quarta-feira, 25 de julho de 2018

A teoria do Big Bang, que afirma que o Universo explodiu do nada, é um reflexo exato do ensinamento cabalístico de que Deus precisava criar um espaço vazio em Seu Ser Absoluto para iniciar o processo da criação. Esse recuo para criar espaço é conhecido como tzimtzum. O ensinamento diz que a Luz foi derramada no espaço, ou no Ventre Cósmico, num padrão de expansão e contração, criando a matriz original da Árvore da Vida. Era necessário haver dualidade para que a Luz fosse contida, do contrário teria fluído eternamente sem forma. pg 40


CABALA PRÁTICA SEM MISTÉRIOS é um livro escrito por Maggy Whitehouse, com 103 páginas, dividas em 15 capítulos e publicado no ano de 2013 pela editora Pensamento.

Já fazem alguns anos que a cabala ganhou notoriedade pública, especialmente depois que alguns artistas, tais como Madonna, assumiram sua relação com seus ensinamentos. De origem judaica e entendida por uns como indissociável desta religião, fato que é que há séculos este sistema esotérico vem sendo usado por diferentes segmentos, místicos ou seculares, para os mais diversos fins. Seja para compreender a complexidade do Torá ou para amarrar uma pulseira de lã vermelha em seu pulso contra o mal olhado, para aqueles que nada entendem deste contexto, eis uma obra que talvez possa lhes ajudar a dar os primeiros passos.

Em sua introdução, Maggy nos conta que sua mãe ao saber que ela estava se envolvendo com Cabala, ficou preocupada e foi consultar a opinião do vigário sobre o assunto. Resultado: foi acusada de estar envolvida com algum tipo de culto satânico ou bruxaria. Nada que em termos de ignorância nos impressione realmente. Por isso é importante que você entenda: Cabala não é religião. Repita mentalmente esta frase para jamais esquecer disso. Sendo assim, ela não foi feita para ser adorada, mas para ser estudada, compreendida e, por assim dizer, praticada e ainda segundo a autora, pode ser aplicada a qualquer segmento religioso. A Cabala tem por finalidade dar explicações sobre a criação do universo tal qual o conhecemos e os elementos nele contidos. Cabala significa 'receber' em hebraico, e é comumente conhecida por um dos símbolos mais famosos associados a sua estrutura, a Etz Hayim, ou simplesmente, Árvore da Vida, um diagrama de dez esferas e vinte e dois caminhos que as interligam.

Segundo Whitehouse, a Cabala tem sido transmitida de forma oral de geração em geração, e mesmo que seja atualizada sob determinados aspectos, não tem sofrido alterações em sua estrutura fundamental. Este sistema - quando usado em conjunto ao hebraico mas não apenas - traz consigo uma característica comum a alguns dos idiomas antigos mais conhecidos: o uso de letras também como números. Assim, um elemento de igual importância para os cabalistas será não apenas a análise dos números per se, mas o valor numérico que as palavras podem conter, uma vez que a cada uma das letras seja dada um valor, e a esta prática dá-se o nome de gematria. Dados os elementos básicos que compõem esta conjuntura, a autora nos apresenta as diferentes escolas de pensamento que carregam o nome, ou fazem uso, da Cabala, que são: luriânica, toledana, ortodoxa, cristã, alquímica, além de tratar das diversas correlações esotéricas que ocultistas fazem com a mesma, tais como com a Magia, o Tarô, a Maçonaria, a Golden Dawn, dentre outras.

À continuidade, Maggy nos fala sobre o entendimento que os cabalistas dão para a Bíblia e Deus, que em muitos casos divergem daquele dos cristãos, uma vez que entendam que é dado a todos o direito de se tornarem uno com Deus, e que isso não fora e não é uma exclusividade de Jesus. Sobre a dificuldade de traçar uma historicidade para o sistema, uma vez que tenha sido praticado de forma exclusivamente oral durante muito tempo. Como interpretar a Árvore, as Sephiroth, as relações com a Astrologia, os Anjos e Arcanjos, e conclui o livro com exercícios denominados: Fazendo do Seu Corpo a Árvore da Vida, Desenhando Sua Própria Árvore da Vida, Criando um Ambiente de Cura Cabalística, Entoando o Nome Sagrado, Meditação Contemplativa Cabalística e A Celebração de Um Ritual Simples.

