sábado, 25 de abril de 2020

Se você alguma vez já se deparou com algum texto relacionado a Thelema, você também provavelmente já encontrou por aí alguns livros desta religião escritos por Aleister Crowley. E se procurou um pouco mais, deve ter percebido também que há anos estes livros encontram-se disponíveis gratuitamente na internet, tanto em sua versão original em inglês, quanto em traduções brasileiras. Mas eis que de uns anos pra cá, começaram a surgir diferentes edições impressas destes mesmos livros a venda por diversas editoras. Uma questão então deve surgir a mente de muitos neste momento: por que pagar por um livro que reúna livros que já tenho ou posso ter de graça? Para responder a esta pergunta é preciso entender um pouco do contexto nacional de Thelema.

OS LIVROS SAGRADOS DE THELEMA é um livro escrito por Aleister Crowley, com 256 páginas, divididas em 17 capítulos e foi publicado no ano de 2018 pela Madras editora.

Foi no início do século XX quando Crowley começou a receber os primeiros livros daquela religião, que doravante seria conhecida como Thelema, através de um mensageiro dos deuses que o elegeram o profeta desta nova doutrina. Embora tenha resistido a ideia e até mesmo rejeitado por um momento o mais importante destes recebimentos, o Livro da Lei, o passar dos anos o convenceram de que esta era inegavelmente sua função, e assim, dedicou toda sua vida e fortuna para esta grande obra. Os 14 livros sagrados então se desdobrariam em outras dezenas, que tratariam de rituais, teorias, organização da Ordem que fundara, e tudo o mais relacionado aquele contexto. Em 1° de dezembro de 1947, Crowley partiu para ter sua Grande Festa.

A partir daquela data a propriedade intelectual da Besta - como o mesmo também se autodenominava - passaria então para uma organização que fora inteiramente reformulada por ele, a Ordo Templi Orientis, ou simplesmente OTO. Para os falantes de língua inglesa, e neste contexto, a questão dos direitos autorais tem menor importância se levarmos em consideração que a única coisa que terão de diferente entre uma edição e outra será a capa e, quem sabe, algumas notas de rodapé. Porém esta questão torna-se de suma importância quando tratamos de traduções.

Para todos os países signatários da Convenção de Berna, há de se esperar 70 anos a partir da morte do autor de uma obra para que a mesma caia em domínio público. Se até 2017 qualquer tradução brasileira necessitava da autorização da Ordem citada, a partir de 2018 todos poderiam então trabalhar nestas publicações de modo a traduzi-las conforme seus próprios entendimentos e gostos. E foi assim que vimos o lançamento quase simultâneo de algumas obras onde o interesse do público passava a ser não apenas o texto em si e seu "autor", mas quem o publicava e principalmente, quem o traduzira.

Vitor Cei é o presente tradutor desta publicação que reúne os 14 libri sagrados de Thelema. Em seu prefácio nos apresenta uma pequena biografia sobre a vida de Aleister Crowley, sua relação com Thelema e a visão de mundo presente nesta doutrina, além dos desafios de ter abraçado esta tarefa de tradução. Cei introduz cada uma das obras com um pequeno resumo de seu conteúdo e data de recebimento pelo profeta. Inicia todo o conjunto a partir do Liber LXI Vel Causae, um livro de Classe D, usado para fundamentar a origem da Ordem da A.' .A.'., para em seguida nos apresentar enfim os textos de Classe A. E são eles:

  • Liber B vel Magi sub figura I
  • Liber Liberi vel Lapidis Lazuli, Adumbratio Kaballae Aegyptiorum sub figura VII
  • Liber Porta Lucis sub figura X
  • Liber Trigrammaton sub figura XXVII
  • Liber Cordis Cincti Serpente sub figura LXV
  • Liber Estellae Rubeaesub figura LXVI
  • Liber Tzaddi vel Hamus Hermeticus sub figura XC
  • Liber Cheth vel Vallum Abiegni sub figura CLVI
  • Liber AL vel Legis sub figura CCXX 
  • Liber AL  sub figura XXXI
  • Liber Arcanorum sub figura CCXXXI
  • Liber A'Ash vel Capricorni sub figura CCCLXX
  • Liber Tau vel Kaballae sub figura CD
  • Liber vel Ararita sub figura DLXX


Finalizando então esta edição com uma tradução do Liber LXXVII, ou Liber Oz, um livro não classificado, lançado como um manifesto para a garantia da liberdade e Direitos Humanos na presente era de Heru-Paar-Kraat.

