A primeira impressão é a que fica. Ou ao menos assim nos diz o dito popular. Não vou discordar, já que por agir justamente desta forma, acabei por protelar a oportunidade de conhecer muitas realidades interessantes. Foi assim com a Magia do Caos. Numa época onde redes sociais basicamente se resumiam a Orkut e MSN, alguns tipos estranhos já populavam as comunidades thelêmicas e emporcalhavam os tópicos com uma série de postagens que tinham o estranho objetivo de converter, ou simplesmente, desvirtuar qualquer assunto sério que ali estivesse sendo discutido.
Os tipos, estampados ou autodeclarados, eram dois: gnósticos e caoistas, nesta ordem de ação. Bastava um destes aparecer para eu desaparecer do assunto, afinal de contas, o diálogo era mesmo impossível com essa gente, e nossos objetivos pareciam bem distantes quando o assunto era espiritualidade.
Desenvolvi um certo preconceito. Não contra eles, pois afinal, eu os julgava por experiência, sendo assim, criara um pós conceito, um conceito com conhecimento de causa; os que se apresentavam eram sempre fanáticos ou desordeiros, se orgulhavam disso e ponto. Meu preconceito e erro foi estender as impressões que me passaram aos sistemas que diziam representar. Acreditar nisso foi o mesmo que considerar que a atitude hipócrita da maioria dos cristãos representa o que a Bíblia diz ser o Cristianismo.
Mas o estudo nos ensina que não, não necessariamente se conhece uma árvore por seus frutos, afinal de contas, maçãs podem ser fruto do pecado, envenenadas ou de ouro, sem que a macieira tenha qualquer responsabilidade nisso.
Foram anos até perceber que o Gnosticismo era muito mais rico e diverso que o comportamento que alguns coprófagos poderia limitar. O mesmo tempo até perceber que a riqueza artística e mágica de Spare e Carroll, não podia ser confundida com as sandices de gente que usava a internet para expressar seus desejos de serem malkavianos do plano virtual.
A primeira impressão pode até ser a que fica, mas é tolice se limitar a uma única impressão. A primeira impressão fica, mas é preciso permitir-se ter a experiência para ter uma segunda, terceira, ou quantas forem necessárias até perceber que os fundamentos de um sistema não são necessariamente definidos pelo comportamento de seus adeptos. Foi assim com a Magia do Caos. Que bom!
LIBER NULL E PSICONAUTA é uma publicação escrita por Peter James Carroll com 239 páginas, divididas em dois livros internos e publicado no ano de 2016 pela Penumbra Livros.
Ordem! Sim, ela existe aqui e dá a base para o curso de teorias, técnicas e rituais que o título apresenta. A IoT - Iluminados de Thanateros é uma ordem criada por Ray Sherwin e Peter Caroll, o autor desta publicação. Herdeiros mágicos do Zos Kia Cultus e da A.'. A.'., a magia da IoT é definida como prática, personalista e dedicada a experimentação. Entretanto, o autor salienta que suas práticas são destinadas a estudantes sérios, levando em consideração a potencialidade de seus rituais, e devem ser apenas praticados por aqueles que estejam em perfeitas condições de saúde.
Peter ressalta que é relativamente comum que mestres tenham inspirado adeptos a criarem Ordens e que, apesar de não ter uma história, a IoT transmite uma tradição milenar e que é constituída como território Illuminati. Sendo assim, são iluminados, mas não os mesmos da Baviera ou de qualquer outro tipo, mas de Thanateros, um amálgama dos deuses Thanatos (morte) e Eros (sexo), feito para expressar a junção de opostos para a consciência mágica como caminho, praticado por eles, e a iluminação, como finalidade de suas práticas.
Caos! Tido como sinônimo de tudo aquilo que é desordenado, sem sentido, bagunçado. Cremos ser uma interpretação possível, mas não se limite a ela, pois é certo que este entendimento pode não se adequar de todos os modos a realidade deste livro. Ou melhor, destes livros, uma vez que embora esta publicação esteja em formato único, ela comporta em si dois títulos distintos.
LIBER NULL
é de cunho essencialmente individual e prático, sem entretanto fugir as devidas explicações didáticas. Este livro dá título para o conjunto de alguns outros libri que tem por finalidade guiar o estudante a uma série de exercícios gradativos que o tornarão apto a ingressar em outros planos de trabalho da Ordem. Há de se salientar porém, que embora o livro seja organizado para os membros ou candidatos da IoT, não há qualquer obrigação de relação com a mesma para a execução dos ritos aqui apresentados. Seus libri são:
- Liber MMM - que discorre sobre as práticas de Controle da Mente, Magia e Sonhos.