O livro começa de uma maneira bem descomplicada, com capítulos tão curtos que dão a impressão que não acrescentarão em muita coisa. Porém, o desenvolvimento é satisfatório e parece mesmo que foi escrito de modo a não assustar o recém chegado com um mundo de informações. Tudo se desenvolve de forma medida, com explicações suficientes para que o iniciante possa não apenas dar passos maiores na pesquisa a partir daqui, mas para a partir dele próprio por em prática exercícios a serem experimentados sob a luz da Cabala. Como introdução, certamente recomendado.

por Allan Trindade
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quinta-feira, 19 de julho de 2018

O projeto de transpor para a fala do índio a mensagem católica demandava um esforço de penetrar no imaginário do outro, e este foi o empenho do apóstolo (i.e., Anchieta). Na passagem de uma esfera simbólica para outra, Anchieta encontrou óbices por vezes incontornáveis. Como dizer aos tupis, por exemplo, a palavra pecado, se eles careciam até mesmo da sua noção, ao menos no registro que esta assumiria ao longo da Idade Média européia? ... O mais comum é a busca de alguma homologia entre as duas línguas, com resultados de valor desigual:

Bispo é Pa'iguaçu, quer dizer, senhor maior. Nossa Senhora às vezes aparece sob o nome Tupãsy, mãe de Tupã. O reino de Deus é Tupãretama, Terra de Tupã. Igreja, coerentemente, é Tupãoka, casa de Tupã. Alma é 'anga, que vale tanto para sombra quanto para o espírito dos antepassados. Demônio é anhanga, espírito errante e perigoso. Para a figura bíblico-cristã do anjo, Anchieta cunha o vocábulo karaibebé, profeta voador...

A nova representação do sagrado assim produzida já não era nem a teologia cristã nem a crença tupi, mas uma terceira esfera simbólica, uma espécie de mitologia paralela que só a situação colonial tornara possível.

Começando pela arbitrária equação Tupã-Deus judeu-cristão, todo o sistema de correspondências assim criado procedia de atalhos incertos. Tupã era o nome, talvez onomatopaico, de uma força cósmica identificada com o trovão, fenômeno celeste que teria ocorrido a primeira vez com o arrebentamento de uma personagem mítica, Maíra-Monã. De qualquer modo, o que poderia significar, para a mente dos tupis o nome de Tupã com a noção de um Deus uno e trino, ao mesmo tempo todo-poderoso, e o vulnerável Filho do Homem dos Evangelhos?

Alfredo Bosi, Dialética da Colonização.


O TROVÃO E O VENTO é um livro escrito por Kaká Werá, com 250 páginas, divididas em quatro capítulos e publicada no ano de 2016 pela Polar Editora.

Tupi or not Tupi? A célebre frase do Manifesto Antropófago ainda se faz questão nos dias de hoje. Num país cada vez mais dividido e empenhado nas lutas por identificação, uma das características principais do nosso povo - a da mestiçagem e sincretismo social e ideológico - vem pouco a pouco dando lugar a discursos de auto afirmação étnicas, políticas e sexuais, que com a força de seu sectarismo cada vez mais distanciam seus cidadãos, que até não muito, viam-se como únicos, apesar das diferenças.

Nesta disputa sempre polarizada, onde quem não escolhe um lado é automaticamente lançado para o campo do inimigo, os justiceiros -  acromatópsicos por opção - parecem enxergar apenas duas cores nesta nação multicolorida: preto ou branco. Contrariando a descrição de Pero Vaz de Caminha que definira nossos ancestrais como pardos de tom avermelhado, ou ainda a própria honestidade intelectual e visual de perceber e admitir que até os dias de hoje nossa gente é majoritariamente mestiça, fruto do intercruzamento de brancos, pretos e vermelhos, querem mais uma vez excluir da existência o sangue e a pele indígena, como se o Brasil fosse metade Europa, metade África, esquecendo-se que este continente se chama América. Mas não se derrota um povo guerreiro tão facilmente. E se antes as disputas se travavam na ponta da flecha e da lança, comendo a carne do adversário como um símbolo de honra e vitória, nos dias atuais é através da resistência, do estudo e do conhecimento que se vence uma batalha.

