terça-feira, 22 de dezembro de 2020


Na disputa eleitoral pela prefeitura da cidade do Rio de Janeiro no ano de 2020, o então prefeito da cidade, ao citar seu concorrente, ironizou e menosprezou o fato do mesmo usar, durante as festividades de carnaval, um chapéu atribuído a uma entidade das religiões de macumbas brasileiras. Sendo este mesmo prefeito um cristão declarado, e bispo de uma igreja protestante criada por seu tio, tal episódio discriminatório tampouco apresenta-se como uma exceção quando advindo de pessoas deste segmento religioso. 

Curioso é saber que apesar das acusações contra Zé Pelintra, os zé Pilantras de verdade costumam ser justamente aqueles que lhe apontam o dedo...e aquele que disse que exu tá amarrado, na data de hoje foi encarcerado! 

ZÉ PELINTRA é um livro psicografado por Mizael Vaz, ditado pelo espírito de José Porfírio Santiago, contém 144 páginas divididas em 3 partes e foi publicado no ano de 2016 pela Madras editora.

Este é um livro biográfico que, segundo o autor e médium, fora criado a partir de uma série de relatos reunidos nas várias sessões de incorporações e contato com o espírito citado. José Porfírio Santiago é seu nome. Nascido no século XIX no nordeste brasileiro, preto, filho de escravos alforriados, teve a sorte de ser fruto do amor verdadeiro de seus pais e afilhado de um abolicionista que sempre dera-lhe condições para trabalhar e estudar conforme a liberdade da época permitisse. Mas a bem da verdade, José Santiago, doravante Zé, não era muito dado a certas vantagens que a vida lhe proporcionara. 

Todos viviam bem até que mancomunado com sua irmã mais velha, ainda na adolescência, e contra a vontade de seu pai, passou a facilitar os encontros da jovem com um marginal das redondezas em troca de alguns doces. Tudo passou-se bem até o dia em que Maria engravidou. Seu pai jamais a perdoou pelo deslize. Foi abandonada pelo mal falado meliante e seu pai queria mesmo era expulsá-la de casa, mas graças aos pedidos da esposa, permitiu que a garota permanecesse, tratando-a com eterna indiferença a partir daquele momento. O desgosto, porém, mostrou-se um fardo pesado demais para que seu pai carregasse, e para amenizar sua dor, afundou-se no álcool. A vida de todos mudaria absolutamente a partir daquele ponto, e a família que um dia fora exemplo de amor e harmonia, transformara-se em sinônimo de raiva e desunião.

 O casal, pai e mãe de Maria e Zé, passaram a brigar diariamente. Zé sentindo-se culpado por toda aquela situação, viu-se na obrigação de defender sua mãe contra as investidas de violência de seu pai, e foi num desses episódios, depois de vê-la apanhar, que revidou atacando aquele bêbado que tinha a obrigação de chamar de respeitar. Seu genitor considerava inadmissível que um filho agisse daquela forma contra ele e jurou-o de morte. Irredutível na decisão de que o mataria, Zé fugiu para salvar sua vida. Ajudado por seu padrinho, Coronel Silva, dono da fazenda, caiu na estrada em busca de um novo lugar para viver. Zé procurava um lar porque não sabia que seu lar era o mundo!

É desta forma que começa a história deste espírito que receberia a alcunha de Zé Pelintra. O destino ainda lhe reservava uma série de eventos que o conduziriam a uma vida de jogatinas, prostituição, malandragem, roubos e assassinatos, equilibrados pela força elevada do Catimbó e sua sabedoria ancestral advinda dos espíritos e das ervas.

Se na primeira parte do livro o autor nos apresenta os elementos materiais de sua história, na segunda encontramos sua vivência nos planos espirituais após sua morte, e por fim, uma seleção de pontos cantados para Zé Pelintra, pontos riscados, receitas de beberagens, simpatias, magias e feitiços para os mais diversos fins.

"Eu sou preto, sou preto todo dia. O meu nome é Zé Pelintra, Zé dos Anjos é na Bahia. Minha mãe sempre dizia que o sol é um farol, me ensinou a fazer macumba e desmanchar no meu paiol. A bananeira que eu plantei a meia noite já deu cacho. Aqui neste terreiro eu quero ver estes cabras teimosos, que riscam ponto, achando que é macumbeiro, bater de frente com despacho."

por
Allan Trindade

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" Esta é uma Ordem perigosa, várias pessoas tiveram suas vidas destruídas depois de se envolverem com ela, teve até caso de suicídio! "

" Por que você está resenhando este livro? "

" Você não sabia que muitas pessoas que um dia estiveram envolvidas com esta Ordem não recomendam qualquer aproximação com ela? "

" Quanta irresponsabilidade! "


ORDO BAPHOMETIS é um livro escrito por Walter Jantschik, traduzido por Frater Iskuros, contém 48 páginas divididas em 6 capítulos e foi publicado no ano de 2018 pela Daemon Editora.

Todos aqueles que acompanham o Resenha Oculta já puderam notar que há um padrão para nossas publicações: primeiro a resenha escrita, depois o lançamento do vídeo. Este caso, entretanto, foi uma exceção. E não foi uma exceção porque assim o planejei mas simplesmente porque aconteceu. Quebrar padrões e rotinas é importante as vezes. E como dizem alguns que nada é por acaso, talvez tudo isso tenha tido sua razão de ser. 

Os comentários destacados acima foram extraídos de mensagens públicas e privadas que recebi após o lançamento do vídeo, advindas de algumas pessoas genuinamente preocupadas com o fato do que uma publicação deste tipo pode acarretar para a vida de outrem. Em um mundo repleto de egoísmo, é uma atitude no mínimo bonita de se ver. Porém, faz-se necessário esclarecer que o Resenha Oculta não tem por objetivo fazer julgamento sobre as decisões alheias. Não posso ser eu aquele que vai dizer se uma pessoa deve ou não enveredar-se por este ou aquele caminho, mesmo sabendo que outras pessoas possam ter tido prejuízos com isto. E isso pelo simples fato de que nossas escolhas e consequências dizem respeito as nós mesmos, e o que aconteceu para um, pode simplesmente não acontecer para outro. Tratemos do conteúdo do livro em si para exemplificar tudo isto.

Este livreto fora publicado no ano de 2018 com a introdução de que a Ordo Baphometis é uma Ordem mágica, hermética e gnóstica. Em seguida, na apresentação assinada por Frater Iskurus, encontramos uma pequena biografia sobre o início da Ordem, a qual se lê, dentre outras coisas, que este livro fora publicado originalmente em 1988, que o conteúdo nele apresentado fora escrito por Walter Jantschik (1939 - 2013), um ex Grã-Mestre da Fraternitas Saturni que migrou para a Ordo Saturni na década de 80. De acordo com a apresentação, a Ordem Baphometis fora criada em 1986, ou seja, dois anos antes deste livro, e a primeira Loja instalada em terras brasileiras ocorreu apenas 1999, ou seja, cerca de 13 anos após sua criação. 

Esta edição apresenta que os objetivos da Ordem são aqueles que buscam trabalhar em contraposição ao constante movimento polarizador perpetrados, segundo o autor, pelos mais diversos segmentos espiritualistas que intencionam desmaterializar o planeta. Esta Ordem busca, através de meios mágicos então, contrabalançar o constante apelo de sutilização da materialidade terrestre, exaltando a legitimidade física do mundo. 

Sendo dividida em 99 graus iniciáticos, a Ordem tem em Baphomet seu principal elemento de força, atribuindo a ele a origem de sua gnosis, e apresenta uma séria de rituais praticados em seu interior.

O tempo de existência da Ordem até a criação de sua célula brasileira unida a nenhum tipo de advertência sobre os fatos vivenciados por seus membros nesta publicação, pode indicar que apesar dos efeitos sofridos por alguns, isto pode não ter sido sentido por todos a nível internacional (lembremo-nos que esta não é uma Ordem brasileira). E destacar este ponto não significa que estejamos incentivando quem quer que seja a arriscar, da mesma forma que também não significa que estejamos dizendo que não o façam.  

Por isso faz-se necessário deixar claro aqui nossa posição sobre estes elementos: a intenção do nosso trabalho no Resenha Oculta é tão e somente aquele de expor conteúdos literários e analisá-los criticamente sob o viés da coerência daquilo que é apresentado pelos autores das obras. O Resenha Oculta objetiva estimular a leitura, pertencente a qualquer linha, filosofia, sistema ou prática, desde que enquadradas nos parâmetros estabelecidos sobre o que seja religião, ocultismo, esoterismo e demais segmentos da espiritualidade.

