quarta-feira, 27 de dezembro de 2017

Salvo as aspirações da classe dos feiticeiros, que costumam ter objetivos extremamente pontuais dentro da prática mágica, não se importando com nenhum aspecto transcendental além da conquista específica de algum intento, magos e místicos diferem destes primeiros justamente por agregarem em seu Caminho a busca pelo auto conhecimento.

São várias as referências dentro do Esoterismo e do Exoterismo ocidental sobre a importância e os benefícios desta busca, sendo a mais famosa delas aquela encontrada no pórtico do Oráculo de Delfos, onde se lia: conhece-te a ti mesmo.

Conhecer a si mesmo pode ser um desafio diário de auto descoberta envolvendo desde as reflexões mais complexas e filosóficas da natureza do ser, até as atitudes mais simples, como o porque de seus gostos e certezas e a preferência por um livro ou prato específico, por exemplo.

Somos seres dinâmicos e mutáveis, não apenas pela nossa própria natureza e fisiologia, mas também e em muitos casos, principalmente pela influência do espaço que nos rodeia. Corpo, mente e espírito vivem em constante movimento até mesmo quando não temos a menor noção disso. Então como avaliar se as convicções que temos hoje são as mesmas que tivemos ontem e serão as mesmas que teremos amanhã? 


UMA PERGUNTA POR DIA é um livro publicado pela editora Intrínsica, no ano de 2015 com 366 páginas.


Qual a primeira coisa que você faz ao acordar? Qual a última coisa que você faz antes de dormir? Você tem algum ritual específico para estes momentos? Quanto tempo você dedica para pensar sobre si? Talvez seu dia a dia não te permita manter nenhum tipo de hábito que ocupe mais que um minuto para pensar sobre isso. Pois bem, este livro serve exatamente para você. 

Sua proposta é extremamente simples e por isso mesmo igualmente atraente. Um diário, com um espaço de cerca de três linhas para cada questão, contendo uma pergunta diferente para cada dia do ano, com espaço para o registro de cinco anos. 365 perguntas e 1825 respostas sobre si mesmo é o que você terá por fim. Sua função será então responder as mesmas perguntas, todo ano, durante meia década de auto observação. Por exemplo: no dia 28 de dezembro encontramos a questão Você prefere aconchego em casa ou sair para se divertir?. Se começar respondendo no ano de 2017, terá de fazer o mesmo no ano de 2018, 2019 e assim sucessivamente, até completar cinco anos. Interessante, não?

As perguntas variam desde aquelas mais complexas como Qual a sua missão? até aquelas menos importantes para muitos como O quê desperta seu lado geek?. Isso, a ideia aqui não é tornar este hábito um exercício cansativo de reflexão, mas te dar a chance de ao menos pensar por um minuto sobre aquilo que você deseja, aquilo que te aconteceu, aquilo que você gosta, aquilo que você não quer mais, aquilo que você acha, etc. Capa dura, folhas com bordas douradas, fitilho para marcar os dias, compacto. Definitivamente um mimo para si mesmo ou para dar de presente.

Resolvemos trazer este título aqui, assim mesmo, com essa linguagem informal, pois pensamos que mesmo nós, que vislumbramos objetivos maiores para nossa vida material e espiritual, que buscamos o equilíbrio entre aquilo que somos e aquilo que aspiramos, podemos adaptar os ensinamentos maiores a realidade do mundo moderno. E deixamos claro que não estamos falando de substituições. Não queremos com isso dizer que este tipo de diário pode substituir  o caráter científico e a importância de um Diário Mágico. De forma alguma! Entretanto, este pode ser um ótimo exercício para aqueles que ainda não iniciaram os registros sobre si, ou mesmo para aqueles que mesmo tendo suas anotações sobre suas experiências mágicas, tenham uma alternativa mais prática, objetiva, diária e descontraída para tudo isso. 


O desafio de conhecer o universo particular começa a partir da coragem de encarar a si mesmo de forma desprendida e não dogmática. A síndrome da imutabilidade - também conhecida como síndrome de Gabriela - pode ser o pior de todos os pecados para o adepto. O ser humano que não se lança a novas experiências e que não muda, é um ser um humano que não vive, que já está 'morto'. O ser humano que vive mas acha que não muda, ou é covarde ou está simplesmente louco.