Dr. Patrick Paul, assina o prefácio desta obra dizendo que ficou muito feliz com a oportunidade de escrevê-lo e em ter conhecido Kaká, já que não sabia nada sobre a história original do Brasil, mas que percebeu muitas similaridades em alguns processos de supressão, como aqueles da língua, cultura e religião dos povos indígenas, que também ocorreram sobre determinados povos europeus. E salienta que, embora o estudo do passado seja importante, uma volta aos modelos sociais antigos, em sua completude, são inviáveis uma vez que eles próprios estivessem adaptados a seus tempos, as suas realidades. Sendo assim, este tipo de conhecimento nos serve como uma maneira de estabelecer um equilíbrio entre aquilo que se tinha, para entender melhor aquilo que se é. Para além disso destaca ainda uma série de relações entre os conceitos religio-filosóficos dos tupi-guarani com a Alquimia, Cabala, filosofia grega e oriental, dentre outros.

Kaká fora atraído aos guarani através de um pedido de socorro, de um pequeno grupo que vivia as margens da represa Billings em SP, em meio a miséria e a doença, sem entretanto abandonarem o riso e o respeito as tradições. Conviveu dez anos com eles e encantou-se pelos cantos do Opy, assim como outros elementos da cultura, e reuniu nesta obra o que aprendera em todos estes anos de vivência.

A etnia Tupi, provavelmente a maior e que mais influenciou as terras brasileiras, surgiu há cerca de 12.000 anos. De característica semi-nômade, desdobrou-se em vários outros segmentos étnicos conhecidos como tupinambás, tupinikins, guaranis, kamaiurás, etc. De comportamento aguerrido, os tupi também eram dedicados ao moitará (escambo) e ao puxirum (uma espécie de serviço de camaradagem). Dentre suas andanças, comunicação e comércio, criaram estradas de ligação entre os dois pontos do continente, mantinham indivíduos destacados para transitar especificamente dentre estes espaços e com isso, tiveram contato com os povos andinos como quétchua e aymara.

O livro nos traz esta introdução sobre as questões sócio-culturais que envolviam os tupi para então tratar de seu tema principal: a religiosidade. Segundo nos conta o autor, os guarani se denominam jeguakava tenonde porangue-i. A expressão significa: " os primeiros adornados, que caminhavam de plumas sobre a cabeça". Foram os dirigentes desses adornados que receberam os cânticos sob inspiração do Céu. E foi sua comunidade que acolheu e passou a reproduzi-los no Opy - ou, como é conhecida hoje: a Casa de Rezas. pg 35 

Com a chegada do branco e seus missionários, na ânsia de fazer com que esquecessem suas práticas religiosas, alguns sacerdotes passaram a subornar certos índios, de modo a fazer com que abandonassem seus cânticos, que tinham por objetivo, amansar o Trovão e o Vento, ou alma e a mente. Mas é certo que os cristãos não foram bem sucedidos nesta empresa, uma vez que as rezas indígenas tenham sobrevivido até os dias de hoje.

Baseados na crença do deus Tupã, que segundo estudiosos não possui uma tradução ou sentido plenamente conhecido, mas costumeiramente associado ao trovão, seria ele um outro aspecto de Poromonham, o Absoluto Incomensurável, de onde Nhamandú, o Inominável, vibra. Desta conjuntura saem dez princípios norteadores para a humanidade, desenvolvidos ponto a ponto pelo autor nesta obra.