Ter este livreto não te obriga a nenhum tipo de afiliação ou ligação com a Ordo Baphometis, mas sem dúvidas, faz com que tenhas em mãos um documento histórico de uma Ordem que, seja por sua força criativa ou destrutiva, mostrou seu poder.

por Allan Trindade


post scriptum: e segundo fontes confiáveis, mesmo que alguém o quisesse, não poderia mesmo integrar as fileiras desta Ordem, visto que até a presenta data, a Ordo Baphometis não existe mais oficialmente no Brasil e nem mesmo no mundo.


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sexta-feira, 13 de novembro de 2020


Ideias sobre demônios permeiam e sempre permearam o imaginário humano. E engana-se quem acha que tal pensamento - ou percepção - é exclusividade de uma única religião ou segmento espiritualista
. Muitas são as doutrinas que descrevem a existência de tais seres, muitas vezes nem tão maléficos como costumam ser imaginados, mas inegavelmente e comumente potencialmente nocivos a existência humana. Nossa herança cristã nos legou tal conceito e temor, mas as fontes judaicas podem explicar mais especificamente certos detalhes oriundos destas crenças.

DIALOGOS SOBRE DEMÔNIOS é um livro escrito por Rav Zadok Hakohen e Rafael Resende Daher, contém 211 páginas divididas em 8 capítulos, e foi publicado no ano de 2020 pela Mubarak editorial.

A vida de sucesso do rabino Zadok, coautor desta publicação, começou cedo. Por volta de seus 12 anos de idade já se destacava em sua comunidade através de seus escritos responsivos aos textos judaicos. Progressivamente aumentou sua dedicação, seu envolvimento e religiosidade, casando-se jovem, ainda com seus 15 anos, provando sua maturidade precoce, embora este mesmo fator possa ter sido fonte para seu pronto declínio. Divorciou-se graças as fofocas alheias que punham em pauta a fidelidade de sua esposa, e buscou em outros ares o apoio de rabinos que apoiassem sua decisão. Casou-se ainda por mais duas vezes, sem entretanto nunca gerar filhos, o que considerou como um provável castigo pela forma como tratara sua primeira mulher. 

E é assim que Rafael Daher nos introduz esta publicação bilíngue que trata das especificidades literárias da tradição hebraica voltadas para a tratativa e relação com demônios dos mais diversos tipos. Destaca que neste estudo, serão apontados as relações existentes no ideário dos grimórios componentes da Tradição Salomônica de magia, e suas origens bíblicas, cruzando conexões percebidas entre as tradições cristãs, islâmicas e judaicas, entretanto sem fazê-lo de forma diretamente comparativa. 

Daher salienta que, apesar do destaque para este ponto, este livro não se propõe a analisar de forma pormenorizada e lateral os textos encontrados em todas estas tradições, mas de outra forma, busca nas fontes hebraicas passagens e versículos que indiquem para o leitor a provável origem deste ou daquele conceito Salomônico, ou mágico, de modo que, em tendo conhecimento de ambas as tradições, o próprio legente estará habilitado para perceber suas origens e influências. Assim, ao encontrar em um grimório, por exemplo, que Salomão construíra seu templo com ajuda de demônios, apresenta quais textos originais tratam dos detalhes desta história e desenvolve seus argumentos sobre estas fontes. 

Como destaques adicionais, acrescenta histórias sobre Adão e sua relação (inclusive sexual) com demônios. Lilith e sua fama distorcida no ocidente, visto que segundo a literatura, nunca fora ela símbolo de independência feminina, mas que toda esta ideia de rejeição a Adão fora criada a partir de um texto denominado Alfabeto de Ben Sirach, obra de conteúdo antissemita que traz uma série de histórias bizarras sobre sexo e flatulências, que ganhou destaque através de discursos feministas do século XX. A influência que os egípcios teriam exercido sobre os israelitas e sua adoração pagã a animais e o sacrifício dos mesmos para aqueles demônios de lá. A Torre de Babel e a transformação de alguns de seus habitantes em diabos por seu desejo de praticar idolatria. Necromantes e a enganação que praticam ou sofrem, visto serem os demônios os agentes de suas predições sobre o futuro, demônios estes que atuam sob a supervisão do Deus de modo a testar a observância de suas regras. As disputas destacadas no Sepher ha-Zohar entre a Luz e as Trevas e a punição das almas no Gehenom. As tigelas babilônicas e seus feitiços, dentre outros.

O livro se encerra com um capítulo escrito pelo próprio rabino Zadok Hakohen e suas explicações sobre Cabala, a Árvore da Vida, as sephiroth e qliphot, sendo estas últimas, segundo o autor, as cascas de proteção criadas para que a pureza e potência do poder divino emanado não destruam a criação. A existência das qliphot e sua força negativa, entretanto, seriam o motivo para a confusão exercida sobre muitos daqueles que delas se aproximam e que se sujeitam as suas más influências, tornando-os tão impuros em alguns casos, que nada mais lhes resta, nesta ou em outra vida, se não o inevitável destino de tornaram-se eles próprios demônios em si.

Todos aqueles que conheçam minimamente personagens como Moises, Salomão, Ashmodeus, Azazel,  ou mesmo itens específicos como Urim e Tumim, dentre outros elementos da tradição judaica, entenderão a proposta desta publicação. Um livro de referências que indica certas fontes da magia, religião e crenças populares que pode ser aproveitado de forma igualmente proveitosa por curiosos, pesquisadores ou esoteristas que se apoiem sobre as bases tradicionais da magia ocidental.

por Allan Trindade



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sábado, 17 de outubro de 2020

A religiosidade yorubá é essencialmente rica. Sua cosmogonia e visão espiritual nos falam sobre uma incrível diversidade de deuses e espíritos que em suas próprias existências e individualidades, se conectam entre si, a nós e aos destinos de nossas vidas. E tudo isso surge não de uma especulação supersticiosa sobre a vida e o pós vida, como costumam alegar os descrentes para justificar seus ataques contra o mundo das religiões e da espiritualidade. Mas de uma visão empírica sobre a existência, que quando observada a partir de uma perspectiva natural, faz notar, sem muito esforço inclusive, que tudo está conectado. Pare e pense sobre como as chuvas afetam o clima. Como os ventos orientam os pássaros. Como aquela abelinha acolá é responsável pela disseminação do pólen que faz com que as plantas floresçam e garantam que o apaixonado possa entregar um buquê de flores como prova de seu amor para um ente querido. O quanto você necessita de tudo aquilo que está ao seu redor para viver e sobreviver.

Sim, estas são forças naturais, físicas por assim dizer, mas que, assim como nós, também são orientadas por uma origem espiritual. Ou ao menos assim nos dizem seus adeptos.

As diversas conexões existentes entre tudo aquilo que existe nos oferecem ainda uma outra conclusão: a de que tudo possui uma origem. Esta origem explica aquilo que é, e aquilo que é tende a definir aquilo que será. Nada é por acaso. E é sobre esta certeza que se baseia Ifá. 

IFÁ é um livro escrito por Fernandez Portugal Filho com 198 páginas divididas em 24 capítulos e foi publicado no ano de 2014 pela Madras editora.

Podemos nos maravilhar sobre a beleza destas conclusões filosóficas e poéticas, mas sabemos: a vida real não é sempre tão bela assim. E é claro que se podemos observar a beleza das coisas, a oposição sempre chega, mesmo que a nosso contragosto, para nos dizer que a feiúra também existe. E assim a vida é. Se somos rodeados de seres de origem material e espiritual simpáticos a nossa existência, também o somos por seres antipáticos, e por vezes, para conseguir viver bem é preciso saber a quantas anda nossa popularidade na comunidade que nos rodeia. 

Orunmilá, o deus da sabedoria, é o orixá responsável pelo oráculo conhecido como Ifá a qual também seu nome lhe é atribuído. Segundo a tradição yorubana, Orunmilá fora enviado para a Terra por Oludamarè, o deus supremo, de modo que pudesse consertar algumas coisas que andavam estranhas por aqui. Sendo Ifá conhecedor de tudo que existe, e na companhia de Exu, responsável por fiscalizar como tudo estava se dando, desceu, cumpriu sua tarefa e deixou para nós os instrumentos necessários para que o contatássemos quando necessário, visto nossa visão ser limitada, e a dele, transcendental. 

Mas calma, qual relação existe entre um oráculo que possui o nome de um orixá e o mundo dos homens e dos espíritos? Como dissemos nos parágrafos anteriores, Ifá nos abre os olhos para as coisas que não conseguimos ver, e nos explica as razões para tudo aquilo que existe e o que deve ser feito para neutralizar e positivar as situações que atravancam o nosso progresso físico e espiritual. Assim, o sacerdote de Ifá, também conhecido como babalawo, orienta o consulente sobre quais oferendas devam ser prestadas aos espíritos ou divindades, para que tudo fique normalizado na vida daquele o consulta. 

