segunda-feira, 20 de abril de 2015

Não se iluda: ser escritor, pertencer a Sociedades Secretas ou até mesmo ser um dos nomes mais destacados do esoterismo ocidental, não torna ninguém isento de falhas e erros. Se considerarmos que pela história esta parece ser uma regra, Papus, certamente, não é uma exceção!

Mas antes de continuarmos, entenda uma coisa: Esoterismo não é religião! Esoterismo é o conjunto de conhecimentos Tradicionais, e em muitos aspectos Ocultos, que dão base para a formação daquilo que vulgarmente se chama religião, ao que nós comumente nos referimos como Exoterismo.

O ABC DO OCULTISMO, publicado pela editora Martins Fontes, e escrito por um dos ocultistas mais famosos do século XX, Papus, é uma decepção em muitos momentos. Com um total de 345 páginas, a intenção do autor em escrever uma obra que seja uma espécie de introdução ao ocultismo, nos parece em princípio, bastante válida, e tenta resumir em capítulos distintos temas base para uma continuidade de estudos a posteriori do assunto em questão.

Lotada de referências externas a escritores modernos e antigos, em especial Alexandre Saint-Yves d'Alveydre - o criador do Arqueômetro -, além de todo um belo conjunto de imagens que ilustram suas explicações, a primeira vista, o livro pode soar como obrigatório a qualquer um que se pretenda ser ocultista algum dia. E de fato, por ser um escritor clássico, citado em qualquer conversa trivial sobre o esoterismo, há de se ter o mínimo de conhecimento sobre as ideias que o autor expressara em vida, para se ter o mínimo de noção opinativa.

Entretanto, antiguidade não é desculpa para falta de bom senso. O livro é péssimo em seu princípio, completo de referências a dados pseudo científicos (ou em outras palavras, e até em certos momentos, mitológicos), além de afirmações convictas sobre a existência de "realidades" que carecem do mínimo fundamento factual. Dentre estes absurdos, afirma categoricamente que Atlântida existiu[pg.3], nos fornece um mapa sobre sua localização[pg.4 e 5] e ainda se propõe a indicar os locais de migração "dos povos que lá viveram" para o resto do mundo. Porém, talvez o maior de todos os disparates esteja mesmo na página 117: " ... As erupções vulcânicas são produzidas por curto-circuitos da eletricidade vital terrestre, e o centro da Terra é habitado por seres de forma humana, mas com brânquias. ..."

Não obstante, abusa do neologismo até não poder mais...e mesmo assim vai além, e entope o leitor com extensa nomenclatura pseudo rebuscada, que se pretende diferenciar nuances encontradas dentro de sistemas e filosofias, que por mais que possam fazer sentido para um estudante mais avançado, são absolutamente descartáveis e desnecessárias para o buscador iniciante. Neste sentido, Papus mais parece uma espécie de Omar Khayyam - não o original, mas o charlatão brasileiro - com seu extenso conhecimento geral, que como um prestidigitador, desvia a atenção do público com diversos movimentos desnecessários para por fim, exibir seu grande truque...

Alguns de seus capítulos parecem compensar as baboseiras expostas em seu princípio. Fornece reflexões interessantes sobre Magia e até mesmo toma partido e comenta sobre o quanto alguns, moldados e condicionados pelos preconceitos da crença dominante, excluem de seu contexto esta palavra, mesmo que, sob nomenclatura diversa, lhe sejam adeptos. Traz ainda abordagens simples sobre os temas: Maçonaria, Egito, Alquimia, Astrologia etc...simples não por carecerem de coerência ou faltarem em qualidade, mas por terem a proposta única de serem uma introdução ao tema.  Veja que ainda assim, não estamos concordando com todas as afirmativas expressadas pelo autor, mas em alguns aspectos, podemos dizer que ainda há aquilo que se possa aproveitar.

O livro contém um ensinamento oculto, indireto por assim dizer. Nos leva a compreender sobre aquela necessidade clássica; é preciso saber separar o joio do trigo...ou, de forma mais direta e menos elegante; aquilo que presta, do resto!

Eu sinceramente espero que os absurdos encontrados neste título não sejam um reflexo geral de toda a imagem de tão aclamado ocultista, para que, quem sabe, possa afirmar doravante, que a primeira impressão não é a que fica...


por Allan Trindade

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