Todos estes elementos formam então a base para o foco principal do livro: os cânticos que educam os ventos. Escritos em guarani e português, são divididos em quatro grupos: 


  • I - Maino i reko ypi kue / Os Primeiros Costumes do Colibri; 
  • II - Ayvu rapyta / Os Fundamentos do Ser; 
  • III - Yvy tenondé / A Primeira Terra; 
  • IV - Oñemboapyka pota jeayú porangue i rembi rerovy'a rã i / Está na hora de dar assento a um Ser, para alegria dos bem amados. 


Por fim, o autor nos sugere um exercício a ser praticado durante 21 dias, com textos oriundos de seus processos rituais, para serem usados como meditação diária.

Esta é uma obra introdutória, leve e instrutiva. Se comparados, muitos dos conceitos indígenas se assemelham em muitos aspectos a muitos elementos do esoterismo indo-europeu, e ficamos mesmo com a sensação de que, com tantas similaridades, se talvez não sejam conceitos modernos, pós contato com o branco. A falta de registros escritos pode dificultar essa resposta, embora os índios sejam sempre lembrados como tendo uma memória impecável sobre suas origens e tradições. Independentemente disso, o livro cumpre aquilo que propõe e certamente, abre possibilidades para ainda outras obras complementares a esta...que sinceramente, esperamos que surjam, para que cada vez mais tomemos consciência que o Brasil foi, é e também continuará sendo índio!

por Arãnhangá



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quarta-feira, 18 de julho de 2018

Quero dizer que o que os pagãos sacrificam é oferecido aos demônios e não a Deus, e não quero que vocês tenham comunhão com os demônios. Vocês não podem beber do cálice do Senhor e do cálice dos demônios; não podem participar da mesa do Senhor e da mesa dos demônios.

I Coríntios 10:20-21


THE DAEMON TAROT é um livro escrito por Ariana Osborne, com 143 páginas, 69 cartas e publicado no ano de 2013 pela Sterling Ethos.

A passagem destacada acima certamente não é a única encontrada na Bíblia que faz referência a demônios. Antigo e Novo Testamento dão indicativos diretos e indiretos sobre a existência destes seres, variando, porém, na descrição e forma como são entendidos. Se a partir de Jesus tais criaturas são descritas de maneira quase sempre genérica, agrupados sob uma mesma categoria, é nos tempos da vigência da lei de Moisés que eles costumam ter nomes mais específicos.

E talvez tenha sido sob esta perspectiva que Jacques Auguste Simon Collin de Plancy tenha se inspirado para escrever sua obra mais conhecida, Le Dictionnaire Infernal, lançada em 1818, ainda mais cristianizada em 1830 quando se convertera ao Catolicismo, e famosa por classificar uma série de demônios e atribuir-lhes diversos títulos nobilitários. Entretanto, embora tenha sido Collin o autor do Dicionário, seu grande sucesso só seria alcançado em 1863, já em sua 6° edição, através da arte de Louis Breton, o artista que imortalizaria a forma como enxergamos cada um dos seres apresentados naquela obra, que é copiada até os dias de hoje.

E foi assim que inspirada pelo Dictionnaire e as belas imagens de Breton, que Ariana nos apresenta seu título, que embora carregue o nome de tarô, em nada se relaciona com aquele livro, sendo este melhor definido como um oráculo. The Daemon Tarot vem em uma caixa resistente de papelão, com um livro e 69 cartas. Cada demônio, um para cada carta, fora explicado sob três perspectivas pela autora: annotation, inspiration e divination.


  • Em Annotation estão reunidas as informações históricas oriundas de suas pesquisas de diversas fontes - não apenas do Dicionário - que estão indicadas na bibliografia do livro.



  • Em Inspiration encontram-se suas interpretações e insights sobre cada carta, mas deixa claro que, cada um é livre para reinterpretá-las a sua própria maneira.



  • Em Divination traz o significado oracular da carta e diz que este, ao menos em sua experiência, melhor funciona com tiragens de 1 ou 6. No método de 1 carta, basta que pense em uma pergunta e consulte a resposta no livro. No método de 6, cinco cartas são dispostas em forma de cruz, uma para cada braço e uma no centro +, além de mais uma a ser posta do lado direito. Este método é destinado para questões mais complexas.


