Se tivéssemos de classificar uma Ordem de primeira importância dentro do
esoterismo ocidental quando o assunto é magia, esta certamente seria a Golden Dawn. Fundada em 1888 por
três maçons saídos da Societas
Rosacruciana in Anglia, a Ordem Hermética da Aurora Dourada destacou-se
dentre os meios ocultistas de sua época, como uma das Ordens Mágicas mais
importantes, surgidas após muitos séculos de obscurantismo e ignorância.
De completos anônimos a celebridades, de 'santos a bestas', a Ordem reuniu
em suas fileiras gente de todas as estirpes, de todos os anseios... Num mundo
onde a ciência finalmente respirava os novos ares do progresso, onde a religião
era finalmente posta em seu devido lugar de coadjuvante descartável para a história humana vindoura, as expectativas de um novo século traziam consigo as
esperanças de um novo misticismo.
Muitas foram as Ordens criadas, muitas foram as lendas inventadas,
muitas foram as histórias contadas, mas pouquíssimos foram os nomes
imortalizados. E foi nesse furacão de novas promessas que surgiram aqueles
que seriam os precursores de uma nova era do conhecimento oculto. Aqueles que
seriam legitimados como organizadores de um conjunto de sistemas esotéricos,
que tinham por objetivo conhecer o passado, alterar o estado do presente, ou as
tendências do futuro, de acordo com suas próprias vontades.
Magia! Se as pessoas temiam tanto esta palavra, a ponto de mandar outras
para serem queimadas vivas em fogueiras, talvez fosse esta a solução para os
problemas que a vida podia oferecer. Porém, para evitar que tais ensinamentos
fossem utilizados de forma desmedida e irresponsável, era preciso que todo
conhecimento fosse organizado de forma sistemática, e processado de forma
gradativa, para que cada adepto, a seu próprio tempo, tivesse então a chance de
compreender a profundidade dos conceitos expostos.
Tanta liberdade, tantas expectativas, e tanto poder foram como um “Big Bang” que
explodiu criando através de si um
universo de novas realidades. Porém, tal qual um reflexo natural do nosso mundo,
assim o é com a Golden Dawn: uma Ordem de objetos visíveis e invisíveis.
Sobre os visíveis, Israel Regardie nos deixou um ótimo legado...sobre os
invisíveis, R. A. Gilbert nos abrilhanta com mais uma de suas obras.
O FEITICEIRO E SEU APRENDIZ é uma antologia organizada por
R. A. Gilbert, publicado pela Editora Pensamento, com 225 páginas. O título é
sugestivo, transfere a ideia da organização de seu conteúdo. Dividido em duas
partes, cada capítulo é completo em si, e não possui qualquer conexão com a monografia
anterior, ou sucedente. Isso porque, tal qual sugere seu subtítulo
"Escritos Herméticos Desconhecidos", o livro reúne diversos textos esparsos,
de diferentes idades e origens, que até o presente momento eram desconhecidos
do público em geral, por nunca terem sido previamente publicados.
Samuel Lidel Matthers ocupa seu primeiro capítulo, trazendo a público
comentários sobre Cabala, Qliphot, análises bíblicas, opiniões sobre a origem e
complexas tiragens do Tarô, etc ...sem grandes introduções ou dissertações, mas
que funcionam bem para a necessidade de uma consulta rápida. Sua participação é
curta, e é fato que, fosse só por isso, o livro não valeria tanto
investimento. Porém, a importância da obra encontra-se em seu segundo capítulo.
Seu autor, J. W. Brodie-Innes apresenta-se como um pesquisador de qualidade
rara dentre o contexto ocultista. Diz ele:
"Defendo o ponto de vista de meu velho amigo de infância, Charles
Darwin, de que o dever de um investigador honesto é registrar imparcialmente
todos os fatos que puder apurar e, depois, declarar com clareza as deduções que
deles extraiu, deixando os leitores à vontade, para aceitar ou rejeitar suas
teorias, mas estando certo de lhes haver relatado todos os fatos de que tem
conhecimento."
Tal introdução é mais que confortante para um mundo onde o achismo
impera sobre o saudoso senso crítico. Seus capítulos resumem-se, em sua maioria,
a relatos de experiências vividas pelo autor em suas diversas buscas
investigativas sobre os mistérios do oculto. Mediunidade, Mitologia, Tarô,
Khemetismo, Astrologia, Bruxaria são alguns dos temas abordados. Innes é
imparcial, expõe suas vivências de modo claro, objetivo, sem proselitismo ou
tendencionismos infundados, mas com o bom senso e a clareza sincera de quem
apenas deseja saber e compartilhar. Bastava que tal antologia trouxesse os
escritos de Brodie-Innes e esta já valeria o investimento.
Comparativamente falando, nos parece estranho que Gilbert sugira que o
Feiticeiro seja Mathers e o Aprendiz seja Innes. Mathers será para sempre
lembrado na história como um dos homens que fundou uma das Ordens Mágicas mais
importantes da história da humanidade, mas é fato que, como Aprendiz, John
Willian Brodie-Innes era um ótimo mestre!
por Allan Trindade
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