Victor Cei executou um trabalho excepcional nesta obra, não apenas pelo respeito e proximidade com o texto fonte, mas também pela escolha minuciosa das palavras de modo que sua tradução pode soar quase tão poética e sensível quanto os originais. O trabalho é ainda enriquecido por seus comentários, que sem dúvidas tornam esta edição uma das mais primorosas desta nova leva de traduções destes textos sagrados. Se sucesso é tua prova, caro escriba, ele sem dúvidas também se confirma aqui.

por Allan Trindade

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domingo, 19 de abril de 2020


Carma. Reencarnação. Vida. Morte. Pós vida. Temas recorrentes dos meandros da espiritualidade. Motivo de crença e esperança para uns e descrença e indiferença para outros, há milênios os registros humanos apontam para esta estranha relação que o homem sempre estabelecera com o além. Interessantemente, os métodos de comunicação com os espíritos parecem terem se desenvolvido junto a própria evolução tecnológica material, e a psicografia, um de seus métodos mais conhecidos, tem atraído a curiosidade de muitos daqueles que esperam por uma mensagem de conforto vinda de seus entes queridos que já partiram. Entretanto, tal prática não tem se limitado apenas a cartas específicas para pessoas específicas, e são muitas as obras psicografadas que dissertam sobre os mais variados temas. E esta, que é uma obra psicografada, trata de um romance. Da história de um homem que viveu há cerca de trezentos anos atrás...



O GUARDIÃO DA MEIA-NOITE é um livro escrito por Rubens Saraceni, com 197 páginas, divididas em 14 capítulos e foi publicado no ano de 2018 pela Madras editora.

Este homem, doravante o Barão, fora muito rico e já estava com seus 40 anos de idade quando começara a pensar em se casar. Ao expor publicamente suas intenções, passara a ser assediado publicamente por mulheres dos mais variados tipos as quais sempre desconfiava, pois supunha, estavam apenas interessadas em seu dinheiro. Sendo um homem de seu tempo, carregava em si as características machistas que comandavam aquela sociedade e se aproveitava da situação também como um teste: se qualquer pretendente fosse para cama com ele antes do casamento, então, não lhe serviria como esposa. E assim fizera até finalmente desistir das suas opções neste país e resolver buscar sua noiva em Portugal. Uma mulher bem mais jovem, que ainda desfrutava de sua inocência aos 15 anos, casara-se então com aquele senhor a contragosto. Em sua fixação por seus próprios conceitos de pureza, o Barão manteve-se atento ao ato na noite de núpcias, e por não perceber nenhuma gota de sangue após a consumação, concluíra que mais uma vez fora enganado e que sua jovem esposa não podia mesmo ser virgem. Decidido a vingar-se pela traição imaginada, armou uma cilada contra a própria esposa: mandara um de seus escravos para seu quarto enquanto a jovem dormia, chamou uns amigos como testemunhas e fingiu um flagrante, afinal de contas, se uma mulher estivesse a sós com um escravo em seu quarto, não importava o que estivessem fazendo naquele momento, aquilo só podia significar traição. O escravo que nada tinha feito de errado fora assassinado, e a esposa, assustada com toda a situação, fugira. 

Decidido a devolvê-la pessoalmente para seus pais de modo a limpar sua honra, saiu em campanha pela selva, junto a capitães do mato, disposto a tê-la de volta, custe o que custasse. Ouvindo rumores de que estava morando em alguma aldeia, o Barão passou a matar e torturar todas os índios que encontrara em seu caminho, até finalmente encontrá-la grávida e assustada numa destas tribos. Tomou-a e partiram de volta para Portugal, levando consigo o remorso pelo assassinato de tantas almas inocentes, ceifadas em nome de seu próprio preconceito. Decidido a não mais lidar com o peso de toda aquela situação sem revelá-la, contou toda a verdade para sua mulher, que não o perdoara. Anos se passaram e a Lei da vida cobrou seu preço...