Os 69 arcanos trazem o nome no topo, a imagem no centro e a descrição do demônio em sua base. São eles: Abigor, Abraxas, Adramelech, Agares, Alastor, Alocer, Amduscias, Amon, Andras, Asmodeus, Astaroth, Azazel, Bael, Balan, Barbatos, Beelzebub, Behemoth, Belphegor, Berith, Beyrevra, Brooms, Buer, Bufonite, Caacrinolaas, Cali, Cerberus,Deumus, Eurynome, Flaga, Flavros, Forcas, Furfur, Ganga-Gramma, Garuda, Gomory, Haborym, Ipes, Lamia, Lechies, Leonard, Lucifer, Malphas, Mammon, Marchochias, Melchom, Moloch, Mycale, Nickar, Nybbas, Orobas, Paimon, Picollus, Pruflas, Rahovart, Ribesal, Ronove, Sabbat, Scox, Stolas, Tap, Torngarsuk, Ukobach, Volac, Vuall, Witch's Round, Xaphan, Yan-Gant-Y-Tan, Zaebos.


The Daemon Tarot é sem dúvidas um título primoroso, que reúne qualidade, pesquisa, divinação e história em um só conjunto. Observar cada uma das ilustrações de forma tranquila e despretensiosa é um prazer a parte, e dá mesmo a impressão de estar imerso em um museu antigo admirando as telas de um criativo artista que com sua mente inventiva, tem a capacidade de encantar pelas estranhezas de suas composições que misturam homens, bestas e objetos diversos, além de, com a devida concentração, nos dar a capacidade de nos conectar a tais seres para que possam nos auxiliar a sanar nossas dúvidas. Mas para isso, quem sabe o ideal seja que tu estejas sentado a mesa, com os 69 demônios dispostos a sua frente, degustando um ótimo cálice de vinho... e então, aceitas?



por Allan Trindade




terça-feira, 17 de julho de 2018

Eu era criança quando a irmã do meu pai tinha um terreiro próximo a nossa casa. Minha mãe me avisou cedo que naquela tarde iriamos lá pois era dia de festa. Ao chegarmos tudo já tinha começado. Lembro-me de achar muito estranho o comportamento daqueles adultos vestidos de branco, mas ela me explicara que era gira de erê, e eles estavam com espíritos de crianças mortas no corpo.

Uns tomavam guaraná quente. Alguns brincavam com os presentes que tinham ganhado. Outros conversavam de uma maneira enrolada com os convidados. E tinha ainda aqueles que comiam as formigas do quintal - eu gostava destes em especial. Minha tia, trajada com seus paramentos de Mãe de Santo e com seu jeitão autoritário e de pouco riso de sempre, chegou botando ordem na bagunça. Bateu suas palmas, pediu silêncio a todos e mandou que os incorporados fizessem fila única.

Fiquei na varanda observando tudo. Um dos últimos erês da linha inclinou-se um pouco em minha direção, esfregou as mãos como que as aquecendo, e com uma expressão que era um misto de deboche com um leve semblante diabólico, sussurrou dizendo: " Obaaa! Hoje vou fazer uma macumbinha! "


UMBANDA NÃO É MACUMBA é um livro escrito por Alexandre Cumino, com 155 páginas e publicado no ano de 2016 pela Madras Editora.

Macumba tem sido um termo usado de forma dúbia, tanto por adeptos de algumas religiões brasileiras para designar seus credos e práticas, quanto por aqueles detratores que se apropriaram desta palavra e usam-na de forma pejorativa para ofender os seguidores destas crenças.

A similaridade, a ignorância e o medo, sem dúvidas, contribuem para muitas das problemáticas que envolvem o uso deste vocábulo. Por similaridade destacamos aqueles elementos comuns a maior parte das religiões de influência africana que surgem em solo nacional, que possuem relações com orixás e rituais de necromancia, além de agregarem elementos da cultura e religiosidade indígena.  Por ignorância entendemos a falta de interesse em compreender as diferenças entre estes diversos credos, que é, finalmente nutrida pelo medo de que sejam usados para a prática do mal. É para desfazer o generalismo e traçar as especificidades que Alexandre Cumino nos traz esta obra então.

