- Eles se recusam a lhes prestar as devidas honrarias, senhor!
- Não se preocupe com eles, são loucos que cultuam um deus que não podem ver.
COSMOLOGIA EGÍPCIA é um livro escrito por Moustafa Gadalla, com 173 páginas, divididas em 30 capítulos e publicado no ano de 2003 pela Madras editora.
O povo mais supersticioso da história. Assim costumam definir alguns quando pretendem falar sobre o Egito antigo. Uma adjetivação no mínimo infeliz, diga-se de passagem. Infeliz pois ignora a forma como aqueles homens e mulheres do passado enxergavam a vida e o universo a sua volta: sempre como manifestações do divino. O sol que queimava era também aquele que trazia a luz e rompia o medo das trevas. O rio que inundava era também aquele que tornava o solo fértil e garantia a boa colheita. O escaravelho que com dificuldade rolava seus dejetos pelas areias escaldantes do deserto, fazia deles nascer sua prole e provava que até mesmo da matéria mais rejeitada era possível surgir vida. O faraó embora humano era ao mesmo tempo um deus. Cada elemento. Cada detalhe. Cada aspecto da vida - e da morte - encontrava sua correspondência com o aqui e o porvir, com o material e o espiritual. Não há nada de supersticioso nisso. Há de pragmático. Para o egípcio antigo o divino se apresenta na prática, e não na especulação daquilo que pode ser. E segundo Moustafa Gadalla, entender isso é o mínimo necessário para aqueles que se pretendam aventurar pela cosmologia egípcia.
Segundo o autor, Heródoto classificou os egípcios como os mais saudáveis, alegres e religiosos do mundo. E isso porque justamente encontravam na vida sempre uma forma de estar em contato com o divino, que era entendido como único, embora seus atributos fossem classificados sob outros nomes e formas, denominados erroneamente de deuses, mas melhor definidos como neteru. A não compreensão disto teria feito com que Akhenaton tentasse eliminar as diversas formas com o que o Divino era então representado.
Levando em consideração a correlação que aqueles povos estabeleciam com o espiritual e o material, os mitos tinham não apenas uma intenção moral, de instruir ideologicamente o povo, mas também científica, já que através dos símbolos era possível entender como o mundo se formara e a própria civilização humana. Segundo Gadalla, foi a ignorância de povos como dos judeus, cristãos e muçulmanos que os levaram a desconsiderar tais conhecimentos e tratá-los sob viés de literalidade, visto que estes tipos abraâmicos absorveram parte da cultura e conhecimento egípcio, porém, mal. Entretanto, Pitágoras teria sido um resultado positivo deste contato.
E por falar neste filósofo, tão celebrado por seus cálculos, números compõem uma grande parte desta publicação. Os mitos da criação apresentados aqui como Nun, sendo o caos primordial: Maat, a ordem; Amen, a força oculta. Estes então dão origem a Atum e toda variedade de aspectos do Divino que se unem não apenas nas histórias, mas também através das somas matemáticas e suas atribuições místicas, a exemplo de Ausar, representado pelo número 3 que se une a Auset, representada pelo número 2, que dão origem ao 5, Heru. Tal como a citação de Plutarco em sua Moralia, vol. V.:
Três (Osíris) é o primeiro número ímpar perfeito; quatro é um quadrado, cujo lado é o número par dois (Ísis), porém, de certa forma, o cinco (Hórus) é como seu pai e de outra forma, sua mãe, pois é feito de dois e três. E panta (tudo) é derivado de pente (cinco) e falam em contar numerando de cinco em cinco.
pg. 49
Há uma insistência na descrição do autor em dizer que os Baladi são herdeiros daqueles egípcios da antiguidade, e que muitas das ideias entendidas por ele, são verificáveis neste povo que ainda carrega muito daquela antiga tradição. O mesmo pode-se dizer do conceito animista por trás de toda esta conjuntura, que estabelece que a matéria, conforme comumente a concebemos, assim o é apenas por uma convenção ideológica visto que tudo no universo é energia. Sendo assim, o que diferencia o físico do espírito é apenas a velocidade com que as moléculas vibram; quanto mais lenta, mais material, quanto mais rápida, mais espiritual.
Os antigos egípcios e os Baladi não faziam/fazem distinção entre um ser em estado metafísico e um ser com corpo material. Esta diferença é uma ilusão mental, pois existimos em diversos níveis simultaneamente, do mais físico ao mais metafísico. Einstein concordava com esses mesmos princípios...claramente mostrada na Estela de Shabaka (século VIII a.e.c)
Então os neteru (deuses) entraram em seus corpos, através de todos os tipos de madeira, mineral, argila, todas as coisas que crescem nele (terra).
pg. 60
E se os aspectos individuais dos seres eram importantes, a forma como estes seres se relacionavam também o era, por isso a organização social era tão fortemente pensada, a ascendência matriarcal tendo mais importância que a patriarcal, as profissões - geralmente passadas de pai para filho -, o faraó com sua função sacerdotal de garantir boas colheitas iniciando o plantio e praticando os rituais diários de conexão com os deuses, sendo ele próprio considerado uma divindade em si, e o templo, entendido não como um local de adoração pública, mas uma morada terrena de emanação de poder do deus para o povo. O livro se encerra tratando das mudanças de eras zodiacais, a função do homem nesta existência e sobre as mudanças futuras a qual todo universo está submetido.
Esta é uma publicação leve e fluida. Mais preocupada com a ideia geral da cosmovisão egípcia do que se aprofundar em todos os detalhes. O autor faz uma série de críticas sutis e - por vezes - nas entrelinhas, ao dizer que muitos dos pensamentos que temos hoje e consideramos serem gregos, são na verdade egípcios. É uma fonte introdutória para um assunto que, sem dúvidas, exigiria que morrêssemos, voltássemos no tempo e ressuscitássemos para tentar entendê-lo em sua totalidade.
por Allan Trindade
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