domingo, 4 de novembro de 2018


Exótico. Eis uma palavra bastante conhecida e que quando usada pela maioria das pessoas, tende a expressar muito mais um sentimento que uma definição fria. Este vocábulo costuma ser evocado quando de alguma maneira sentimos que o objeto a qual nos deparamos desperta em nós uma estranheza tal, que ficamos sem saber o que exatamente dizer daquilo, uma indecisão estranha que nos deixa em cima do muro para definir se gostamos ou não, se achamos bonito ou feio, se queremos apenas olhar ou tocar, mas que indiscutivelmente nos atrai e chama a atenção. 

Segundo descrições comuns, exótico é um adjetivo a qual se atribui aquilo que não é originário do país em que ocorre, que é estrangeiro, ou ainda, que é esquisito, excêntrico, extravagante. É fato que poderíamos concordar ipsis litteris com estes termos, mas caso seja este o caso, faríamos apenas um acréscimo a esta definição: de que exótica é também, e sem dúvidas, a mitologia nórdica.




MITOLOGIA NÓRDICA é um livro escrito por Neil Gaiman, com 286 páginas, divididas em 16 capítulos e publicado no ano de 2017 pela editora Intrínseca.


Embora este seja nosso entendimento, parece que Neil Gaiman não concordaria de todo com esta opinião, já que para ele, embora seja difícil escolher uma dentre as várias mitologias, esta é sua favorita.  

Saídos do norte da Europa e descendo para o sul junto com suas campanhas de guerra e busca por novas terras para morar, aqueles antigos homens e mulheres conhecidos popularmente como vikings, trouxeram consigo sua ciência, língua, cultura, religião e seus deuses, de modo que de tão impressivos, perpetuaram-se também através dos nomes dados aos dias da semana encontrados na língua inglesa, tais como: Tyr/Tuesday (terça-feira), Odin/Wednesday (quarta-feira), Thor/Thursday (quinta-feira) e Frigga/Friday (sexta-feira). Divididos em dois grupos distintos conhecidos como Vanir,  deuses relacionados a natureza e menos belicosos, opostos aos Aesir, aqueles de comportamento notadamente mais aguerrido, é de todo este contexto que surge também a influência para as histórias em quadrinhos e filmes de super heróis que tratam das aventuras de Thor e seus relacionados. Entretanto, embora este e muitos outros livros sobre esta conjuntura tenham sido escritos, Gaiman nos salienta que muito pouco sobrou da tradição oral dos mitos, visto que só começaram a ser registrados quando o Cristianismo já era a religião dominante.


Aqui os protagonistas das histórias costumam ser sempre o já citado Thor, Odin e seu irmão, Loki. Odin, o principal dentre todos os deuses, tem diversos nomes. Viaja pelo mundo querendo conhecer a realidade das pessoas e vive acompanhado de dois corvos: Hugin (pensamento) e Munin (memória). Contempla todo o universo de seu trono, Hlidskjalf e trouxe a guerra para o mundo. Thor forja trovões, é ruivo, não muito inteligente, mas o mais forte dos deuses. Simpático e franco, usa um cinturão, Megingjord para duplicar sua força. Sua arma é um martelo, Mjölnir. Ele é filho de Jürd, deusa da terra e tem três filhos com Sif. Thor defende Asgard e Midgard. Loki encanta por sua beleza, é sensato, convincente e diferentemente de seu sobrinho, é astuto e inteligente. Mas seu interior é cheio de ódio. Filho de Laufey com Farbaut, é irmão por jura de sangue de Odin. Dentre e acima de todos está a Yggdrasil, a mais bela e frondosa de todas as árvores. Yggdrasil cresce através dos nove mundos, finca suas raízes em três deles e se eleva acima acima dos céus. Foi nela que Odin se sacrificou para obter o conhecimento de tudo através das Runas.

Os nove mundos são: Asgard, lar dos Aesir; Álfheim, lar dos elfos da luz; Nídavellir, lar dos elfos negros; Midgard, o mundo dos homens; Jötunheim, morada dos gigantes; Vanaheim, casa dos Vanir; Niflheim, o mundo escuro e finalmente Muspell, o mundo das chamas. Há ainda um mundo extra, que carrega o nome de sua governante, Hel, o local para onde os mortos que não tiveram uma passagem honrada em batalha vão. Dados estes entendimentos básicos sobre toda a cosmogonia nórdica, e até mesmo sua gênesis, não citada nesta resenha por nós vide sua complexidade e exotismo, que pode, se exposta em poucas palavras, mais confundir que informar o leitor, mas que é devidamente tratada pelo autor em capítulo exclusivo dedicado a esta função, dá-se início aos diversos contos. Embora organizados aqui de forma mais ou menos progressiva, faz necessário destacar que os mesmos podem ser lidos de modo aleatório, sem grandes perdas no entendimento.

Num total de doze, seus títulos são: A Cabeça de Mímir e o Olho de Odin, Os Tesouros dos Deuses, O Mestre Construtor, Os Filhos de Loki, O Casamento Incomum de Freya, O Hidromel da Poesia, Thor na Terra dos Gigantes, As Maçãs da Imortalidade, A História de Gerda e Frey, A Pescaria de Hymir e Thor, A Morte de Balder, Os Últimos Dias de Loki e Ragnarök - O Destino Final dos Deuses.

Não podemos negar que há mais de uma década atrás, quando da primeira vez que tivemos contato com estas histórias através da narrativa de Thomas Bulfinch em seu Livro de Ouro da Mitologia, toda esta excentricidade sobre deuses que vivem em grandes salões em um mundo dominado pelo gelo, gigantes que se confundem com montanhas e vazios que possuem geleiras, se comparados, aqui parecem mesmo fazer bem mais sentido. A lógica, que pode ser a lógica do absurdo em muitos casos, ganha certa simpatia quando percebemos que os relatos estão quase sempre limitados aos mundos divinos, e não ao mundo dos homens, e que os deuses de lá não tem mesmo a pretensão de serem perfeitos ou mesmo éticos sob a nossa perspectiva. As histórias são repletas de brigas, traições, magia e resultados que nem sempre estarão de acordo com o entendimento daquilo que nós consideraríamos correto ou justo para os dias de hoje. Neil torna esta leitura interessante e cativante sem precisar alterá-la, como fazem muitos quadrinistas e roteiristas modernos. Sentimos que há muito de genuíno aqui.

A mitologia nórdica parece nos ensinar que devemos estar sempre prontos para a eminência da traição, da injustiça, do golpe, da guerra, da covardia, do Ragnarök, e quanto a isso, não há exotismo algum que nos separe. Que o leitor fique atento: não importa quão distante esteja o hemisfério sul do norte, Midgard de Asgard, os Aesir dos Vanir, o passado do presente, a Ponte do Arco-Íris une deuses aos homens no campo de batalha, onde todos sangram igual. Lembre-se que os únicos que serão dignos de adentrar os salões do Valhalla serão os guerreiros. Portanto, se não quer ser condenado ao Hel, lute!

por Allan Trindade



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