Esta antologia reúne parte dos textos publicados dentre os anos de 2005 a 2013 no Jornal de Umbanda Sagrada e Revista Espírita de Umbanda,  além de outros exclusivos que aqui foram organizados de modo a dar ao leitor as condições não apenas de entender sua defesa, como para explicar as origens desta religião.

Umbanda não é macumba é o que argumenta o autor. De acordo com Alexandre, Macumba é o nome do instrumento musical de percussão, um tambor, que era utilizado em cultos afro-brasileiros no Rio de Janeiro. A pessoa que tovaca macumba era chamada de macumbeiro; logo, o culto se autodenominou Macumba, assim como sua dança e práticas, como as oferendas. Em geral, eram cultos de origem africana bantu (Angola/Congo/Cabinda), que incluíam rituais realizados nas encruzilhadas, em que sempre se deixavam suas oferendas, entregas e despachos. pg 15

Cumino ressalta que não haveria problema no uso do termo, caso este fosse usado de forma natural, porém, entende que o mesmo é verbalizado, na maior parte das vezes, de forma preconceituosa. Para além disso, o autor nos traz ainda os elementos que compõem a Umbanda e fazem dela uma religião, fundamentada, com origem e doutrina, e distante até mesmo das práticas oriundas das encruzilhadas cariocas.

Nascida em Niterói por intermédio de Zélio Fernandino de Moraes, a Umbanda surgiu através do descontentamento com a forma discriminatória na qual alguns espíritos eram tratados em centros kardecistas, e foi anunciada pelo Caboclo 7 Encruzilhadas, incorporado ao médium, pelos idos de 1908. De caráter e crença cristã, a Umbanda é então declarada como uma religião destinada a prática da caridade, sincrética e arquetípica, gratuita em todos os seus aspectos, que tem como único objetivo ajudar vivos e mortos no caminho do bem.

A partir daquele ponto, sagrava-se como uma crença organizada e doutrinária, com liturgias e ritualística próprias, que indiscutivelmente se distanciava de qualquer outra forma de prática da qual fora também herdeira, ou injustamente associada.

À continuidade do livro, os textos tratam do desenvolvimento da doutrina, discute a participação dos filhos genéticos e de santo de Zélio, e as mudanças e dificuldades que a religião enfrentara no decorrer de seus mais de 100 anos de existência.

Da nossa parte, acreditamos na importância do conhecimento da história e fundamento das religiões, especialmente para aqueles que se dizem pertencentes a algum segmento, ou para aqueles que se pretendam falar sobre. Este título nos traz todos os elementos necessários para a compreensão que de fato há uma distinção entre aquilo que a Umbanda é e aquilo que a Umbanda não é. Entretanto, num contexto onde tanto adeptos quanto escarnecedores fazem uso do mesmo termo para por vezes se referirem a toda esta conjuntura, a palavra macumba, por fim, talvez devesse ser entendida como neutra, dependendo sempre de quem e como a utiliza. 

Mas esta é a nossa opinião, e como não somos umbandistas, embora esta seja também parte da nossa origem e vivência religiosa, tanto por frequência quanto por ascendência, que as palavras finais desta resenha sejam aquelas de quem tem esta religião como prática de vida:

Dizer que Umbanda não é Macumba é muito mais que separar o joio do trigo. Para o leigo, tudo é Macumba e, mesmo para alguns de dentro, Umbanda é Macumba. No entanto, quando alguém fala: "Eu vou à Macumba", não dá para saber se a pessoa vai para o Candomblé, Catimbó, Tambor de Mina, Umbanda ou mesmo Espiritismo. E, por isso, fica muito claro que pode até ser engraçado dizer: "Eu vou à Macumba", mas em momento algum a palavra macumba define Umbanda, e por isso, podemos dizer com certeza que: Umbanda não é Macumba. pg 154/155

por Allan Trindade



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segunda-feira, 16 de julho de 2018

A primeira impressão é a que fica. Ou ao menos assim nos diz o dito popular. Não vou discordar, já que por agir justamente desta forma, acabei por protelar a oportunidade de conhecer muitas realidades interessantes. Foi assim com a Magia do Caos. Numa época onde redes sociais basicamente se resumiam a Orkut e MSN, alguns tipos estranhos já populavam as comunidades thelêmicas e emporcalhavam os tópicos com uma série de postagens que tinham o estranho objetivo de converter, ou simplesmente, desvirtuar qualquer assunto sério que ali estivesse sendo discutido. 