Permita-se conhecer-se na Vossa Majestade e na sua simplicidade.


por Allan Trindade


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domingo, 24 de dezembro de 2017

Na resenha anterior falamos sobre as dúvidas comuns que os principiantes podem ter em relação a quais autores ou títulos primeiro consultar. Que a vanguarda do Esoterismo moderno, oriunda em grande parte dos séculos XIX e XX, e com uma linguagem por demais técnica ou rebuscada em alguns casos, pode não dar condições para o novato compreender todas as nuances e profundidade que os textos apresentam. 

Não pensamos ser exagero dizer que o Ocultismo seja um caminho de muito, muito mais estudo que prática. O próprio Mvtvs Liber, um dos grandes clássicos da Nossa Tradição, nos traz o axioma lege, lege, lege, relege, labora et invenies. É preciso ler, ler, ler, reler para então trabalhar. Não discordamos desta máxima, entretanto, ousamos dizer que a prática unida ao estudo pode ser igualmente proveitosa.

Muitos são aqueles que não conseguem viver tanto tempo saciando apenas os anseios do intelecto e precisam de mostras físicas de que tudo isso, todos estes textos, ideias, filosofias e sistemas não são um simples amontoado verborrágico inventado por um bando de intelectuais desocupados que, por não terem acesso a internet em sua época, viviam viajando no Plano Astral. A experiência pode, em muitos casos, preceder o estudo.

Portanto, se você ainda não leu o suficiente mas já tem dúvidas sobre o que praticar, quem sabe este livro possa te ajudar.



THE ONE YEAR MANUAL é um livro escrito por Israel Regardie, publicado pela Samuel Weiser, INC. no ano de 1992, com 71 páginas.


Sim, este é um livro curto, com poucas dezenas de páginas, mas não se deixe iludir pelo seu tamanho. Sua proposta é nada menos que objetiva e seu título e subtítulo deixam claro a que ele veio: ser um manual com duração mínima de um ano, voltado para guiar o iniciante nos caminhos místicos do esoterismo ocidental.

Aqui você não precisará de conhecimento prévio nenhum. Cada capítulo é planejado para ser praticado por pelo menos um mês, e contém explicações sobre os benefícios que tais práticas podem vir a causar no aspirante, sempre com foco no maior autoconhecimento corporal e equilíbrio espiritual. Se você conhece o mínimo de yoga, dos exercícios mágicos oriundos da Ordem Hermética da Aurora Dourada ou ainda da A.'. A.'., você poderá prever o conteúdo que este título traz, uma vez que alguns dos rituais apresentados aqui sejam adaptações daqueles de lá. 

Não espere por exigências de grandes aparatos ritualísticos, nem mesmo por explicações muito aprofundadas sobre o funcionamento metafísico de cada um dos exercícios expostos. Todo o conjunto foi pensado com foco na prática e no iniciante, que disponha ao menos de um pequeno espaço reservado para meditar, como um quarto com uma cama e uma cadeira, por exemplo, e esteja disposto a dispensar pelo menos quinze minutos diários para a busca de sua iluminação

Nesta edição, Israel salienta que fez algumas modificações, como chamar o livro de Manual do Ano ao invés de Doze Passos Para a Iluminação Espiritual - que aqui tornou-se o subtítulo - por ter considerado presunçoso demais este nome da primeira edição. Além de modificações dos textos dos próprios rituais que, segundo ele, na edição anterior, estavam com citações cristãs em excesso.

Vale destacar que na nossa opinião os textos continuam com muitas referências cristãs e poderiam estar bem mais neutralizados, de modo a atender um público mais abrangente, e que talvez não se sinta tão a vontade com adaptações disfarçadas de forma mais ou menos subliminar a Jesus e seu contexto. Em verdade, e para sermos justos, diremos o mesmo para o primeiro exercício, das Quatro Adorações solares, desenvolvido para ser executado durante as grandes horas do dia e da noite, e que traz orações para os deuses keméticos. Somos da opinião que referências a deuses de qualquer religião deveriam ser evitadas pois trazem consigo uma carga energética - ou de pensamento - que talvez não esteja em consonância com o período atual do iniciante. Quem sabe aqui o novato perceba que a magia é também considerada uma Arte pois nela, vez por outra, temos de mostrar o nosso talento e habilidade em adaptar e produzir nossa própria Obra.