Percebe como esta lógica também se aplica a vida material? Uma pessoa isolada, de poucos amigos, antipática para com aqueles que a rodeiam, tende a ter mais dificuldades na sociedade em que vive, que uma pessoa mais extrovertida e querida por todos. Se temos a preocupação de estarmos bem com nossos pares físicos, a mesma preocupação deveria ser destinada a nossos pares espirituais, não?!

O método consiste em: o babalawo faz uso de uma série de instrumentos mágico-oraculares, sendo o principal deles conhecido como Opele, lança-os na tábua, interpreta as imagens formadas conhecidas como Odu a partir da memorização de centenas de versos que, de acordo com a tradição, relatam histórias e eventos das vidas dos orixás. De acordo com a história do verso, e o teor daquele acontecimento, o sacerdote então corresponde o evento ao que está passando na vida do consulente. A indicação de um ebó(oferenda) é então sugerida para que aquele eventual problema seja solucionado ou evitado.

Estes Odu consistem em uma sequência de dezesseis figuras binárias, contendo um ou dois pontos, em quatro linhas horizontais de formação. Da combinação destas dezesseis figuras, duzentos e cinquenta e seis pares são formados, e todas conjunções se conectam a milhares de versos a serem acessados pelo sacerdote de memória. Os ebós, enfim, também se dividem em diversos tipos para os mais diversos fins e espera-se que o consulente preencha determinados requisitos para que as coisas funcionem bem, tais como recitação de versos em yorubá e resguardos específicos para cada oferenda, que podem incluir elementos simples como mel ou ervas, até coisas mais complexas como pombos vivos e ratos secos.

Este livro de Fernandez Portugal Filho é organizado numa sequência de capítulos que primeiro introduz o leitor aos instrumentos usados pelo babalawo, passando pela mitologia de Ifá e sua relação com outros orixás, tais como Exu, Olorun e Oxalá, apresenta os dezesseis odus e toda a complexidade de relações e significados de cada um deles, incluindo alguns de seus versos, e conclui apresentando os diversos tipos de ebós e suas finalidades, além dos momentos lunares mais propícios para realizá-los. 

É um livro essencialmente introdutório, que apresenta ao leitor que nunca tenha tido contato com esta religião os elementos básicos de sua constituição, sem com isso ser excessivamente raso ou enfadonhamente específico. É completo a sua maneira: simples, instrutivo e esclarecedor.

por Allan Trindade


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sábado, 26 de setembro de 2020

 


O Livro das Mentiras, que é também falsamente chamado QUEBRA, os devaneios ou falsificações do pensamento único de Frater Perdurabo, cujo pensamento é, em si mesmo, falso.

Quebra, quebra, quebra ao pé de tuas pedras, Ó Mar! e se pudesse eu pronunciaria os pensamentos que surgem em mim!

O LIVRO DAS MENTIRAS é um livro em capa dura, escrito por Aleister Crowley, contém 224 páginas divididas em 93 capítulos e foi publicado no ano de 2019 pela Daemon editora.

Eis uma das principais obras de Aleister Crowley, famosa por sua excentricidade e estranheza. O Livro das Mentiras, ou Liber 333 (e ser a metade de 666 aqui também não é feito por mero acaso), é constituído de 93 capítulos encabeçados por numeração, a qual, baseada em conceitos cabalísticos, direciona o sentido dos textos, que são sempre compostos por títulos exóticos, versos, rituais, expressões filosóficas ou mesmo de amor, e suas explicações na página seguinte.

"... [nele] Existem 93 capítulos: nós contamos como capítulos as duas páginas preenchidas respectivamente com um ponto de interrogação e exclamação. Os outros capítulos contém as vezes uma única palavra, frequentemente de meia dúzia a vinte frases, ocasionalmente algo em torno de doze a vinte parágrafos. O assunto de cada capítulo é determinado mais ou menos em função da importância cabalística de seu número. Assim o capítulo 25 fornece uma versão revisada do Ritual Menor do Pentagrama; 72 é um rondel com o refrão "Shemamphorash" , o Divino nome de 72 letras; 77 Laylah, cujo nome acrescenta aquele número, e 80, o número da letra Pé, referenciado a Marte, um panegírico sobre Guerra. Algumas vezes o texto é sério e vai direto ao ponto, outras  seus oráculos obscuros demandam conhecimento profundo da Cabala para sua interpretação, outros contém alusões obscuras, jogo de palavras, segredos expressos em criptogramas, duplos ou triplos sentidos que podem ser combinados com o objetivo de apreciar seu sabor total; outros novamente são sutilmente irônicos ou cínicos. A primeira vista o livro é um poço de falta de noção criado para ofender o leitor. Ele exige estudo infinito, simpatia, intuição e iniciação. Dado estes fatos eu não hesitaria em dizer que nenhum dos meus outros escritos eu ofereci tão profunda e compreensiva exposição da minha filosofia em todos os sentidos..."
Confessions

Ter um conhecimento mínimo sobre Cabala e o diagrama da Árvore da Vida faz-se mister aqui, vide a constante referência a este sistema esotérico. O livro começa com um poema onde Frater Perdurado - um dos nomes iniciáticos de Crowley - traça o plano de existência e manifestação do Universo: Ain, Ain Soph, Ain Soph Aur, que classifica como " A Tríade Anterior Primordial Que é NÃO-DEUS "; Kether, Chokmah e Binah como " A Primeira Tríade Que é DEUS EU SOU "; Daath como " O Abismo ", e assim sucessivamente até a conclusão de todas as esferas. Sobre este capítulo diz que "...pode, então, ser considerado como o mais completo tratado sobre a existência já escrito. " 

Exagero? Talvez. Errado? Está. Correto? Também!

Tudo isso pois o livro fora escrito sob a perspectiva de um alguém que, segundo a estrutura de seu próprio sistema mágico, religioso e filosófico - mas não apenas -, transcendeu o plano intelectual da dualidade, e alcançou uma visão e perspectiva sobre cada elemento da existência como conectado a fatores transcendentais à dicotomia vista a partir das perspectivas daquelas que não alcançaram tal posto. Logo, todo e qualquer binarismo é unido, afirmado, separado, negado, em um intercruzamento não linear de ideias e transcendido pela perspectiva da não divisão. Em outras palavras, o livro é assim chamado por conter em si ideias que são tão verdadeiras, e, ou, falsas, como tudo aquilo que é pertencente e percebido através da visão de quem ainda enxerga a vida a partir da perspectiva da Terra. 

O Livro das Mentiras é também o Livro das Verdades.

" O número do livro, 333, implica dispersão, de modo a corresponder ao título 'Quebra' e 'Mentiras'. Entretanto,  'o pensamento único é, em si mesmo, falso' e, portanto, suas falsificações são relativamente verdadeiras. Logo, este livro consiste em declarações tão verdadeiras quanto possível para a linguagem humana. "
Comentário

Mas não pense que toda esta aparente complexidade torna sua leitura impossível de ser compreendida por leigos. Alguns textos são absolutamente simples e não carregam nada além de uma mensagem direta para o leitor, como a indicação para não negligenciar as meditações diárias e matinais, por exemplo. Assim como alguns rituais, como a Missa da Fênix, que é exposta em sua completude nesta publicação, sem qualquer elemento misterioso sobre sua execução. Para além disto, dispormos desta edição em língua portuguesa e traduzida por thelemitas torna tudo ainda mais interessante, vide o cuidado e atenção para com o uso das palavras - que sabemos que os mesmos tiveram inclusive pela adição das notas de rodapé - , de modo que a essência de texto tão complexo não seja totalmente perdida. 

Liber 333 é essencial para todo thelemita e todo aquele interessado na obra de Crowley. Fora a partir da publicação deste livro que, segundo assim nos conta seu autor, o Outer Head of the Order da Ordo Templi Orientis teria entrado em contato com Aleister, alegando que o mesmo havia publicado os segredos de sua Ordem para-maçônica, tendo conferido a ele assim, o Grau IX da referida Sociedade. 

A partir desta publicação muitas coisas mudariam especialmente no contexto mágico e religioso de Thelema, mas isso já é assunto para uma outra história...

por Allan Trindade


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sábado, 22 de agosto de 2020


- VADE RETRO SATANA! Me diga seu nome! - ordenou o padre à jovem que, possuída e fragilizada pelas forças demoníacas que ocupavam seu corpo, naquele instante se debatia e mostrava os dentes como uma fera aprisionada e raivosa.

- Um, dois, três, quatro, cinco, seis! - disse enquanto tentava arrancar com as unhas a pele do sacerdote da Igreja de Roma.

- Demônio! Liberte esta serva de Cristo e me diga seu nome! 

- Um, dois, três, quatro, cinco, seis!

- Satã, inimigo da fé! Me diga seu nome, serpente das trevas!