Os tipos, estampados ou autodeclarados, eram dois: gnósticos e caoistas, nesta ordem de ação. Bastava um destes aparecer para eu desaparecer do assunto, afinal de contas, o diálogo era mesmo impossível com essa gente, e nossos objetivos pareciam bem distantes quando o assunto era espiritualidade.

Desenvolvi um certo preconceito. Não contra eles, pois afinal, eu os julgava por experiência, sendo assim, criara um pós conceito, um conceito com conhecimento de causa; os que se apresentavam eram sempre fanáticos ou desordeiros, se orgulhavam disso e ponto. Meu preconceito e erro foi estender as impressões que me passaram aos sistemas que diziam representar. Acreditar nisso foi o mesmo que considerar que a atitude hipócrita da maioria dos cristãos representa o que a Bíblia diz ser o Cristianismo.

Mas o estudo nos ensina que não, não necessariamente se conhece uma árvore por seus frutos, afinal de contas, maçãs podem ser fruto do pecado, envenenadas ou de ouro, sem que a macieira tenha qualquer responsabilidade nisso.

Foram anos até perceber que o Gnosticismo era muito mais rico e diverso que o comportamento que alguns coprófagos poderia limitar. O mesmo tempo até perceber que a riqueza artística e mágica de Spare e Carroll, não podia ser confundida com as sandices de gente que usava a internet para expressar seus desejos de serem malkavianos do plano virtual.

A primeira impressão pode até ser a que fica, mas é tolice se limitar a uma única impressão. A primeira impressão fica, mas é preciso permitir-se ter a experiência para ter uma segunda, terceira, ou quantas forem necessárias até perceber que os fundamentos de um sistema não são necessariamente definidos pelo comportamento de seus adeptos. Foi assim com a Magia do Caos. Que bom!

LIBER NULL E PSICONAUTA é uma publicação escrita por Peter James Carroll com 239 páginas, divididas em dois livros internos e publicado no ano de 2016 pela Penumbra Livros.


Ordem! Sim, ela existe aqui e dá a base para o curso de teorias, técnicas e rituais que o título apresenta. A IoT - Iluminados de Thanateros é uma ordem criada por Ray Sherwin e Peter Caroll, o autor desta publicação. Herdeiros mágicos do Zos Kia Cultus e da A.'. A.'., a magia da IoT é definida como prática, personalista e dedicada a experimentação. Entretanto, o autor salienta que suas práticas são destinadas a estudantes sérios, levando em consideração a potencialidade de seus rituais, e devem ser apenas praticados por aqueles que estejam em perfeitas condições de saúde.

Peter ressalta que é relativamente comum que mestres tenham inspirado adeptos a criarem Ordens e que, apesar de não ter uma história, a IoT transmite uma tradição milenar e que é constituída como território Illuminati. Sendo assim, são iluminados, mas não os mesmos da Baviera ou de qualquer outro tipo, mas de Thanateros, um amálgama dos deuses Thanatos (morte) e Eros (sexo), feito para expressar a junção de opostos para a consciência mágica como caminho, praticado por eles, e a iluminação, como finalidade de suas práticas.

Caos! Tido como sinônimo de tudo aquilo que é desordenado, sem sentido, bagunçado. Cremos ser uma interpretação possível, mas não se limite a ela, pois é certo que este entendimento pode não se adequar de todos os modos a realidade deste livro. Ou melhor, destes livros, uma vez que embora esta publicação esteja em formato único, ela comporta em si dois títulos distintos.