Para além do exercício previamente citado, o livro nos traz ainda Body Awareness, Relaxation, Rhythmic Breathing, Mind Awareness, Concentration - Use of the Mantram, Developing the Will, The Rose Cross Ritual, The Middle Pillar Ritual, Symbol of Devotion, Practice of the Presence of God, Unity - All is God e Invoke Often! Inflame Thyself With Prayer.

Israel Regardie dispensa comentários pois é figura conhecida e consagrada em nosso meio - por sua experiência e dedicação de toda uma vida ao Ocultismo - e novamente  nos abrilhanta com mais uma obra digna de nota. Está voltada especificamente para aqueles que pouco ou nenhuma experiência prática possuem neste meio mas que querem, sem se prender a nenhum caminho específico, ter algum tipo de treinamento espiritual. 

A força da magia é intrínseca a natureza e não depende de conhecimento técnico para se manifestar. O que falta a maioria de nós então é compreender que somos parte desta mesma natureza, portanto e por consequência, seres potencialmente mágicos. Tomar consciência do próprio corpo e mantê-lo em equilíbrio é santificar o Templo no qual o seu espírito reside. Ler pode te fazer acordar para isso. Mas apenas o praticar te fará sentir esta Verdade.

por Allan Trindade




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segunda-feira, 18 de dezembro de 2017

Ao decidir se enveredar pelos caminhos do Ocultismo e do Esoterismo é absolutamente natural que você tenha dúvidas sobre quais temas ou autores primeiro estudar. Com uma variedade de opções grande o suficiente para deixar até o mais habilidoso dos 'multitarefas' confuso, dar os primeiros passos pode fazê-lo se sentir tão desemparado quanto um bebê que ainda ensaia sua saída da fase do engatinhar e se apoia, sem muita confiança, naquilo que está mais próximo. 

Ao consultar indivíduos que estão a mais tempo nesta senda, é bastante comum que estes lhe recomendem os nomes clássicos da literatura oculta, como Lévi, Mathers, Crowley, Blavatsky, Papus...dentre outros. Não podemos negar a importância de conhecê-los, nós mesmos começamos assim, e por isso também podemos afirmar que este início pode ser um tanto frustrante. E a razão para isso se dá por um motivo muito simples: eles não falavam para iniciantes! Não se espante se ao ler o Dogma e Ritual de Alta Magia, a Coletânea Hermética ou ainda a Kabbalah Revelada você não entender praticamente nada.  

Evitar os clássicos não é uma opção para o ocultista realmente empenhado na busca pelo conhecimento, entretanto, pode ser que no princípio, livros mais modernos, com uma linguagem menos complexa, possam te dar um suporte maior para encará-los doravante.

ONDE VIVEM OS DEMÔNIOS? é um livro escrito por Frater U.'. D.'. publicado pela Madras editora no ano de 2011, com 135 páginas.

Ralph Tegtmeier é uma figura relativamente conhecida no contexto ocultista moderno, especialmente nos meios thelêmicos e da Magia do Caos, graças também ao sucesso de um outro livro de sua autoria chamado Practical Sigil Magic (até a presente data, sem tradução oficial no Brasil). Entretanto, não bastasse o uso de seu moto como Frater Ubique Daemon/Ubique Deus para assinar grande parte de seus livros, aqui incorpora ainda uma outra persona, seu alter ego Tia Klara, uma bruxa velha que dentre outras atividades, gosta de suprir seu vício de beber café encontrando-se com outras senhoras, e responder perguntas de curiosos sobre religião e ocultismo nas horas vagas, enquanto fuma seus incontáveis cigarros. 

O livro, surgido a partir da coluna "Templo do Consolo da Tia Klara", presente na revista ocultista alemã Anúbis, é uma reunião das diversas perguntas enviadas por seus leitores, agrupadas aqui de forma objetiva e descontraída, mas nem por isso menos profunda, que atenderão aos anseios tanto de iniciantes, quanto de estudantes médios e avançados, partindo de temas simples como os de Sociedades Secretas, suas verdades e mentiras, até elementos mais complexos como a discussão espaço-tempo e a atuação da magia dentro deste contexto. 