- NOMES! NOOOOOMES! Nosso nome é Legião, pois nós somos muitos!

RITUAL ROMANO: EXORCISMO é um livro em quadrinhos criado por El Torres com 119 páginas, divididas em 4 capítulos e foi publicado no ano de 2019 pela Darkside Books.

Possessão: o domínio de um corpo humano praticado contra um alguém que ainda esteja vivo, por alguma força de origem espiritual de um ser desencarnado ou ainda por alguma entidade præter-humana. Sem dúvidas um dos assuntos mais intrigantes pertencentes ao mundo da religião, especialmente explorado pela literatura e cinema através do viés cristão católico, e deveras banalizado pelas denominações pentecostais e neo pentecostais do protestantismo moderno. Quem nunca assistiu O Exorcista ou O Exorcismo de Emily Rose   está perdendo a oportunidade de conhecer dois grandes clássicos sobre o tema. Embora muitos desses filmes possam parecer pura ficção, eles sempre contém algo de realidade que fora usada para o desenvolvimento do roteiro. Não raras as vezes, esta parte de realidade costuma ser justamente aquilo que muitos gostariam que não fosse real...

Foi todo esse ar sinistro que permeia muito destas histórias que atraiu, desde a infância, a atenção de Paco Plaza, roteirista e diretor da série [REC] e Jogo Sobrenatural, que escreve no prólogo desta edição. Plaza considera carregar uma maldição: a maldição de sentir um forte desejo pelo sobrenatural, pelo monstruoso, pelo aterrorizante. É fato, como ele, existem muitos. E foi assim, e com essa sensação de que temos o mesmo gosto, que um dia encontrou os quadrinhos de El Torres, responsável pela produção da presente obra, junto de Jaime Martinez e Sandra Molina. E que bela obra esses três produziram! E que ótima edição essa da Darkside, não? Capa dura, diagramação impecável e ainda alguns mimos para envolver ainda mais o leitor com o clima da história: um marcador de páginas grande com o desenho de uma caveira, símbolo da editora feito para encaixar bem nesse livrão, uma base para apoiar copos inspirada nas hóstias católicas e uma cruz de madeira para você se proteger e não ficar com medo de dormir sozinho a noite.

Agora que já falamos sobre o que trata este livro e sobre a qualidade de seu conteúdo e forma, faz-se necessário deixarmos algo claro antes que você continue esta leitura. A partir daqui falaremos sobre a história em si - que sim, como o título sugere, trata de possessão e exorcismo -, e portanto teremos que dar um pequeno spoiler sobre qual o enredo se desenvolve. Nada que vá estregar a experiência da leitura, mas vale a pena te avisar. Portanto, se você é do tipo que não gosta de saber absolutamente nada sobre algo que está prestes a ler, melhor parar por aqui.

Tudo começa com um padre tendo sua cabeça decepada em meio aos corredores da Basílica de Pedro, no Vaticano. O sacerdote implorara por sua vida clamando a Deus que tivesse misericórdia, mas seu algoz não se importara com seu desespero, alegando que Deus simplesmente não está naquele lugar. 
Em outra parte do mundo, padre John, um jovem e problemático exorcista atende um caso de possessão: uma jovem que vivia amarrada a uma cama por ter seu corpo dominado por demônios. John, um dos melhores em seu cargo, cumpre a contento sua função. A jovem fora salva, mas ao retomar sua consciência, lhe diz: - Eles te enganaram, padre! Minha possessão fora apenas um plano para te despistar para que eles ganhassem tempo para seu plano maior!

Imediatamente um enviado da Santa Sé chega ao local com uma carta e uma convocação para que John voltasse imediatamente para lá. Ao chegar, em meio a aprovação de alguns e reprovação de muitos outros por sua escolha e histórico, um grande segredo lhe é confiado: o mais alto sacerdote da Igreja, o Papa, está possuído pelo demônio, e sua função é resolver esse problema!

Para todos aqueles interessados em uma história em quadrinhos de qualidade em todos os sentidos, Ritual Romano: Exorcismo, será um ótimo investimento.

por Allan Trindade


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sábado, 8 de agosto de 2020

O começo de século XX viu surgir um curioso título que prometia trazer um resumo das ideias basilares, supostamente constituintes da sabedoria espiritual e teoria mental do antigo Egito e da Grécia. Assinado por Três Iniciados da tradição esotérica ocidental, seria este o livro que a partir de então influenciaria uma série de argumentos e pensamentos espiritualistas, mágicos e esotéricos, dando margem inclusive para os recém auto anunciados, e bem mais modernos, lunáticos quânticos e suas teorias espúrias.

Sendo assim, e para que não haja confusão: não, o Caibalion não fala sobre física quântica ou mesmo sobre o que alguns dizem (ou pensem) que tal ciência é. O Caibalion é acima de tudo um livro que surge como um amalgamador dos fundamentos do pensamento esotérico ocidental que tem por base a seguinte ideia: O Todo é mente. O Todo é a Realidade substancial oculta em toda manifestação do Universo. Tudo que é existe é uma manifestação do Todo. O Todo existe em tudo e tudo existe no Todo.

O CAIBALION é um livro escrito por Três Iniciados com 126 páginas divididas em 15 capítulos e foi publicado no ano de 2008 pela editora Pensamento.

Tal conceito, se posto de forma solta e abstrata pode ser usado como elemento para uma série de teorias alucinadas que em muitos casos nada tem a ver com os elementos filosóficos ou espiritualistas que estão por trás deste parecer. Ao afirmar que o Todo é mental, os Três Iniciados nos apresentam uma ideia simples, porém, complexa, que pressupõe a existência de um criador que através de sua própria imaginação, por assim dizer, criou todo o universo em que vivemos. Sendo assim, tal como nós fazemos num sonho, ele participa como substanciador da própria "criação onírica", está na criação, sem entretanto ser a própria criação, pois é aquilo que está além. 

 Pense em si como um exemplo, caro leitor. Sua mente cria seu sonho, você participa, mas você não é seu sonho, certo? A mente é então o grande agente da criação do sonho. E se nós, seres humanos, somos capazes de imaginar e usar a mente para criar, logo, possuímos em nós um diminuto, porém, não desprezível, exemplo de como tudo possa ter se dado neste universo.

Somos um exemplo limitado do Ilimitado. E isto porque, diferentemente do Todo, que é aquele cria, para criar precisamos desprender partes de nós, tal como na reprodução biológica comparável a de outros animais, onde sêmen e óvulo se juntam para formar um descendente. E por isso não podemos ser comparados ao Todo a ponto de dizermos que somos iguais a. Porém, e também, nos distanciamos dos animais quando através de nossa mente somos capazes de imaginar e criar sem diminuição de nossa própria substância existencial, embora para que tais criações mentais se materializem no plano terreno, precisemos sempre de materiais para produzi-los. Por exemplo, você pode imaginar a sua futura casa, mas para criá-la, precisará de materiais e uma série de outros elementos para torná-la física. O Todo não despende substância de si pois isso implicaria diminuição de si mesmo, o que não pode ser. O Todo não necessita de ferramentas para criar, pois cria através de sua mente. O Todo é mente.

Sendo assim, embora tenhamos características que possam nos dar um sempre ignorante vislumbre sobre nossa própria natureza, o que nos capacita a controlar determinados aspectos de nossa vida agindo para além de nossos próprios instintos, não somos capazes de romper com determinadas leis universais que nos afetam a todos, e portanto, precisamos aprender quais elas são, visto que sim, apesar do pressuposto poder mental, elas existem. Assim, o Caibalion nos apresenta uma teoria sobre a qual toda a manifestação desta existência estaria sujeita: as sete leis herméticas.

  • I - O Princípio do Mentalismo: o Todo é mente e se manifesta através dela.
  • II - O Princípio da Correspondência: todas as coisas possuem conexões.
  • III - O Princípio da Vibração: nada está parado, a variante reside na intensidade do movimento.
  • IV - O Princípio da Polaridade: tudo possui dois lados.
  • V - O Princípio do Ritmo: tal como um pêndulo, tudo oscila.
  • VI - O Princípio da Causa e Efeito: tudo é consequência de algo.
  • VII - O Princípio do Gênero: tudo possui dois gêneros, a variante reside no grau. 


Assim, conclui-se que para um adepto conseguir alcançar certo controle sobre sua própria existência, faz-se necessário desenvolver a própria mente de modo que ela seja um agente de sua própria realidade, sem com isso iludir-se com a ideia de que seja ele próprio o Todo em si. O adepto hermético seria então aquele que tendo alcançado a plenitude do conhecimento e aplicação de tais leis, seria capaz de utilizar-se de seu conhecimento para em cada um destes sete princípios aplicá-los sob vontade, tornando-se causa e não mais efeito ou mesmo neutralizando conscientemente os efeitos de determinadas causas, ao invés de simplesmente sofre-las.

