Iniciar a leitura de "O Mundo Esotérico de Madame
Blavatsky" foi uma experiência curiosa, por ver como alguns me observavam - quando dentro de algum transporte público - com este título na mão. As reações
se deram por diferentes tipos de pessoas, que dentre olhares de curiosidade, e
alguns pequenos sinais corporais, se destacaram até o ponto de uma abordagem
direta.
A primeira delas foi um homem, que já há algumas estações do metrô me
olhava impaciente, como que na intenção de me falar algo ou puxar algum
assunto. Não deu tempo, mas ao passar por ele para sair do vagão, subitamente
pegou no meu braço e disse: "Blavatsky?! Muito bom!", com um sorriso
meio desconcertado, ao que respondi também sorrindo de forma simpática, mas já
de saída.
O outro, num outro dia, entrou no vagão distribuindo algum tipo de
livreto. Ao chegar a minha frente, olhou para a capa do livro e disse: "-
Ah Blavatsky? Estou estudando sobre ela na faculdade!"...trocamos algumas
frases até que ele me entregou o tal livreto, que era na verdade um pequeno
fanzine de poesia, que vendia ao preço que quem quisesse pagar, mas que
curiosamente tinha um “Sigilo Mágico” na capa. E por isso perguntei:
"Você estuda magia ou esoterismo?"
"Não, não...só faço poesia mesmo..."
"Então quem fez este Sigilo pra você?"
"Sigilo? (perguntou sem entender) Este desenho? Eu mesmo que fiz, na
verdade juntei vários símbolos e transformei eles num só, tem um significado,
mas é meio longo para explicar..."
Eu, após dar um sorriso de satisfação por saber como curiosamente as coisas
muitas vezes acontecem, disse: "Não precisa explicar, perguntei só por
curiosidade mesmo...boa sorte!"
Já o terceiro, estava do outro lado da estação, era um senhor, que lia uma
edição do Kabbalah Revelada de Knorr von Rosenroth publicado pela Madras
Editora. Se achegou para comentar sobre Blavatsky, se apresentar como Maçom, e
dizer que achava muito importante que mais pessoas - e principalmente os jovens
- tivessem interesse pelos escritos dela.
Mas, apesar das manifestações dos citados, o livro não é um livro de
Helena Petrovna Blavatsky e sim sobre ela, esta figura que tanto povoou a fala
e os ouvidos de tanta gente ao redor do mundo no século XIX - e me parece que
até o século XXI...
A edição é uma coletânea de relatos reunidos por Daniel Caldwell e traz
em seu conteúdo os argumentos contra, mas principalmente, a favor da defesa de
Blavatsky como uma legítima Iniciada e detentora de certos dons especiais. Com
um desenvolvimento um pouco maçante e repetitivo, o livro traz de maneira mais
ou menos cronológica, através de diferentes relatos de diferentes pessoas, que,
de uma maneira ou outra, tiveram a oportunidade de viver ou se relacionar com a
madame - incluindo-se nestas, figuras de destaque da Sociedade Teosófica, tais
como Coronel Olcott, Annie Besant e Leadbeater - a biografia de uma das
mulheres que é uma das figuras mais significativas para o esoterismo ocidental.
Com 352 páginas, o livro pode ser um banho de água fria (do Ganges)
sobre a fronte daqueles que se prendem demais aos aspectos humanos – e quem
sabe mundanos – dos que por vezes são aclamados como mestres por aqueles de
alma menos investigativa. Porém, a exemplo destes últimos, o livro é também um
convite e nos instiga a querer entender como uma figura tão controversa, tão
envolta em escândalos de supostas falcatruas e charlatanismo, possa ter sido
mestra e criadora de uma Sociedade que influenciou e influencia, através de
seus ensinamentos orientais, mentes das mais simples as mais sagazes, até os
dias de hoje...
por Allan Trindade
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