Precedidas por uma pequena nota preliminar, seu título Onde Vivem os Demônios? é apenas uma de um total de 28 perguntas respondidas por esta feiticeira através da mente e criatividade de Frater U.'. D.'. :

Eu preciso de um mestre ou mentor?
Devo entrar para uma ordem magística?
A magia tem que ser sempre ritualística?
O que você acha de Franz Bardon?
A bruxaria é uma antiga religião europeia de culto à natureza?
A O.T.O "inventou" a Magia Sexual?
...


...dentre outras, que já podem dar uma noção ao leitor interessado sobre o conteúdo apresentado.

Ao terminar a leitura deste título, e admirados com o vasto conhecimento de Tia Klara, pensamos que adoraríamos recebê-la em terras tupinikins. Pois se temos o melhor café do mundo, o tabaco é produto nacional, a magia aqui tem nome de macumba, e não demora muito, em uma encruza ou outra você sempre encontra um despacho, então temos tudo que ela gosta! Por isso não temos dúvidas de que no Brasil ela se sentiria em casa. Quem sabe um dia...

por Allan Trindade

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sexta-feira, 8 de dezembro de 2017


" Na manhã de 14 de janeiro de 1907, um homem vestindo um manto vermelho, considerado um irresponsável, apareceu em Kingston alertando as pessoas sobre o fato de que antes do anoitecer a cidade seria destruída. Às três horas da tarde, Kingston, e na verdade toda a ilha, foi atingida por um terremoto de grande magnitude, que não apenas deixou uma vasta área da capital em ruínas, mas matou pelo menos 2.000 pessoas. "

VODU é um livro escrito por Joseph Williams, publicado pela Madras editora no ano de 2004, com 163 páginas divididas em 7 capítulos.

É comum ouvir as pessoas falarem que não se deve comprar um livro pela capa. E as razões para isso possuem lógica tanto para o aspecto positivo quanto para o negativo. Encantar-se por uma bela estampa pode levá-lo a se decepcionar com um péssimo conteúdo. Assim como uma arte não tão atraente pode fazê-lo perder a oportunidade de ler um ótimo texto. Se podemos dizer que contra estes fatos não há argumentos, deveríamos estender o mesmo conceito para os títulos. 

Já fazia algum tempo, estávamos a procura de um exemplar que pudesse servir como uma introdução a este tema tão popularmente conhecido, e lotado de histórias (ou estórias) acerca das práticas e poderes do Vodu. Ora referido como religião, e outras tantas como ofício de feitiçaria, não deve haver uma só pessoa vivendo nas grandes cidades que nunca tenha ouvido falar nesta palavra.

O subtítulo nos tentou de forma igual: Fenômenos Psíquicos da Jamaica. Aparentemente uma combinação consistente o suficiente para suprir a nossa necessidade, e por que não dizer, também a nossa curiosidade. Mas infelizmente erramos. Isso porque apesar do título em português sugerir que este livro trata do assunto que gostaríamos que ele tratasse, seu título em inglês é muito mais justo, e provavelmente não nos conduziria de forma tão tentadora ao erro. Seu nome original, que aqui fora transformado em subtítulo, expressa bem a proposta dessa publicação. Ele não se propõe a tratar do tipo de religiosidade ou magia conhecida como vodu, mas trás a investigação do autor, que vivera por cerca de 6 anos na Jamaica, acerca dos possíveis fenômenos espirituais existentes por lá, e apresenta este trabalho como uma investigação das experiências que tivera e dos relatos daquilo que ouvira.

Em sua primeira parte, e a única que nos parece realmente interessante, elenca uma série de casos de poltergeists, ataques a jovens, batidas em cômodos de casas, apedrejamento de pessoas com pedras que surgem do meio do mato mas que não causam danos físicos as vítimas, possessões, exorcismos, etc... e demonstra que apesar do tempo em que fora escrito, no início do século XX, Williams não se deixara levar pelo apelo popular e sempre mantivera uma postura cética para todos os casos, procurando investigá-los ou se abstendo de tomar conclusões definitivas quando as provas não eram suficientes. 