O Caibalion é um clássico moderno do esoterismo ocidental. Conhecê-lo e tê-lo em sua biblioteca é uma obrigação para todo ocultista sério, não apenas para seu próprio enriquecimento intelectual, como também para se prevenir da influência de muitos destes aluados que andam ganhando fôlego por aí.

por Allan Trindade


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segunda-feira, 13 de julho de 2020


A capa deste livro induz os incautos ao erro. Isso mesmo. 
A capa desta edição traz escrito em seu título
o nome Wicca para Homens. E qual é o problema nisso? Nenhum, não fosse o caso deste livro não ser o Wicca para Homens. A.J. Drew possui duas publicações de títulos muito semelhantes voltadas especificamente (mas não exclusivamente) para o público masculino. São elas: Wicca for Men [Wicca para Homens] e Wicca Spellcraft for Men [Wicca Feitiços para Homens], sendo a última aquela referente a presente publicação brasileira. E embora a capa esteja errada, a folha de rosto, ou seja, aquela primeira página que aparece logo que abrimos o livro e que geralmente repete o título da capa, traz o nome correto: Wicca Feitiços para Homens.

WICCA FEITIÇOS PARA HOMENS é um livro escrito por A.J.Drew com 224 páginas, divididas em 9 capítulos e foi publicado no ano de 2002 pela Madras editora.

Drew começa o livro de forma enfática e provocativa, dizendo que se você é o tipo de pessoa que acha que não existem diferenças físicas e biológicas entre homens e mulheres, o melhor que você tem a fazer é nem começar esta leitura. Isto pois, segundo o autor, homens e mulheres possuem características próprias de nascença, que fazem com que não possamos nos tratar como absolutamente iguais em todos os sentidos, sendo este livro indicado não apenas para aqueles que concordem com isso, mas também para todos que já tenham uma noção básica sobre a Wicca. Ainda sob esta perspectiva, o autor destaca que entende que mulheres tenham mais facilidade para se relacionarem com a Deusa, e os homens com Deus, e que não há nada de sexismo nesse tipo de aproximação, apenas um sentido de correlação. Atribui a culpa por toda esta divisão moderna ter-nos sido legada pela Igreja Católica, que durante muito tempo demonizara a mulher e em seguida a todos, dizendo que tudo é pecado, gerando com isso um sentimento moderno reverso, fazendo com que mulheres acreditem que não precisam de homens. Porém, segundo  A.J., nenhum sexo pode ser realmente independente do outro, nascemos como seres complementares.

Dividido em três partes, o autor inicia a teoria deste livro falando sobre sua própria experiência mágica, relatando que a eficácia de seus feitiços variava, ora sendo efetivos ora não, e que muito disso se dava por sua falta de conhecimento teórico que foi sanada após a leitura de Magick In Theory And Practice de Aleister Crowley. Segundo o autor, magia é apenas uma maneira de explicar leis ainda incompreendidas da natureza, que quando assim o forem, serão chamadas de ciência. Portanto, não deve haver oposição entre aquilo que se entende por magia ou aquilo que se sabe sobre ciência. Visto ser a mente a principal ferramenta da magia, o autor cita uma série de exemplos de doenças psicossomáticas ou mesmo curas alcançadas através do poder mental, indicando a inegável conexão entre aquilo que se crê e se tem certeza, se sente e se realiza. Levando em consideração a natureza dispersa da mente, e portanto, as dificuldades de trabalhá-la magicamente quando não a se tenha treinado, indica exercícios e métodos de observação para descobrir seus próprios padrões mentais e demais elementos que se relacionam aos sentidos, como a visão, o tato, olfato, paladar e a audição.

Drew recorda que este é um livro de feitiços, e portanto, faz-se necessário falar sobre a ética de seu uso neste campo. Para o autor, tudo isto é relativo. A Wicca ensina que todos tem o direito de fazer o que quiserem desde que não prejudiquem ninguém. Mas como considerar isso de forma absoluta, se, por exemplo, para sobreviver, animais carnívoros precisam se alimentar de outros animais? A ética deve ser então sempre uma medida pessoal, decidida por cada um a partir de seu próprio universo, convicções e emoções. 

Na segunda parte, esclarece que em você sendo um deus, sua ética também é a ética dos deuses, assim como a do próximo, idem. Entretanto, apesar de todo este panteão existente no mundo, que somos todos nós, o mundo também está infestado por demônios espalhados, escondidos e disfarçados em todos os lugares, por isso, é preciso saber lidar com eles, e os feitiços são uma ótima ferramenta. Sendo assim, a dúvida costuma ser a principal inimiga de seu sucesso. O autor alega que crianças geralmente pensam que podem fazer tudo pois poucos adultos lhes disseram que não poderiam fazer o que quisessem. Logo, sendo você um adulto que foi por tantas vezes censurado, é sua responsabilidade quebrar estas barreiras e convencer-se da certeza que é capaz.  Oferece então uma série de sugestões de rituais para serem feitos neste sentido, relacionados a sonhos e tudo mais pertinente ao astral e ao subconsciente, e até para disputas políticas, pessoais e sociais, visto que a atitude combativa deva ser praticada para a derradeira vitória.

Por fim, na terceira e última parte, o autor traz uma enorme lista de receitas de incensos e tinturas e óleos mágicos, relacionando deuses de diversas culturas, chakras, planetas e tudo mais. E esta é, sem dúvidas, umas das melhores partes deste livro. À todos aqueles que veem na magia algo para além do pensamento positivo, é neste ponto que você será levado a acender seu caldeirão.

Wicca Feitiços para Homens é um livro interessante, dividido em teoria e prática, à melhor maneira da bruxaria tradicional: com muitas receitas de óleos, ervas e incensos para tornar o bruxo e o ambiente sempre envolvido com todos os elementos naturais possíveis para a execução de seus feitiços, feitiços que aqui, são destinados para quase todos os fins. É, por vezes, também militante, considerando que o wiccan deve se envolver com questões que transcendam seu próprio microcosmo e alcance questões sócio ambientais, em defesa dos animais, florestas e de tudo que envolva a natureza em seu sentido puro. É bom, especialmente se usado como um livro de receitas.

por Allan Trindade





domingo, 21 de junho de 2020

Os tempos modernos e a facilidade de acesso ao conhecimento parecem ter dado ao estudo do ocultismo um desenvolvimento nunca antes visto em sua história. Se imaginarmos as dificuldades que aqueles que vieram antes de nós provavelmente tiveram para fazerem suas investigações, sem acesso a internet ou mesmo bibliotecas físicas e virtuais, poderemos ter uma noção do esforço que fizeram para chegar aonde chegaram. E talvez isso também explique o porque de muitos destes terem se destacado não apenas neste campo do conhecimento mas em muitos outros, igualmente, ou quem sabe, ainda mais importantes para o desenvolvimento da humanidade. 

Nos dias de hoje declarar-se ocultista costuma gerar dois tipos de reações que em muitos casos estão relacionadas as próprias posturas e convicções dos indivíduos que assim o ouvem. Para alguns, tal enunciação gera um certo espanto, pois creem que aquele que assim se intitula seja alguma espécie de ser das trevas que faz pactos com demônios, assassina crianças nas horas vagas, veste um avental e conspira para, através de algum plano mirabolante, dominar o mundo. Para outros, tudo isso não passa de uma tolice e perda de tempo, e são estes também que costumeiramente nos comparam aos tipos bizarros que se apresentam em redes sociais ou programas televisivos, prometendo trazer o ser amado em 24 horas por uma boa quantia em reais, que dizem que podem provar a existência de Deus através da "física quântica", ou que falam por aí que bolores oriundos de infiltração são na verdade almas grudadas em seu banheiro. 

É mesmo uma pena que a ignorância e a falta de divulgação e pesquisa tenham criado esses tipos de conceitos sobre este caminho que sempre buscou entender o espiritual de forma racional e as razões para a nossa existência neste planeta. Quem sabe se um dia nas escolas tivessem nos ensinado que Isaac Newton fora um físico mas também um ocultista, as pessoas levassem tudo isso mais a sério. Que Platão fora um filósofo mas também um ocultista de seu tempo, as pessoas levassem tudo isso mais a sério. Que Pitágoras fora um matemático mas que provavelmente adquiriu seu conhecimento através do templo do deus Ptah, no Egito, e por isso seu nome, "Ptahgoras", as pessoas levassem tudo isso mais a sério. As personalidades históricas são várias. Os feitos, grandiosos. As conexões, inegáveis. 

Mas tudo bem que alguns não levem o ocultismo a sério. Pois ainda existem aqueles que assim o fazem.