Esta é uma obra inspirada pelo espírito do Pai Benedito de Aruanda. Um livro psicografado que lida com conceitos umbandistas sobre a espiritualidade. A trama se passa no período do século XVIII no eixo Brasil-Portugal, e no campo espiritual, expõe os reinos dos exus, suas leis, conceitos e classes. Um romance simples sem muitas reviravoltas e previsível na maior parte do tempo, mas nem por isso enfadonho ou ruim. Foca sua moral sobre o conceito de que nossas ações e vícios podem nos gerar consequências terríveis no post mortem, muitas vezes reversíveis apenas através de serviço espiritual e reencarnação.


por Allan Trindade


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quarta-feira, 8 de abril de 2020

Em pleno século XXI, homens e mulheres renascem sedentos pelos poderes obscuros. Por mais que
os profetas de diversas crenças ‘tocassem suas trombetas’ anunciando o retorno desses espíritos inconformados e rebeldes, não conseguiram findar a sede de vingança da matilha renascida. Se assassinaram nossos antepassados das formas mais cruéis e irracionais, hoje devem nos respeitar e até nos temer, por nada mais funciona segundo as leis hipócritas dos velhos códigos da ‘Santa Inquisição’. Somos o povo da noite, escolhidos pela vitória e portamos as fagulhas dos Deuses ‘esquecidos’. Quem escolhe esse caminho sabe que em sua cabeça pode brilhar uma coroa, com a mesma luz emitida pela maravilhosa ‘Estrela Matutina’. ...

Sejam bem vindos a um dos afluentes de Hades, as velas do santuário de Ahndrus, aos cumes dos vulcões adormecidos e aos tornados em formação. Apreciem as melodias de cura e doença, de vida e morte, de amor e ódio e de deuses e demônios. pg 11/13

TEMPLO DE AHNDRUS é um livro escrito por Danilo Coppini, com 167 páginas divididas em 6 capítulos e foi publicado no ano de 2010 pela Madras editora.

Magia. Esta palavra conhecida por todos que costuma gerar reações no mínimo ambíguas quando proferida. Sinônimo de prestidigitação, truque e enganação para alguns, e de poder e fascínio  para tantos outros, são estes últimos aqueles que costumam tomá-la com o devido respeito que a mesma merece. Respeito esse que nada tem a ver com uma visão supersticiosa - quando devidamente compreendida –, mas que se relaciona a certeza de que através dela, o bruxo ou magista tem a capacidade de alterar, modificar e transformar aquilo que deseja.

A magia, quando vista sob este viés, nem mesmo precisa ser acreditada como uma manifestação espiritual, visto que em tempos modernos muitos são aqueles que atribuem à mesma um caráter puramente psicológico, embora isso também não signifique que através de seu toque indivíduos possam alcançar as escadas da autoconsciência, e consequentemente do sucesso, ou da completa loucura, e a derrota absoluta. Um caminho de mão dupla? No mínimo.

Já em sua introdução, o autor salienta que embora sejam muitos aqueles que se erguem em pleno século XXI demonstrando interesse por estes conhecimentos malditos, coragem, responsabilidade e autocontrole são essenciais para descer as escadas da escuridão.

Muitos são os livros que tratam o tema sob seu aspecto filosófico e teórico. Mas este não é o caso aqui. Em Templo de Ahndrus, Coppini nos apresenta um livro introdutório, pensado para os iniciantes que não apenas tem interesse pela parte prática da magia, mas especificamente por seu lado esquerdo, o lado obscuro desta Arte, o caminho da Magia Negra. 

Renascer é o objetivo de qualquer prática magística, quebrar os grilhões, rasgar véus de séculos de imposições religiosas e proporcionar 'vida' aos desejos. O homem é o dono do seu destino, guardião da sua eternidade e manipulador das Leis da Natureza (visto que são imutáveis). A Arte Negra é a liberdade de manipular, jogar, prorrogar e vencer todos os obstáculos cotidianos. Somos, antes de tudo, buscadores da liberdade na dança das reencarnações.  pg.11

Dividido em três partes, Templo de Ahndrus começa tratando das Armas e materiais a serem usados dentro das cerimônias mágicas. As condições ideais para as consagrações e o modus operandi são apresentados antes de cada um dos elementos. Tabelas de correspondências, listas de ervas, e o uso do athame, bastão, espada, espelho, taça, sino, óleos e pantáculo, dentre diversos outros itens e elementos tradicionais da Magia Cerimonial.

