Dos Milagres Milagrosos
Milagres diversos do tipo histórias que o povo conta e a igreja assina embaixo


Donde se Constata que Existem Algumas Mulheres que, de Tão Virtuosas, São Quase Homens
Que lista mulheres santas que em geral não queriam contatos com homens


Donde se Aprende Que, Para um Bom Cristão, a Cabeça é Algo Dispensável
Onde apresenta alguns santos cefalóforos, ou seja, que andavam por aí literalmente sem cabeça e até falavam


Da Vontade Própria: a Semente do Mal
Sobre o quanto a vontade própria é perniciosa para um cristão


Do Porque Só os Virgens Agradarem ao Senhor
Onde os santos evitam ou condenam o sexo e exaltam a virgindade como caminho para o Céu

Do Casamento: um Pecado Menor
Que trata de casamentos diversos e o quão condenável isso é para alguns santos

Do Amor Puro
Sobre os "vários tipos de amor cristão"

Da Justiça Cristã
Onde apresenta casos de amor e justiça praticados pela cristandade católica

Da Ciência Cristã
Onde apresenta o quão científica a Igreja é...só que não

Da Virtude, Conduta e Afins
Histórias diversas sobre hábitos, atos e consequências

Das Delícias da Dor
Sobre o prazer que os santos têm em praticar BDSM

Do Cemitério como Jardim Cristão
Sobre morrer quando bem entender e relíquias da morte

Da Utilidade dos Santos
Onde são indicados os santos padroeiros e do que.


Os capítulos seguintes trazem uma Nota Semibibliográfica e um Índice Onosmático.

O Livro dos Santos é leve e descontraído, mas acima de tudo divertido, embora possa ser considerado pesado ou herético por aqueles menos espirituosos. Carrega a virtude da honestidade em seu interior, porém, peca pela falta de beleza exterior: sua capa embora dura, é feia. Indicado para todos aqueles que, em sendo capazes de rir da fé dos outros, sejam igualmente capazes de rirem de suas próprias. Afinal de contas, água benta na cara dos outros é refresco.

por Allan Trindade.



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segunda-feira, 14 de janeiro de 2019

Rio de janeiro, 12 de dezembro de 2004. Domingo

É noite. Eu fujo. Fujo de algo ao qual não sei o que é, mas sinto sua forte presença se aproximando cada vez mais rápido. Corro até que finalmente chego a um lugar que me parece seguro, um lugar com um grande gramado iluminado por numerosas velas fixadas no chão, velas que eu sei que são de oferendas. Não toco em nenhuma. No fim do caminho algo se destaca a vista: uma enorme chaminé de fábrica, daquelas com tijolos vermelhos. Minha mente permanece inquieta, talvez pelo fato de saber que estou sendo seguido, mas o pior é não saber por quem ou pelo quê.

Por um momento tento mas em vão, concluo que continuar correndo não irá me salvar do contato com a coisa... então fecho meus olhos e me concentro no meu objetivo: corro e salto. É fascinante, a gravidade simplesmente não existe pra mim! Voo pelos ares apenas com meu impulso e vontade. Vejo a chaminé se transformar em miniatura perante meus olhos. 

Minha velocidade me preocupa, subo rápido demais. Giro como um pião e num movimento súbito abro braços e pernas, e meu corpo para no ar. Estou entre as nuvens, as estrelas acima da minha cabeça e o mundo a meus pés. 

Êxtase! ...nada mais me preocupa, posso finalmente relaxar.

SONHOS LÚCIDOS é um livro escrito por Dylan Tuccillo, Jared Zeizel e Thomas Peisel, com 255 páginas, divididas em 6 capítulos e publicado no ano de 2015 pela editora Sextante.

Sonhamos todos os dias! Sim, você sonha todos dias, mesmo que não se lembre sempre de seus sonhos, eles aconteceram e acontecerão todos os dias.

Mas se sonhamos todos os dias, por que não lembramos de todos nossos sonhos? Os motivos podem ser diversos e explicados através de perspectivas científicas, ocultistas ou ainda das duas. Mas a razão principal pode ser bastante simples: você sempre sonha mas não se lembra sempre porque acredita que não sonha todos os dias, e que é normal se esquecer dos seus sonhos. Esta teoria parece mesmo plausível se levarmos em consideração que é bastante comum ouvirmos esse tipo de fala vindo da maioria das pessoas. Mas segundo alguns especialistas devemos evitá-la. De acordo com os autores, é assim que desprogramamos este boicote mental e mudamos nossa relação com o mundo onírico.

Falando assim parece fácil, mas se estamos tratando de vícios, não é de uma hora pra outra que conseguimos mudá-los, correto? Sendo assim, é por isso que precisamos substituir os hábitos que nos levam a apagar da memória nossos sonhos, por aquelas práticas que nos farão não apenas lembrar de cada um deles, mas ter consciência e fazermos lá todas as coisas que por um motivo ou outro não fazemos aqui. Mas como fazer isso então? É através deste livro que você aprenderá!