MAGIA TRADICIONAL é um livro escrito por Kayque Girão, com 128 páginas, divididas em 3 três partes e foi publicado no ano de 2019 pela Daemon editora.

O imaginário humano. Assim nos introduz nesta obra Rafael Resende Daher, levando-nos a refletir sobre como nossa mente fora capaz de pensar os mais diversos tipos de seres fantásticos, tais como espíritos e deuses sob as mais diversas formas e personalidades, para explicar este estranho sentimento do além. Não, o editor não sugere que a imaginação seja um elemento isolado e destacado da realidade, como se tivesse a única função de preencher uma lacuna neurótica presente em nossa mentalidade, pintando em nosso imaginário o absurdo. Nem tampouco nos parece esta uma premissa ateística. Mas sugere que a imaginação seja também uma ferramenta usada por nosso cérebro para nos conectar aquela estranha sensação da existência do espiritual, que por não podermos provar, ou perfeitamente explicar, nos força a comparar e imaginar.

A partir desta premissa, o próprio avanço científico e desenvolvimento do homem em busca da verdade fora capaz de alterar a maneira como a imaginação sobre o divino deu-se no decorrer de milhares de anos, para alguns, sempre baseada sobre esta mesma certeza do além. Deus poderia até mudar de forma, ou mesmo posição, as  vezes visto de maneira verticalizada, as vezes horizontalizada, ou até mesmo negado, mas sempre presente. Da sua imaginação e função, toda uma miríade de seres, conceitos e sistemas surgiriam com a genuína intenção de compreender. Daí nasceria então a filosofia oculta.

Daher introduz a obra destacando o trabalho de pesquisa de Kayque Girão, os temas abordados pelo autor, tais como o da Astrologia, dos sonhos e das drogas, sua lucidez e fundamentos para tratar do ocultismo sem com isso ignorar sua evolução de prática e desenvolvimento de seu conhecimento. 

Girão abre o livro nos falando sobre as conexões existentes entre a Magia e a Astrologia, da importância que a última tivera para agricultores a partir da observação de correlações entre o movimento dos astros, os plantios e colheitas, estações e demais conhecimentos adquiridos e associados, fazendo com que o astrólogo, que predizia, se tornasse também o mago, que controlava, conectando ambas as funções em um só ofício. O desenvolvimento do próprio conhecimento fez com que tal ciência se tornasse cada vez mais complexa, e aparentemente inacessível para aqueles que não lhe fossem totalmente dedicados. Para além disso, elementos religiosos acabaram por mesclar-se as próprias ideias astrológicas fazendo com que tal ciência se dividisse em vários segmentos, ora alinhados com elementos mágicos e magia talismânica, ora separados e voltados para uma relação especulativa com o divino e o destino do homem. Expoentes renomados destas ideias são apresentados  de forma mais ou menos cronológica, além de elementos religio-sócio-políticos de cada local e época, que neste ensaio, visam, conforme afirmação do autor, demonstrar que a Astrologia não é tão complexa como parece, especialmente em tempos de facilidade tecnológica.

Na segunda parte do livro, Kayque nos fala sobre drogas, o uso de tais substâncias no decorrer do tempo pelas mais diversas culturas, tais como: os hindus e gregos com o vinho, os judeus e a maconha, thelemitas, tal como Crowley, e a cocaína, além de citar Abramelin e o uso de seu óleo sagrado, provavelmente adicionado a canábis, e sua experiência com uma feiticeira que dizia poder comunicar-se com outras pessoas a quilômetros de distância quando besuntada por seu unguento.
Aqui o autor expõe ainda sua experiência pessoal com o fumo, lá pelos idos de 2014/2015, quando trabalhava como médium de Umbanda, percebendo então a conexão que o mesmo estabelecia com os espíritos, alterando o espaço e as consciências com sua fumaça, além de relatar suas vivências com o chá conhecido popularmente como Ayahuasca, ou Santo Daime.

Na terceira e última parte,  Girão nos fala sobre o ato de sonhar ser intrínseco a humanidade, e portanto, pretende traçar um caminho intermediário entre os extremos do academicismo e do misticismo, de modo a auxiliar o buscador em sua senda onírica. Ressaltando que o trabalho psicológico se faz tão importante quanto o mágico neste quesito, vide que em muitos casos os sonhos tratam simplesmente de nossas vivências ordinárias, a Arte Onírica encerra a obra.

Kayque Girão nos introduz a cada um dos temas com a qualidade que há anos vem apresentando em seus textos publicados nas redes sociais. A exposição de suas ideias nestes ensaios, com seu pensamento crítico, experiência pessoal, citações de autores clássicos e modernamente já consagrados, além de bibliografia, deixam claro que o ocultismo nacional tem, sem dúvidas nenhuma, um ótimo futuro pela frente se orientado por autores e trabalhos que compartilhem deste nível de qualidade. 

por Allan Trindade


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sábado, 13 de junho de 2020

Em um tempo onde pessoas clamam pelo retorno de sistemas 
políticos e ideológicos dignos das mentes
mais atrasadas e boçais, nunca se fez tão necessário o estudo da história. Divulgar elementos do nosso passado enquanto sociedade e seres que tendem a repetir biológica e ideologicamente ações herdadas de nossos genitores, torna-se elemento fundamental  para tentar  evitar que aqueles mais suscetíveis aos discursos inflamados dos fanáticos e idólatras, não sejam infectados por suas falácias de "nos dias de hoje" ou "na minha época não era assim", induzindo-os a falsa ideia de que somos, enquanto seres humanos, absolutamente diferentes de nossos antepassados. 

Não há dúvidas, as coisas mudam. Porém, mudanças tecnológicas tendem a ser muito mais rápidas e eficientes que mudanças fisiológicas. Se podemos dizer que nos últimos 100 anos a humanidade alcançou avanços científicos nunca antes vistos em nossa história, biologicamente mudamos pouco ou quase nada em relação a nossos ancestrais de 4.000 anos atrás. 

Se podemos afirmar que o apaixonado grego ao trovar seus versos expunha e imortalizava seu amor através de suas palavras, atravessando as barreiras do tempo e encontrando correspondência no coração dos amantes dos dias de hoje, o mesmo pode se dizer daquelas também palavras milenares que propagavam o ódio contra o diferente, continuamente sendo reproduzidas através da boca de alguns cristãos, ideólogos políticos e relacionados até a presente data. 

Tal como o amor, o ódio não é uma exclusividade dos nossos tempos. Mas o despertar de flagrantes manifestações de burrice e ignorância frente a facilidade de acesso ao conhecimento tal como nunca antes vista, parece ser mesmo um fenômeno inédito e característico desta era.

Se antes poderíamos dizer que as pessoas tomavam determinadas atitudes por serem analfabetas ou não terem acesso ao conhecimento, qual será a desculpa para, nos dias de hoje, ainda existirem indivíduos que pensam e agem como neandertais, sedentos por discriminar, agredir ou matar o outro apenas por ser diferente?

LIBER QUEER é um livro escrito pelos membros do Círculo da Viada Chama Púrpura, com 213 páginas divididas em 24 capítulos e foi publicado no ano de 2019 de maneira independente.

Acredite, a homossexualidade sempre existiu em meio a humanidade. É um fenômeno tão comum quanto qualquer outro, encontrado inclusive em meio ao comportamento de animais não humanos. Você provavelmente já deve ter visto dois cachorros machos tentando fazer sexo entre si. Ou mesmo duas cadelas. Assim como os golfinhos que em sua adolescência ensaiam o sexo antes de reproduzirem com as fêmeas. Ter consciência disto não implica que você precisa fazer o mesmo. Nem tampouco que você tem o direito de impedir o outro. É simples, não?

Nada incomum. Nada anormal. Tudo devidamente evidenciado pela ciência e registrado  na história. E se por um lado temos algumas religiões que tentaram e tentam criminalizar tal comportamento, toda uma série de outros sistemas místicos sempre trataram tal fenômeno tal como ele é: uma parte intrínseca da existência humana. E para apontar tais fatos que o Círculo da Viada Chama Púrpura reuniu uma série de indivíduos LGBTQI+, para falar não apenas como membros desta comunidade, mas como graduados academicamente, e portanto, qualificados cientificamente para participarem da produção desta obra.

