segunda-feira, 1 de junho de 2015

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Nem sempre o Tarô foi o que ele é nos dias de hoje. Com um curioso histórico que mistura mito e realidade, este conjunto de 78 cartas, carrega em si algumas centenas de anos de sabedoria, crença e superstição. Não são poucos os autores que tentam atribuir-lhe uma origem mítica, milenar e divina, mas hoje, graças à dedicação de pesquisadores sérios e avanço da ciência, é possível afirmar que o Tarô seja um jovem senhor que ainda nem alcançou seus mil anos de existência.

“Mitos e Tarôs – A Viagem do Mago” é um livro escrito por Dicta e Françoise, com 192 páginas, publicado pela Editora Pensamento. Após uma curta introdução ao tema, e um estranho capítulo que trata sobre cabala - que não parece ter a menor relevância para o contexto geral do livro – a intenção das autoras se faz clara: relacionar os 22 arcanos maiores do Tarô a mitologias de diferentes religiões existentes ao redor do mundo. A proposta é ousada, e concebe que há uma similaridade tamanha entre os Arcanos e determinados mitos, que estes são associáveis e de certa maneira, podem ser o fundamento da origem daquela carta.

A introdução a cada capítulo, que é também a justificativa para relação feita, em geral, não ultrapassa o número de dois parágrafos. O primeiro deles, o Arcano I, por exemplo, é associado ao mito de Orfeu, justificado como tendo sido este de maneira igual, um mago. E isso é tudo! Todo o restante do capítulo segue tratando exclusivamente do mito em questão, ignorando a premissa inicial em correlacionar verdadeiramente os elementos encontrados no Arcano, com o personagem exposto.

A proposta do livro em unir mitologias aos Atos não se sustenta, vide a falta de elementos históricos e gráficos, que de fato, façam sentido para um sincretismo de conceitos tão distintos. O Tarô, em sua proposta inicial, não tem por objetivo ter suas lâminas engessadas a pensamentos filosóficos outros que não aqueles que ele próprio possa fornecer. Veja que um mito, uma história mitológica, possui uma estrutura muito própria, associada à cultura, crenças e perspectivas de um determinado povo. O Tarô se cria de forma independente a estes elementos básicos, e, portanto, tal associação soa como tendenciosa e sem sentido. Lembremos que desde a sua criação até os dias de hoje, o Tarô foi e é usado também como jogo lúdico, sem qualquer apelo místico ou esotérico.

Como dito anteriormente, a formatação a qual concebemos o Tarô atualmente, é recente. Nem sempre este conjunto de Arcanos possuiu 78 cartas ou teve em sua estrutura os mesmos elementos simbólicos que são representados nos dias de hoje. Portanto, a insinuação de que sua origem tenha sido formatada em algum ponto específico da história, ou em outras palavras, que cada carta tenha sido posta ali de maneira pensada, em um momento único por autores contemporâneos, e não como uma consequência natural de diferentes percepções em diferentes momentos, mais uma vez, não encontra fundamento em um argumento verdadeiramente científico, por assim dizer.

O livro é falho, incompleto e dispensável. Mitos e Tarôs seria melhor descrito como “Mitos e uma pitada de Tarô – A viagem das autoras”.


por Allan Trindade


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