Talvez você ainda esteja se questionando sobre os benefícios de desenvolver a habilidade de lembrar e controlar seus sonhos, mas se teve a experiência de lucidez ao sonhar ao menos uma vez na vida, sabe o quão maravilhosa é esta sensação. A liberdade é praticamente absoluta e as limitações estão quase sempre restritas a sua capacidade imaginativa. Voar costuma ser um dos feitos mais marcantes para a maioria dos onironautas. Mas nem só de sensações vivem aqueles que desafiam as águas do esquecimento e muitos são aqueles que através do sonhar conquistaram coisas novas, como o caso de Paul Mcartney que sonhou com a melodia de Yesterday, Elias Howe que criou a máquina de costura, Dmitri Mendeleev e a tabela periódica, assim como muitos outros casos onde pessoas encontram seus entes queridos já desencarnados e podem com isso superar os traumas da separação, ou ainda os clássicos exemplos do Xamanismo onde indígenas tratam das questões pertinentes a tribo e seu futuro com seus guias espirituais.

Mas para entender melhor sobre quando as técnicas de controle dos sonhos deixaram os muros das religiões e sociedades secretas e alcançaram o mundo do vulgo, vamos partir do começo. Tudo se iniciou em meados da década de 70, onde dois cientistas, Keith Hearne e Alan Worsley, e anos mais tarde, Stephen LaBerge, queriam provar que sonhos lúcidos eram reais. Levando em consideração a atonia do sono - estado onde o corpo fica inerte e só o diafragma e os olhos se movem - fizeram o teste: Worsley deveria movimentar os olhos oito vezes da esquerda para a direita enquanto estivesse dormindo. Aparelhos conectados, tudo pronto, Alan dormiu e voilà! Seus olhos se mexeram conforme combinado. Assim, os cientistas puderam concluir que mesmo dormindo, algumas pessoas tinham a capacidade de manter certo nível de consciência. A partir daquele experimento então, as técnicas de viagem astral se ampliariam, e se tornariam bem menos místicas e mais pragmáticas.

Este título disserta sobre uma série de questões científicas que tratam da relação do homem com o sonho e ainda os diversos questionamentos, tais como o local de sua existência e função, que tem sido feitos durante toda a história da humanidade, passando pelos sumérios, egípcios, gregos, romanos, hindus, cristãos, até dúvidas e definições mais modernas como aqueles de Freud, Jung, Aserinsky, Kleitman dentre outros. E embora o livro tenha um caráter bastante materialista se comparado aqueles de origem ocultista, uma coisa parece ainda conectar os dois mundos: a vontade. E aqui, saímos de seu aspecto teórico, e partimos para seu aspecto prático.

Segundo os autores, é muito importante que o pretendente a viajar conscientemente pelo mundo dos sonhos queira realmente fazê-lo, e por isso deve afirmar esta intenção no presente: estou sempre lúcido nos sonhos! Para além disso, um ambiente tranquilo é importante, além de hábitos alimentares que não favoreçam tanto os estágios absolutamente profundos de sono, tais como o consumo de cigarros, maconha e café. Ter um caderno específico para anotá-los também será fundamental. Dada esta preparação básica a técnica é apresentada, uma técnica que propõe a interrupção do sono após seis horas dormidas, contendo instruções de sensações auto induzidas e afirmações positivas com a intenção da lucidez.

O livro dá dicas sobre como treinar sua consciência para viajar por lá de forma tranquila e proveitosa, sempre respeitando seu tempo. Uma vez que tenha alcançado a lucidez, aproveite! Se você não acha que pode voar por si mesmo, crie asas. Se precisa ir para um outro país, use uma máquina de teletransporte. Se quer explorar o fundo dos mares, vire um peixe. Sua imaginação é o seu limite. Os autores tratam ainda de pesadelos, curas, incubação de sonhos, predição do futuro e dos seres - humanos e não humanos - que podemos encontrar por lá, o nível de consciência deles e de que forma esta relação pode lhe ser proveitosa, mas ressaltam que deve se tratar seus habitantes com educação, afinal de contas você não sabe quem ou o que são eles de fato...

Sonhos Lúcidos é um daqueles livros que dá prazer de ler e ver. É ricamente ilustrado e tem uma diagramação em estilo de revista, com caixas de relatos independentes espalhadas aqui e acolá, e capítulos que sempre são finalizados com um resumo. É feito tanto para aqueles que nunca ouviram falar em viagem astral, como para aqueles já familiarizados com este universo, uma vez que sua neutralidade não apele nem para o campo científico ou esotérico, estando mais preocupado em apresentar técnicas leves, descontraídas e efetivas a todos os interessados. Prático e ideal.

por Allan Trindade



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