O objetivo aqui pode ser dividido em três aspectos:

Primeiramente objetiva apropriar-se do termo e ideal queer, traduzir e correspondê-lo a palavra que mais se aproxime do mesmo sentido em seu original. Queer em inglês representa tudo aquilo que é excêntrico, marginal, exótico, bizarro e sexualmente reprovável. Perceba que aqui dizemos que não se trata de ser excêntrico OU marginal, exótico OU bizarro, mas tudo isso amalgamado num só conceito. Isto é o queer. Refletindo sobre qual palavra em nossa língua mais se aproximaria daquela, concluíram então que 'viado' seria o mais adequada para tal, visto que tal como seus co-semelhantes estrangeiros, a apropriação do xingamento representa também uma atitude política de empoderamento frente ao constante processo de naturalização da discriminação e assassinato de homossexuais e relacionados. Tal atitude poderia ser traduzida como: " Sou viado mesmo, e daí?! ";

Em segundo lugar o livro visa elencar os elementos históricos que apresentam indivíduos LGBTQI+ sob as mais diferentes funções religiosas e correlações divinas, apresentando uma série de estudos onde tais pessoas eram não apenas conhecidas e aceitas dentro das sociedades antigas, como também e em muitos casos, adoradas como divindades encarnadas vide sua excentricidade frente a dicotomia do gênero estabelecido, a saber homem e mulher, transcendendo tal dualidade. Ou mesmo no campo da sexualidade onde homens poderiam ser adorados por outros homens com intenções místicas e sexuais, de tal modo que cidades e religiões inteiras foram criadas para este propósito. Aqui tratam ainda daqueles seres espirituais, deuses e deusas que foram capazes de mudar suas formas e sexualidade apenas pela possibilidade de contato com outros seres divinos ou mesmo seres humanos;

Como um terceiro e último elemento, a edição nos apresenta uma série de rituais, listas de correspondências, instruções para altares e até mesmo sigilos e pantáculos voltados para o fortalecimento e proteção do público LGBTQI+.

Liber Queer pode ser visto como uma espécie de manifesto. Tal publicação não tem uma intenção puramente literária, mas social e política. Tal como o queer, agrega tudo, discrimina nada. Visa preencher a lacuna sentida por muitos membros de tal comunidade que nunca puderem se ver representados nas modernas publicações religiosas ou ocultistas, sendo também e sempre relegados ao campo da indiferença, negação ou rejeição. Aqui, gays, lésbicas, bissexuais, transsexuais e todo o conjunto de indivíduos pertencentes a este universo contribuem, cada um a sua maneira, com um pouco de sua vivência e sugestão para que todos possam encontrar também na magia um pouco de amor e muito mais de paz.

" tomai vossa fartura e vontade de amor como quiserdes, quando, onde e com quem quiserdes!" - AL I:51

por Allan Trindade


quarta-feira, 20 de maio de 2020

Conheci F. há cerca de 10 anos atrás. Desde o primeiro dia sabia que seríamos grandes amigos. Isto porque ele era até então uma das únicas pessoas que conseguia conversar comigo sobre todos os assuntos que sempre me fascinaram: magia, religião, ocultismo, psicologia, alquimia... Nos encontrávamos sempre que possível e ficávamos por horas a fio falando sobre os mais diversos temas.

Eu sempre soube que ele era gay, mesmo quando ele, por vergonha ou qualquer outro motivo, negava. Seu jeito afeminado fazia com que as pessoas especulassem coisas sobre nossa relação, que sempre foi da mais pura amizade. Eu, que desde a adolescência aprendi a não dar a mínima para a opinião alheia, especialmente a opinião de gente burra e maldosa, ria junto dele da cara destes tipos. Para mim, o cérebro de alguém inteligente sempre valeu muito mais que mil línguas de gente da família dos asininos ou dos muares. Mas nós bem sabemos que a cada dez faladores, sempre existe um que resolve tomar uma atitude.

Era madrugada e voltávamos para casa depois de mais uma dessas agradáveis noites de conversa. Ele, aquariano e um pouco desatento, caminhava pela calçada de forma despreocupada, falando e rindo alto, exibindo seus trejeitos, enquanto eu, leonino nato, compartilhava suas gargalhadas mas permanecia atento a estrada deserta. De repente, algumas quadras a frente, um carro surgiu virando a esquina. Em princípio vinha em velocidade normal mas logo reduziu. Rapidamente direcionei minha atenção para a cena. F. continuava falando como se nada estranho estivesse acontecendo.

Um homem do banco do carona pôs metade de seu corpo para fora da janela com uma coisa preta na mão, em forma de tacape. O carro repentinamente acelerou. F. se assustou com o barulho e logo percebeu que estávamos em perigo. A calçada era curta, não havia muito o que fazer. Ao se aproximarem em alta velocidade, o homem tentou acertá-lo na cara com aquilo que, imagino eu, era o tapete de borracha do carro enrolado como uma arma. F. saltou para o meu lado para se esquivar e fomos os dois direto para uma parede chapiscada, ralando nossos braços e tronco. 

Poucos segundos depois e alguns metros a frente, o homem gritou:
- VIADO, FILHO DA PUTA!

Pegamos um táxi e voltamos para casa ainda assustados com toda a situação. Nada de pior, felizmente, nos aconteceu. Mas infelizmente esta não é a realidade de muitos. 

A homofobia discrimina, machuca, mata. E ela não surge do nada, é teorizada, propagada e fundamentada na maior parte das vezes através de um livro, um livro religioso chamado Bíblia Sagrada. 

Mas afinal de contas, o que a Bíblia ensina sobre a Homossexualidade?

O QUE A BÍBLIA ENSINA SOBRE A HOMOSSEXUALIDADE é um livro escrito por Kevin Deyoung, com 193 páginas divididas em 12 capítulos e foi publicado no ano de 2015 pela Fiel editora.

Antes de mais nada faz-se necessário criarmos um parenteses aqui: não, a Bíblia não é a única fonte para a homofobia. O ser humano é um animal que naturalmente discrimina seus pares pelos mais diversos motivos, sem com isso necessariamente precisar de qualquer justificativa lógica. Entretanto, a atitude discriminatória, quando surgida naturalmente, costuma procurar algum tipo de referência para justificar sua postura. Assim, por exemplo, se uma criança branca, que vive em meio a crianças brancas, considera estranha a presença de uma criança preta em sua sala de aula, se seus responsáveis não lhe derem a devida orientação sobre o fato da multiplicidade étnica existente no mundo, e ainda apoiar sua estranheza dizendo que crianças pretas não deveriam estar ali, as chances desta criança branca não apenas crescer como uma racista mas ainda incentivar as outras a terem a mesma atitude, é muito grande. 

Perceba então que temos uma fonte espontânea, ou seja, o sentimento de diferença sentido pela criança em sua comparação de cores, justificado e incentivado por seus pais racistas. O mesmo processo pode ser observado na questão homossexual. Vale ressaltar ainda que embora possam surgir em nós reações estranhas frente ao diferente, este sentimento pode ser induzido por outrem. Em outras palavras, uma criança que nunca tenha considerado tratar seu coleguinha de forma diferente por ser afeminado, por exemplo, pode ser incentivada por ser seus pais a discriminá-lo por acreditarem que este é um comportamento errado ou pecaminoso. Enfim, consideramos a multiplicidade de origem para um comportamento discriminatório, mas observamos que de uma forma geral, em nossa sociedade, a homofobia, ou seja, o medo e ódio contra pessoas e  atitudes consideradas homossexuais tem sempre se justificado por argumentos bíblicos.

Em sua introdução, Kevin Deyoung esclarece que embora a Bíblia não seja um livro sobre homossexualidade, a Bíblia fala explicitamente sobre este assunto. Já em seu princípio, destaca que para entender os argumentos daquele livro, faz-se necessário entender seu objetivo e método. Para tal, propõe uma volta as origens, mais especificamente em Gênesis, onde o Deus de Israel criara o homem e o jardim do Éden, e em seguida Eva, para que vivessem em paz. A queda os teria feito então sair de seu estado original e abençoado, e com isso, uma nova perspectiva se criava: o homem precisava retornar a seu estado de santidade e a única maneira para alcançar tal modo, seria mantendo-se casto. Por castidade, termo que poderíamos também definir como sinônimo de puro de objetivo, entende-se que este mesmo Deus criara uma série de regras a serem cumpridas, de modo que só através de sua observância, o homem poderia então retornar a seu estado original. No tocante ao sexo, ele poderia ser feito, desde que com o objetivo principal da procriação.

Sendo assim, o ser humano deve então: cumprir as diretrizes estabelecidas por Deus, fazer sexo para fins reprodutivos, longe das lascívia e orar para que tenha a chance de adentrar no Reino dos Céus.
Anos se passaram porém sem que o homem de fato cumprisse todas as regras estabelecidas pelo Deus, e sua degradação tornara-se cada vez maior. 

Os judeus teriam visto então surgir em seu meio um suposto messias, chamado Jesus, que teria vindo não para negar a antiga Lei, mas para afirmá-la, embora tenha feito pequenas modificações aqui e acolá, incluindo elementos interpretativos da mesma. A partir deste messias, que seria considerado pelos cristãos o próprio Deus encarnado, outros homens viriam para destacar a importância da observância de seus mandamentos. Paulo seria então uma destas figuras de maior proeminência. 

