quarta-feira, 28 de novembro de 2018

Filho da Puta! Sem dúvidas um dos palavrões mais conhecidos por toda a cultura ocidental e que, de tão difundido, costuma ser facilmente compreendido até mesmo por aqueles que não dominam o idioma de quem o verbaliza. Não é preciso falar espanhol para entender um hijo de puta, italiano para figlio di puttana ou mesmo um fils de pute em francês. Os ingleses, embora fortemente influenciados pelo Latim, porém de linguagem de cognição não tão simples para os falantes das línguas previamente citadas, amenizaram um pouco para as putas e atribuíram as cadelas o mesmo sentido com seu son of a bitch.

Embora não se saiba com precisão as origens para este tipo de xingamento, as elucubrações parecem óbvias: ser filho da puta é ser primariamente um bastardo, filho de um pai desconhecido ou ausente e de uma mãe profissional do sexo, ou ainda que tivera relações antes do casamento. Estas raízes, se analisadas sob a perspectiva religiosa, encontram muito de seus fundamentos no Judaísmo e Cristianismo, religiões de forte inclinação moral que tendem a demonizar qualquer tipo de exceção a sua forma tradicional de enxergar o sexo e seus relacionados, sendo a prostituição um dos maiores pecados considerados nestas doutrinas. Ser filho da puta para eles é então sempre o outro. Aquele que está fora. Que por si ou através de sua progenitora não cumprira suas convenções sociais ou religiosas. 

Mas quão irônico seria se aquela velha história sobre Natal, manjedouras, Belém e magos. Herodes, perseguição e Egito. Anjo, virgindade, Maria e José escondessem uma verdade surpreendente nas entrelinhas da Bíblia Sagrada sobre o judeu que é o principal ícone da fé cristã:

de que Jesus é, literalmente, o filho de uma puta?!

MARIA CHOROU AOS PÉS DE JESUS é um livro feito por Chester Brown, com 283 páginas, divididas em duas partes e publicado no ano de 2017 pela editora WMF Martins Fontes.

Se você é cristão ou tem simpatia por esta religião, por favor, pare por um segundo e se pergunte quão sensível é sua fé. Quais atitudes, elementos ou ideias são capazes de te ofender quando o assunto é a sua crença? Ter isso em mente pode ser determinante para definir se você deve adquirir este livro ou mesmo continuar lendo esta resenha. O assunto aqui é prostituição. Mas não apenas aquele conceito bíblico de que prostituição pode se referir a qualquer atitude que desagrade ao Deus de Israel e suas diretrizes, mas especificamente aquela prostituição que nós conhecemos bem, direta ou indiretamente: a prostituição do corpo em função do sexo.

Chester Brown é um desenhista, do tipo que faz quadrinhos, e já tratou deste assunto antes em sua outra publicação de nome Pagando Por Sexo, recomendada para aqueles que tenham interesse em saber mais sobre o assunto, incluindo questões legais e ideológicas, tais como o posicionamento de feministas em relação a este tema, e as divergências que envolvem todo este universo a nível secular. Este livro em específico não será resenhado por nós por não tratar do tema religião ou ocultismo, mas nós o recomendamos. Caso tenha interesse em adquirir, você pode fazê-lo através deste link: https://amzn.to/2ShII0R

Aqui o método se repete: o autor introduz o leitor através de diversas histórias em quadrinhos e em seguida, explica cada um dos elementos apresentados, as razões para suas conclusões, referências bibliográficas e todos os elementos que compõem a defesa de uma tese. Tudo começa em Gênesis e a história das oferendas dos irmãos para Javé, encerrada pelo fratricídio de Caim contra Abel. Seguida de Tamar e suas artimanhas para engravidar de Judá. Raabe e a salvação de Naate e Abade. Noêmi, Rute e a sedução de Boaz para desposá-lo. A traição de Davi contra um de seus soldados mais fieis, Urias, apenas para transar com sua mulher, Betsabá. Além da parábola dos Talentos, do Filho Pródigo,  do descontentamento de Simão e Judas sobre a ação de Jesus em relação a Maria de Betânia, e o dilema de Mateus em relação a Maria, mãe do nazareno. Assim se encerram as histórias. E que o legente tenha em mente que Chester não tem a intenção de reproduzi-las sempre de forma literal conforme contadas na Bíblia, mas, em alguns casos, dar uma outra interpretação sobre o que as entrelinhas talvez queiram dizer.

Numa primeira impressão alguns podem considerar exagero de nossa parte termos salientado a necessidade de certa maturidade emocional e de fé para ler este livro, vide que se baseado nas histórias apresentadas no parágrafo anterior, não há nada assim de tão grave. Aqueles que já leram a Bíblia inteira hão de perceber que lá existem relatos outros muito mais escandalizantes que estes. Entretanto, a polêmica se resume a uma personagem específica e todas as histórias selecionadas por ele tem por objetivo embasar a seguinte teoria: Maria era prostituta, uma meretriz que mesmo estando prometida para José,  ia para cama com outros homens por dinheiro e nem mesmo sabia quem era o pai de seu filho, aquele que viria ser chamado Jesus, um bastardo, por assim dizer.

Segundo o autor, toda esta ideia surgiu a partir da leitura do livro The Illegitimacy of Jesus, e que decidiu expor através de sua arte o provável dilema que Mateus encontrara para escrever seu evangelho e indicar de forma indireta o ofício de Maria. O apóstolo teria criado uma falsa genealogia da pseudo virgem de modo a indicar que se suas ancestrais eram prostitutas,  os leitores mais atentos perceberiam que ela assim também o era. E foi por isso que incluiu duas famosas meretrizes, Tamar e Raabe, na ancestralidade de Maria, assim coma aquelas que embora não o fossem de forma declarada, tiveram atitudes comparáveis a, tais como Rute e Betsebá. Assim, contrariando o padrão de não citar mulheres em genealogias, pela análise do conjunto das quatro, no futuro, as pessoas concluiriam que Maria também era uma prostituta, e não dizê-lo de forma direta evitaria a censura dos cristãos de sua época.

Como complemento, esclarece que a  própria Bíblia atesta que vizinhos não acreditavam na virgindade de Maria, tal como em Marcos 6:3 e João 8:41. À sequência de sua defesa, Brown argumenta que tal qual os exemplos das histórias destacadas por ele, o Deus da Bíblia admira os ousados que desafiam suas ordens, sempre os gratificando de alguma forma e que nunca pediu para que sigamos lei alguma, além de dizer que o próprio Jesus não condena a prostituição. Afirmações que parecem pouco razoáveis se confrontadas com passagens como aquela de João 8:11 -  " vá e não peques mais ". Não obstante, estabelece uma série de pontos indicativos que tratam de como a prostituição está sempre presente no contexto bíblico - objetiva ou subjetivamente - sendo este um tema que sem dúvidas merece ser revisto por historiadores e teólogos cristãos.

Em função do tipo de resenha que desenvolvemos aqui, esclarecemos ao leitor que qualquer impressão que o resumo de nossas palavras possa indicar, este deve ser entendido como aquém da ideia exposta por Chester Brown nesta obra. Sua defesa é clara: Maria era prostituta. Porém, a pesquisa apresentada pelo autor dá mesmo sinais interessantes que nos fazem refletir ao menos sobre essa possibilidade, especialmente se não encararmos a prostituição como algo negativo, mas apenas como mais um ofício, nem melhor nem pior que qualquer outro, nem satânico nem santo, apenas e geralmente, injustamente discriminado.

por Allan Trindade


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