Os capítulos que se seguem procuram apresentar ao leitor a relação conturbada das tribos africanas existentes naquele país, em especial a dos Ashanti, algumas definições etmológicas, ritos funerários,  suas práticas religio-mágicas conhecidas como Obeah e Mialismo, a forte crença que os pretos mantinham com estes elementos e ainda a relação destes para com os brancos e sua religião, o Cristianismo.

Este é um livro de interesse acadêmico que se ocupa em trazer descrições sobre os povos e crenças da Jamaica do início do século XX. Seu autor faz constantes referências a seu título anterior - Voodos and Obeahs - e aparentemente complementar a esta leitura (na verdade, nossa impressão é que aquele livro precisa ser lido antes deste). Os casos apresentados aqui são repetitivos e se limitam a falar de enterros e pseudo fantasmas que atiram pedras. É um livro para quem tem interesse na história da Jamaica e já detenha algum conhecimento prévio sobre aquele país e seu período como colônia do Reino Unido.

E se você está procurando por instruções sobre como costurar e alfinetar o boneco de vodu do seu inimigo, uma loja de corte e costura pode vir a lhe dar muito mais informações que esse livro, já que afinal de contas, esse tipo de instrução simplesmente não existe aqui.


por Allan Trindade

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segunda-feira, 4 de dezembro de 2017


Há cerca de um ano atrás publicamos pela primeira vez uma resenha falando sobre o Livro de São Cipriano. Nossos canais - blog e youtube - ainda tinham pouquíssimos inscritos e os acessos também não eram tão consideráveis em termos numéricos. Perfeitamente entendível uma vez que o tema ocultismo - tratado como estudo e não como entretenimento - não seja o preferido da maioria da população e que religião costume ser referida por muitos como algo que simplesmente não se discute. Entretanto, ao trazer a público as análises sobre os escritos atribuídos ao famigerado Bruxo Mais Poderoso de Todos os Tempos, vimos um exponencial e inesperado crescimento. Em poucas semanas dezenas de acessos se tornaram centenas, centenas se transformaram em milhares, e hoje já passamos da marca de oitenta mil acessos. Nos surpreendemos.

Nos surpreendemos pois não esperávamos uma aceitação positiva sobre um personagem que mexe tanto com o imaginário e religiosidade popular. Não esperávamos que uma análise crítica, uma resenha, que questiona não apenas a autoria dos livros atribuídos ao Santo Bruxo, como a própria existência de São Cipriano, fosse ser tão bem recebida pela maioria. Desde então, foram várias as mensagens com elogios e agradecimentos pelo trabalho apresentado, as quais só temos, igualmente, a agradecer. Entretanto, muitas também foram as dúvidas, como por exemplo,  sobre como confiar então nos livros existentes atribuídos a figura deste bruxo, ou ainda qual seria o livro verdadeiro, e no que, ou em quais, poderiam acreditar ?

Pensávamos não haver uma pesquisa objetiva que pudesse nos tirar do campo da especulação e que mostrasse se de fato São Cipriano fora real ou não. Pensávamos que não haveria como responder se existem fontes primárias, reunidas por algum pesquisador sério, que atestem ou contestem os textos modernos destes grimórios. Pensávamos que ninguém tinha se dedicado a apresentar ao grande público uma análise comparativa e aprofundada sobre a história e os feitiços do Bruxo mais popular do Brasil e de Portugal. Pensávamos, mas para nossa grata surpresa, estávamos enganados.

THESAURUS MAGICUS II é um livro escrito por Humberto Maggi, publicado pelo Clube de Autores no ano de 2016, com 625 páginas divididas em 10 capítulos.

Este título é uma espécie de antologia, ou seja, uma organização de diversos escritos atribuídos a figura de São Cipriano, reunidos aqui com um objetivo duplo: servir ao pesquisador que tenha interesse em analisar diferentes capítulos dos livros do Bruxo, ou ao praticante que tenha dúvidas sobre a completude estrutural de algum ritual ou texto específico.