Mas o que teria toda esta história a ver com a homossexualidade? Segundo o autor, a Bíblia é um livro atemporal, cunhado como um manual de regras para que o cristão alcance a pureza estabelecida pelo Deus de Israel, transfigurado agora sob o nome de Jesus. Este livro estabelece que dentre estas regras, existem aquelas que são consideradas mais ou menos importantes, ou ainda pecados menores e maiores segundo as vistas deste Deus. Desvios como o de tocar em mulheres menstruadas diziam respeito as questões de pureza relacionadas especialmente aos sacerdotes, glutonia aos malandros e indivíduos já majoritariamente transviados que porém, ainda podem ser libertos, divórcio, que embora proibido, poderia ser então considerado em casos de adultério. Porém, seja no Antigo ou Novo Testamento, nenhum porém é garantido para a prática da homossexualidade, sendo este um pecado considerado uma abominação sob os olhos daquele Deus, um crime passível de morte dentre os judeus, e considerado um impeditivo para a entrada no Reino dos Céus pelos cristãos. 

Para o autor, este é um fato inconteste: embora possam haver crimes de igual nível abominável, nenhum pecado é maior que um homem se deitar com outro homem. E destaca ainda que se a Bíblia quase não fala sobre a questão homossexual, isso se dá pelo simples fato de que todos daquela época estavam plenamente cientes que esta prática não era aceitável.

 Segundo ele, este livro fora escrito então para um destes três tipos de pessoas:

convictos: que sabem que a homossexualidade é um pecado;
contenciosos: que espera que se os elementos textuais, exegéticos e lógicos expostos aqui não forem suficientes, que saibam que estão recorrendo a argumentos não bíblicos;
confusos: para os quais espera poder elucidar todas as questões sob a luz das Escrituras.

O Que a Bíblia Ensina Sobre a Homossexualidade é um livro bastante completo a sua maneira. Responde de forma lógica as principais questões levantadas por liberais cristãos ou defensores da causa gay, sempre fundamentando seus argumentos com versículos daquele livro sagrado. Sua exposição faz uma viagem desde a criação em Gênesis, passando por Sodoma e Gomorra, Romanos e Coríntios, incluindo uma observação sobre a suposta natureza amorosa daquela Deus. Traz ainda três apêndices que tratam sobre o casamento homossexual dentro da sociedade contemporânea, a atração homossexual, e a igreja: seus compromissos e a homossexualidade.

Kevin Deyoung é acima de tudo respeitoso em sua exposição, deixando claro que a declaração de sua fé, e seus dogmas, visto que é um cristão, de modo algum justificam qualquer tipo de agressão ou violência contra quem quer que seja. Embora seja opinativo em seus apêndices, e até levemente tendencioso neste ponto, é majoritariamente teológico em seu conteúdo. Não deixa dúvidas de que a Bíblia de fato condena enfaticamente, e sobre a maioria dos outros pecados, a prática da homossexualidade, e qualquer indivíduo coerente se sentirá impelido a concordar com suas conclusões.

Entretanto, concordar que um determinado texto afirme tal coisa, não significa considerar que tais afirmações devam ser aplicadas e praticadas por não cristãos, que sejam legalmente cabíveis para uma sociedade laica, ou mesmo que sejam lógicas para os nossos tempos.

"Dai a César o que é de César." Mt 22:21


por Allan Trindade


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sábado, 16 de maio de 2020

Segundo Frater U.D, a prática dos sigilos, tal como cunhada por Austin Osman Spare, é uma das formas mais eficientes para convencer curiosos e praticantes sobre a eficácia da magia, justamente por sua simplicidade de execução, independência de misticismos e sistemas mais complexos.

Mas será tudo assim tão fácil?

PRACTICAL SIGIL MAGIC é um livro escrito por Frater U. D. com 140 páginas, divididas em 9 capítulos e foi publicado no ano de 2012 pela Llewellyn Publications.

Em seu primeiro capítulo, o autor nos apresenta as grandes mudanças vistas no final do século XIX  e começo do século XX, destacando a forte presença de Austin Osman Spare, sendo depois de Aleister Crowley, um dos ocultistas mais interessantes do mundo inglês. Fora este indivíduo, que seria usado como referência para grande parte das teorias envolvendo o uso dos sigilos, que a sua maneira fundamentou a base sobre a qual se apoiam muitos dos métodos de uso dessa ferramenta mágica.

Os tempos eram de florescimento de ideias sobre a psicologia humana, seu modus operandi, e personalidades que se consagrariam cada vez mais como fundamentais para o entendimento da psique do homem, tais como Freud e Jung, propagavam conceitos que influenciaram não apenas o mundo comum, mas de forma igual as mentes de ocultistas de seu tempo, transformando de maneira irreversível aquilo que seria produzido dentro do contexto esotérico vindouro. Assim, muito daquilo que era dito até então sobre como a magia funcionava, de um modo geral sua eficácia sendo atribuída a ação de espíritos, daria então lugar a teorias sobre o ID, ego e superego, consciente e subconsciente, neuroses e sincronicidades. 

A tradição mágica, por sua vez, sempre manteve em seu espaço desenhos estranhos, muitas vezes considerados rabiscos ininteligíveis pelo vulgo, que guardavam em si uma intenção própria, um objetivo pré-definido e oculto. As formas mais conhecidas, geralmente encontradas nos grimórios clássicos e presentes nos pantáculos planetários, de uma forma geral, eram produzidas a partir de métodos cabalísticos e na maioria dos casos, eram usados para a fabricação de talismãs.

A junção do clássico com o moderno então produziu o conceito de que o homem continha em si todas as potencialidades para alcançar seus próprios objetivos, sem a necessidade de atribuir a potências planetárias, espirituais, ou externas por assim dizer, a consecução de seus intentos. Os sigilos então passariam a ser fabricados não mais apenas por kameas, mas também através de fórmulas de desejos simples, e simplificadas, que uma vez absorvidas, burlariam o sistema de defesa mental do homem e tornariam seus intentos reais.

Aqui, pragmatismo é a palavra chave. Tudo deve ser feito de forma desprendida de ânsia de resultados ou mesmo crença. Fazer a coisa conforme manda a fórmula deve ser suficiente. E se a fórmula não funcionar, tente de outra maneira. Não há dogmas, não há limites, não há moral, você é seu próprio agente, medidor e guia.

Segundo U. D., baseando-se nas ideias práticas do já citado magista inglês, a magia ocidental se apoia sobre dois pilares: vontade e imaginação. Sendo assim, você precisa de não muito mais que isso para que a mágica seja feita. Seu principal  método é relativamente simples e consiste em primeiramente definir um desejo. Em seguida, faz-se necessário expressá-lo numa folha de papel em letras garrafais, por exemplo: É MEU DESEJO GANHAR O LIVRO X. Todas as letras repetidas devem ser então eliminadas, mantendo apenas a primeira: se a letra E aparece por duas ou mais vezes, elimine todas as outras, mantendo apenas uma. Deve-se então repetir este processo com todas as letras até que restem apenas um conjunto de letras que será unido, manipulado e transformado ao gosto do magista numa forma pictórica, um desenho, que será então usado para ser implantado no subconsciente através de métodos que alterem a consciência do indivíduo, produzindo um vácuo momentâneo, seja usando ilícitos, através do orgasmo ou outros, para  que assim aquela semente plantada possa germinar como advinda de algum lugar esquecido da floresta da sua mente. E pronto! Uma vez concluído todo o processo, basta continuar com a normalidade da vida.

O livro segue ainda tratando da evolução dos próprios conceitos da fabricação dos sigilos. Da relação com o Zos Kia Cultus, a IOT e Magia do Caos. De métodos outros como aqueles que usam o mesmo processo para criar mantras ou ainda acessar os aspectos animais presentes em nossa 'subconsciência biológica'. Do alfabeto do desejo, tema ainda bastante discutido nestes meios. E finaliza então fazendo uma volta as origens, tratando da fabricação dos sigilos através dos métodos tradicionais cabalísticos.

Frater U.D. mais uma vez expressa seu talento ao apresentar um livro que trata sobre um tema bastante popular, e normalmente vulgarizado, que através de sua escrita ganha os ares da fundamentação histórica, teórica e prática necessárias e esperadas por todo ocultista sério, sem com isso ser prolixo. Este livro resume e cobre as diversas formas da fabricação de sigilos, deixando claro para todos que a partir das informações contidas aqui, qualquer um terá o fundamento necessário não apenas para produzir os seus próprios, mas ainda inovar, criando métodos pessoais. Desnecessário dizer que este livro é obrigatório na biblioteca de qualquer um que a preze.

por Allan Trindade



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