segunda-feira, 23 de março de 2015

“Aleister Crowley e o Tabuleiro Ouija” é um livro curioso por vários fatores, que incluem desde o seu título, até seu conteúdo. Publicado no Brasil pela Madras editora, com um total de 158 páginas, é escrito por Jerry Edward Cornelius, ex-membro da OTO e thelemita há décadas. Porém, pouquíssima referência a estes temas serão encontradas no interior deste título...

Como era de se esperar, o autor inaugura o livro relatando uma parte da história e desenvolvimento do tabuleiro Ouija. Sem citar casos famosos como os das Irmãs Fox, foca sua descrição em grande parte sobre aspectos judiciais e disputas de patentes do tabuleiro...o que é certamente interessante notar, vide o quanto de materialidade está por trás de algo tão comumente relacionado à espiritualidade.

Cornelius intitula o livro com o nome de Crowley, pois baseia parte de seus argumentos em uma nota escrita pela Besta para um jornal, sobre a utilização do jogo dos espíritos. Entretanto, vai além, e possui uma intenção clara de tentar elevar o tabuleiro - que segundo o autor possui sua má fama em função da indústria de cinema e sua má utilização pelo vulgo - a uma Arma mágica que deveria fazer parte do Arsenal de todos os magistas. Para isso, ao invés de criar um sistema novo que pudesse então ser utilizado como uma contribuição extra aos sistemas já existentes, prefere, através de um discurso profundamente proselitista, relacionar a Ouija ao Sistema Enochiano...e é sobre esta base que grande parte do livro é desenvolvida.

Se você é uma pessoa que espera uma visão imparcial ou mais “científica” sobre os “por quês” do tabuleiro, terá que se acostumar com as afirmações constantes e incisivas de que, por exemplo, os seres evocados através da Ouija são elementais que se utilizam das Cascas astrais para enganar os participantes de uma sessão, fingindo desta forma serem entes queridos ou personalidades famosas. Segundo o autor, seja para seu bel prazer, ou ainda para o ganho de algum tipo de recompensa, tais entidades - se não evocadas através de um sistema mágico Tradicional - tal qual o é o Enochiano, só trarão aos partícipes problemas de menor ou maior intensidade. 

Acredito, que ao ter escrito tal livro, o autor tenha posto seus argumentos a prova e, portanto, tenha praticado o que indica ser eficiente antes de todas suas afirmações. Baseado nisso acho válida a ideia de experimentar unir estes dois métodos tão aparentemente distintos. Entretanto, não me parece que tal junção seja realmente necessária, visto que ambos os sistemas possuem cada um a sua maneira, seus próprios procedimentos, objetivos e são completos per si...portanto, e como sempre, a escolha é sua!

Considerações à parte sobre seu conteúdo didático cabem ainda alguns comentários sobre a péssima tradução e revisão feita para este livro no Brasil. A seguir relaciono alguns dos pontos aos quais em princípio pensara serem apenas exceções, mas que logo em seguida, por sua constância, notei serem infelizes erros grosseiros, inadmissíveis em alguns pontos, que infelizmente me fazem desconfiar da obra traduzida como um todo:

pg 83:     Livro da Revelação ao invés de Apocalipse
pg 95:     “é imaterial” ao invés de “é irrelevante
pg 142:   “The Temple of the Holy Ghost” como “O Templo do Espectro Sagrado” ao invés de “O Templo do Espírito Santo”.

Aleister Crowley e o Tabuleiro Ouija não é um livro para inexperientes no campo do psiquismo, do espiritualismo ou da magia. Sua versão brasileira, vide os problemas citados acima, que podem ser ainda maiores em número, não é recomendada para qualquer um!


por Allan Trindade


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