Em sua segunda parte, destinada aos feitiços, o autor salienta que feitiços são ações mágicas direcionadas a objetivos específicos, frutos de desejos pessoais e praticados para o cumprimento dos mesmos. Aqui não existe certo ou errado, e pecado, sem dúvidas, são os outros. Ideias como "Lei do Retorno", "Tríplice" ou similares são conceitos vulgares, e segundo sua concepção, as Artes Negras estão acima disso. A regra é a própria consciência individual. Se você está em paz com seu intento, não há o que temer. A união do seu desejo ao feitiço são provas da sua pureza de intenção, sendo assim, o resultado esperado é simplesmente justo. Com o auxílio da Lua, e suas posições no céu, o momento mais propício para esta ou aquela forma de magia é indicado. Os tipos dividem-se em feitiços para atração, dinheiro, sedução, dominação, amarração, poder, dentre outros.

Por fim, Danilo nos apresenta capítulos destinados a tratar da importância dos números dentro da tradição mágica, e a necessidade de conhecer bem seus significados. Ensina a maneira de produzir círculos mágicos, destacando sua importante função de proteção e projeção das energias que se opera, circundando o magista com os nomes de Lúcifer, Satã, Leviatã e Belial. E finaliza tratando dos Reis e Rainhas da Mão Esquerda, sua descrição, refeições e bebidas preferidas de Abadoon, Beelzebuth, Hecate, Leviatã, Lilith, Mammon, dentre outros.

Este livro cumpre aquilo que promete: é introdutório e essencialmente prático. Possui uma linha de pensamento própria, embora todos os elementos tradicionais sejam encontrados em sua estrutura. Destina-se aqueles que buscam o caminho da magia negra, embora isso não necessariamente represente sempre fazer o mal para outrem. Especialmente se levarmos em consideração que aquilo que é mal para uns, pode ser bem para outros...

por Allan Trindade


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sábado, 4 de abril de 2020


" Como caíste desde o céu, ó Lúcifer, filho da alva! Como foste cortado por terra, tu que debilitavas as nações. " 
Isaías 14:12


" Eu, Jesus, enviei o meu anjo para dar a vocês este testemunho concernente às igrejas. Eu sou a Raiz e o Descendente de Davi, e o resplandecente Lúcifer. " Apocalipse 22:16

ANJOS CAÍDOS é um livro escrito por Harold Bloom, com 83 páginas e foi publicado no ano de 2008 pela editora Objetiva.

Sim, talvez você tenha se impressionado com as passagens acima, especialmente no ponto onde Jesus afirma ser Lúcifer. A bem da verdade eu manipulei o texto. A fonte original se refere em Isaías a Lúcifer, mas em Apocalipse como estrela da manhã. O que eu fiz não é novidade e em outros lugares você poderá encontrar o termo lúcifer também sendo substituído por sua forma traduzida mais adequada, ou seja, estrela da manhã. E se procurar além das traduções verá que existem diversas teorias que especulam sobre lúcifer ter sido um rei déspota daqui, um príncipe de acolá, ou um planeta de outrora.  E por que tantas fontes usam tantas traduções diferentes, ou dão sentidos diversos para uma mesma sentença? Teologia!

 A  interferência teológica dentro das traduções causa este tipo de fenômeno e confunde as mentes daqueles menos entendidos do assunto. Estrela da manhã é apenas a tradução para a palavra lúcifer. Uma expressão filosófica para alguns. Um nome próprio para outros. Para aqueles que consideram lúcifer como estrela da manhã, em outras palavras, como sendo apenas uma alegoria poética para aquele que traz a luz, na maior parte do tempo serão justos em considerar que todas as vezes que esta palavra aparecer na Bíblia, deverá ser traduzida como tal. 

Porém, para aqueles tantos outros que creem que lúcifer seja na verdade um nome próprio, uma pessoa em si, ou ainda o próprio anjo caído, bem...estes provavelmente considerarão Lúcifer em Isaías mas certamente não considerarão Lúcifer como sendo Jesus no Apocalipse. Dois pesos e duas medidas? Provável que sim...