Em seu prefácio, chamado São Cipriano, o Escrivão do Diabo, Nicholaj de Mattos Frisvold se ocupa em fazer um apanhado geral sobre a história do Feiticeiro, possíveis relações com a Quimbanda e os diversos grimórios atribuídos a ele em cerca de 500 anos de fatos e lendas. Em seguida, Felix Vicente fala sobre a figura do Santo, o surgimento dos livros e sua relação com o autor desta obra, num resumo histórico e impecável que por si só já valeria a leitura. 

Em seguida, Humberto Maggi fala dos primeiros contatos que teve com os livros de Cipriano, sua decepção com o conteúdo dos mesmos, e o reacendimento do interesse por todo este contexto em 2008, graças aos questionamentos de uma amiga. Em toda esta primeira parte do livro, o autor se dedica a explicar as razões para a existência dos diversos grimórios atribuídos ao Santo, além de apresentar exemplos comparativos com outros livros que podem ter influenciado a existência destes  e análises sobre processos inquisitórios nos quais o livro fora citado. 

Sobre sua organização, Maggi nos explica que 


As partes centrais desta edição vem da versão Portuguesa publicada pela Livraria Econômica e das versões Espanholas do Heptameron, Sufurino e das seções originais do livro de Enediel Shaiah. A essas, muitos textos, trechos, capítulos, feitiços, invocações, etc. associados na tradição mágica ao nome de São Cipriano foram adicionados. A intenção é prover o leitor com uma vasta e significativa coleção de materiais diversos diretamente relacionados à Magia Ciprianica.

Eu organizei o material de acordo com o assunto contido em cada texto. Isto significa, ao invés de simplesmente copiar os livros originais por inteiro, eu dividi seus conteúdos em seções separadas. 


Sendo assim, as seções organizadas pelo autor dividem-se em:


A Origem do Livro 
onde apresenta uma seleção de lendas diversas atribuídas ao seu surgimento.

Vita Cypriani 
onde estão incluídos os contos sobre a vida do Bruxo.

A Arte Mágica 
com instruções sobre rituais: locais mais apropriados para executá-los, qualidades essenciais para o êxito nos feitiços e Armas mágicas.

Talismãs e Amuletos 
com funções e como produzir estes objetos.

O Livro dos Espíritos 
apresentando listas de hierarquias celestes, infernais e elementais, além de conceitos filosóficos sobre estes.

As Preces de São Cipriano 
com orações para as horas, santos, doentes, incluindo aqui a Cabra Preta. 

Os Exorcismos 
com orações e rezas dedicadas a esta prática, além de explicações e listas sobre demônios e almas e as razões para Deus permitir sua ação sobre os viventes.

Tesouros Mágicos 
sobre o uso de forquilhas e varinhas e onde reúne as listas de supostos tesouros enterrados em certos locais do contexto ibérico.

Segredos Mágicos 
onde apresenta receitas e fórmulas de feitiços, para os fins mais diversos, contendo a clássica característica existente em praticamente todas as edições destes livros: a forte presença de sacrifícios de animais.


Através desta organização, nos parece claro para o leitor interessado, que esta obra atende aos anseios de todos aqueles que justamente buscam pelo livro original. Aqui, livros de diferentes épocas e origens estão reunidos e organizados num ótimo tomo, separados por capítulos em comum, que facilitarão o estudo e responderão as clássicas perguntas sobre as verdades e as mentiras envolvendo a vida, a morte e os feitos do Bruxo. 

É leitura obrigatória sobre o tema para qualquer um verdadeiramente empenhado em saber sobre os detalhes históricos da criação deste Cipriano tão conhecido em terras latinas, já que desmistifica as crendices populares, apresentando as razões para o argumento de que muitas destas histórias não passam de lendas, e todo conteúdo possível para provar isto, sem entretanto ser um livro apenas teórico. Em sua primeira parte são apresentados os argumentos científicos, em sua segunda parte estão reunidos os textos tradicionais, atendendo tanto ao leigo, interessado apenas na prática, quanto ao pesquisador, inclinado ao conhecimento. Duvidamos que haja trabalho mais completo que este publicado até a presente data.

Este livro, Thesaurus Magicus II, grande no número de páginas e profundo em seu conteúdo, desbanca o senso comum e não deixa dúvidas de que aqui tamanho é documento!