Nem sempre o Tarô foi o que ele é nos dias de hoje. Com um curioso
histórico que mistura mito e realidade, este conjunto de 78 cartas, carrega em
si algumas centenas de anos de sabedoria, crença e superstição. Não são poucos
os autores que tentam atribuir-lhe uma origem mítica, milenar e divina, mas
hoje, graças à dedicação de pesquisadores sérios e avanço da ciência, é
possível afirmar que o Tarô seja um jovem senhor que ainda nem alcançou seus
mil anos de existência.
“Mitos e Tarôs – A Viagem do Mago” é um livro escrito por Dicta e
Françoise, com 192 páginas, publicado pela Editora Pensamento. Após uma curta
introdução ao tema, e um estranho capítulo que trata sobre cabala - que não
parece ter a menor relevância para o contexto geral do livro – a intenção das
autoras se faz clara: relacionar os 22 arcanos maiores do Tarô a mitologias de
diferentes religiões existentes ao redor do mundo. A proposta é ousada, e
concebe que há uma similaridade tamanha entre os Arcanos e determinados mitos, que
estes são associáveis e de certa maneira, podem ser o fundamento da origem
daquela carta.
A introdução a cada capítulo, que é também a justificativa para relação
feita, em geral, não ultrapassa o número de dois parágrafos. O primeiro deles,
o Arcano I, por exemplo, é associado ao mito de Orfeu, justificado como tendo
sido este de maneira igual, um mago. E isso é tudo! Todo o restante do capítulo
segue tratando exclusivamente do mito em questão, ignorando a premissa inicial
em correlacionar verdadeiramente os elementos encontrados no Arcano, com o
personagem exposto.
A proposta do livro em unir mitologias aos Atos não se sustenta, vide a
falta de elementos históricos e gráficos, que de fato, façam sentido para um
sincretismo de conceitos tão distintos. O Tarô, em sua proposta inicial, não
tem por objetivo ter suas lâminas engessadas a pensamentos filosóficos outros
que não aqueles que ele próprio possa fornecer. Veja que um mito, uma história
mitológica, possui uma estrutura muito própria, associada à cultura, crenças e
perspectivas de um determinado povo. O Tarô se cria de forma independente a estes
elementos básicos, e, portanto, tal associação soa como tendenciosa e sem
sentido. Lembremos que desde a sua criação até os dias de hoje, o Tarô foi e é
usado também como jogo lúdico, sem qualquer apelo místico ou esotérico.
Como dito anteriormente, a formatação a qual concebemos o Tarô
atualmente, é recente. Nem sempre este conjunto de Arcanos possuiu 78 cartas ou
teve em sua estrutura os mesmos elementos simbólicos que são representados nos
dias de hoje. Portanto, a insinuação de que sua origem tenha sido formatada em
algum ponto específico da história, ou em outras palavras, que cada carta tenha
sido posta ali de maneira pensada, em um momento único por autores
contemporâneos, e não como uma consequência natural de diferentes percepções em
diferentes momentos, mais uma vez, não encontra fundamento em um argumento
verdadeiramente científico, por assim dizer.
O livro é falho, incompleto e dispensável. Mitos e Tarôs seria melhor
descrito como “Mitos e uma pitada de Tarô – A viagem das autoras”.
por Allan Trindade
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