...

Harold Bloom abre sua obra destacando um fato: há no mínimo três mil anos somos apresentados a imagens e conceitos de anjos, oriundos das três principais religiões abraâmicas dominantes do mundo ocidental, e em tempos modernos, pela grande explosão do tema através de místicas alternativas que desde a década de 90 preenchem as estantes de livrarias e locadoras (quando estas ainda existiam) com os mais variados tipos de livros, kits e filmes sobre o tema. Cremos não ser exagero afirmar que não há pessoa viva nestas terras que não tenha ouvido falar nestes divinos seres alados. 

Diferentemente de seus parentes menores, os demônios, que possuem um caráter mais universal, sendo encontrados em praticamente todas as culturas ao redor do mundo, segundo o autor, os anjos parecem ter uma relação específica com aquelas origens zoroatristas, judaicas e consequentemente cristãs e islâmicas. Sempre dotados de funções divinas e por vezes rebeldes, estes seres são únicos por terem uma relação estranhamente próxima a nossa, não apenas em seu sentido pseudo histórico - vide os diversos relatos de contatos e relações encontráveis nestes textos sagrados-, mas também comportamental, sendo dotados de paixões e vontades, embora na maior parte do tempo exerçam a função de servir. 

Seria a atração dos anjos por nós e nossa por eles mero acaso?

Bloom destaca o fato de seres humanos não terem o mesmo apreço pelos demônios que possuem pelos anjos, sendo estes vistos com certo glamour mesmo quando são diabólicos. O que dizer de frases como " ...você caiu do céu, um anjo lindo que apareceu, com olhos de cristal, me enfeitiçou eu nunca vi nada igual...",  apenas para citar um dentre vários casos de poemas e canções que tornam a queda destes seres interessantes ou atraentes para nós. A razão para isso? 

Segundo Harold, anjos caídos foram portadores de algo que tem o potencial de ser reavido, pois este algo é parte intrínseca de sua própria natureza. Sendo assim, toda esta atração por anjos, sendo eles caídos ou não, talvez represente um apelo íntimo e desconhecido residente dentro de cada um de nós. Uma verdade oculta em nossa próprio ser, que se manifesta através deste estranho interesse, ansiando por manifestar-se. Algo que também temos mas não sabemos. Um segredo sobre aquilo que nós somos.  A possibilidade de nós sermos anjos caídos buscando reconciliação com nossos iguais. 

Para justificar toda esta senda por comunicação ou reconciliação, que destaca, existe desde o paganismo,  como visto nos textos de Apuleio e sua fala sobre o daemon de Sócrates, passando por Santo Agostinho e seu entendimento de como seria a vida dos anjos antes do Éden, segundo o autor, são estes os seres, e não os diabos,  que independentemente do nome ou forma que lhes sejam atribuídas, sempre estiveram no imaginário e ânsias humanas em busca do Divino. E se levarmos em consideração a etimologia da palavra, angelus, mensageiros, e portanto, intermediários, talvez essa teoria nem parece tão absurda. 

O autor disserta sobre outros temas correlacionados, como do conceito judaico sobre satã e seu entendimento amorfo, muito mais ligado a qualquer ideia ou elemento de oposição, que propriamente tratando de um ser como um diabo espiritual ou demônio sedento por maldade, considerando que esta percepção deturpada fora propagada principalmente pelo já mencionado Santo Agostinho em sua obra A Cidade de Deus. A ideia por trás do conceito reside sobre o argumento de que mesmo que os demônios tenham sua função no imaginário humano, são os anjos que desempenham os papéis mais importantes.

Anjos caídos é um livro interessante a sua maneira. Divaga, vai e volta nos temas sem muito compromisso com uma formalidade textual. Lança assuntos e ideias e deste modo exige um certo nível de conhecimento geral sobre o que trata. É curto mas levemente profundo, cheio de referências a textos e autores clássicos da literatura, como Shakespeare, John Milton, Mary Shelley, dentre outros. Tem uma proposta interessante sobre qual seja a real identidade humana e é preenchido com belas ilustrações de Liberati.

Não crie grandes expectativas. Não é indispensável. Mas até vale um tanto.


por Allan Trindade

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