- Liber LUX - sobre Gnose, Evocação, Invocação, Libertação, Augoeides, Divinação e Encantamento.
- Liber NOX - sobre Feitiçaria, O Duplo, Transmogrificação, Êxtase, Crenças Aleatórias, O Alfabeto do Desejo e O Milênio.
- Liber AOM - sobre questões Etéricas, Transubstanciação, A Caosfera, Aeônicas e Reencarnação.
Organizado de modo a levar o estudante ao domínio de suas habilidades físicas e espirituais, seus rituais objetivam o aprimoramento e o alcance de alterações mentais induzidas, dentre elas aquele estado conhecido como Gnose, para, dentre outros, a consecução mágica de um dos elementos mais conhecidos da Magia do Caos: os Sigilos. Esta técnica, que une elementos da Magia Tradicional com aqueles desenvolvidos por Austin Osman Spare, consiste na criação de elementos gráficos que geralmente são fabricados a partir de frases com intenções mágicas. Estes desenhos tem por objetivo ocultar intentos da mente consciente, de modo a lançá-los no vácuo criado a partir destes estados alterados de consciência, tendo sua forma física destruída em seguida, para serem de todos os modos esquecidos pela mente ativa.
PSICONAUTA
Na introdução deste, Carroll salienta que apesar de todo preconceito da ciência vulgar em relação a magia, um novo olhar tem sido lançado para todo este cenário e um novo intendimento vem se dando. Interpretada como uma ferramenta de contrariedade ao materialismo, a magia aqui é pensada de modo a dar acesso aos seres humanos para aqueles aspectos inexplorados de nossa existência, sem o medo de se arriscar em experiências físicas, mentais e espirituais para objetivos específicos.
Destaca a possibilidade de aumentar o poder de rituais ao praticá-los em grupo, além de que em tais situações, as habilidades de cada um podem ser divididas e melhor exploradas de acordo com suas potencialidades. Além disso, trata ainda das interpretações que a psicologia dá para as divisões cerebrais, que considera arbitrárias, e sobre o modus operandi de ataques mágicos, seus riscos e motivos.
A partir deste ponto, elenca cinco rituais denominados os Ritos do Caos, baseados nos princípios do Xamanismo Gnóstico do Novo Aeon, destinados a tratar de situações em que os sacerdotes do Caos possam estar. Estes são: a Missa do Caos, Iniciação, Ordenação, Exorcismo e Extrema Unção.
Em seguida, discorre sobre a pouca influência que os astros têm sobre a Terra, à exceção do Sol e da Lua, criticando assim o destaque que a Astrologia dá para os outros planetas, considerando-a vaga e imprecisa. Sobre o uso de drogas em operações mágicas, as diferenças entre os materialistas, religiosos e magistas, o Caos e sua relação com a magia e a consciência, Deus, o Demônio e as mudanças ocorridas através das eras sobre a percepção destes conceitos, além de tratar sobre Armas Mágicas e demais definições filosóficas que discorrem sobre paradigmas e previsões futuras.
Nestas obras, todas as impressões externas que fazem com que que a Magia do Caos se pareça com apenas mais um sistema de feitiçaria, não se sustentam. Existe aqui uma percepção de que a consciência humana geral muda através das eras e que através de trabalhos mágicos específicos reside a possibilidade desta condução.
Liber Null e Psiconauta propõe uma visão de mundo e práticas novas para adeptos que buscam uma relação mais empírica e menos mistificada com a magia. Aqui tudo é essencialmente prático, sem entretanto fugir a conceitos tradicionais encontrados nos sistemas esotéricos ocidentais. Todo estudante aplicado nestas Ciências, perceberá que o novo aqui reside em grande parte na liberdade em que o sistema dá para se adaptar os conceitos fundamentais à sua própria maneira, sem estabelecer nenhum revés de ideal moral em função disso. O foco é mental e energético, e o senso de Arte e Ciência aqui são levados ao seu sentido mais radical, para que então a mágica se faça. Diagramação, arte e capa dura são belezas a parte que dispensam comentários.
Post Scriptum: e se nada é verdadeiro, e tudo é permitido...permita-se tê-lo, você não vai se arrepender.
por Allan Trindade
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Muito bom!
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