LIBER NULL 

é de cunho essencialmente individual e prático, sem entretanto fugir as devidas explicações didáticas. Este livro dá título para o conjunto de alguns outros libri que tem por finalidade guiar o estudante a uma série de exercícios gradativos que o tornarão apto a ingressar em outros planos de trabalho da Ordem. Há de se salientar porém, que embora o livro seja organizado para os membros ou candidatos da IoT, não há qualquer obrigação de relação com a mesma para a execução dos ritos aqui apresentados. Seus libri são:

  • Liber MMM - que discorre sobre as práticas de Controle da Mente, Magia e Sonhos.
  • Liber LUX - sobre Gnose, Evocação, Invocação, Libertação, Augoeides, Divinação e Encantamento.
  • Liber NOX - sobre Feitiçaria, O Duplo, Transmogrificação, Êxtase, Crenças Aleatórias, O Alfabeto do Desejo e O Milênio.
  • Liber AOM - sobre questões Etéricas, Transubstanciação, A Caosfera, Aeônicas e Reencarnação.


Organizado de modo a levar o estudante ao domínio de suas habilidades físicas e espirituais, seus rituais objetivam o aprimoramento e o alcance de alterações mentais induzidas, dentre elas aquele estado conhecido como Gnose, para, dentre outros, a consecução mágica de um dos elementos mais conhecidos da Magia do Caos: os Sigilos. Esta técnica, que une elementos da Magia Tradicional com aqueles desenvolvidos por Austin Osman Spare, consiste na criação de elementos gráficos que geralmente são fabricados a partir de frases com intenções mágicas. Estes desenhos tem por objetivo ocultar intentos da mente consciente, de modo a lançá-los no vácuo criado a partir destes estados alterados de consciência, tendo sua forma física destruída em seguida, para serem de todos os modos esquecidos pela mente ativa.


PSICONAUTA

Na introdução deste, Carroll salienta que apesar de todo preconceito da ciência vulgar em relação a magia, um novo olhar tem sido lançado para todo este cenário e um novo intendimento vem se dando. Interpretada como uma ferramenta de contrariedade ao materialismo, a magia aqui é pensada de modo a dar acesso aos seres humanos para aqueles aspectos inexplorados de nossa existência, sem o medo de se arriscar em experiências físicas, mentais e espirituais para objetivos específicos.

Destaca a possibilidade de aumentar o poder de rituais ao praticá-los em grupo, além de que em tais situações, as habilidades de cada um podem ser divididas e melhor exploradas de acordo com suas potencialidades. Além disso, trata ainda das interpretações que a psicologia dá para as divisões cerebrais, que considera arbitrárias, e sobre o modus operandi de ataques mágicos, seus riscos e motivos.

A partir deste ponto, elenca cinco rituais denominados os Ritos do Caos, baseados nos princípios do Xamanismo Gnóstico do Novo Aeon, destinados a tratar de situações em que os sacerdotes do Caos possam estar. Estes são: a Missa do Caos, Iniciação, Ordenação, Exorcismo e Extrema Unção.

Em seguida, discorre sobre a pouca influência que os astros têm sobre a Terra, à exceção do Sol e da Lua, criticando assim o destaque que a Astrologia dá para os outros planetas, considerando-a vaga e imprecisa. Sobre o uso de drogas em operações mágicas, as diferenças entre os materialistas, religiosos e magistas, o Caos e sua relação com a magia e a consciência, Deus, o Demônio e as mudanças ocorridas através das eras sobre a percepção destes conceitos, além de tratar sobre Armas Mágicas e demais definições filosóficas que discorrem sobre paradigmas e previsões futuras.

Nestas obras, todas as impressões externas que fazem com que que a Magia do Caos se pareça com apenas mais um sistema de feitiçaria, não se sustentam. Existe aqui uma percepção de que a consciência humana geral muda através das eras e que através de trabalhos mágicos específicos reside a possibilidade desta condução.

Liber Null e Psiconauta propõe uma visão de mundo e práticas novas para adeptos que buscam uma relação mais empírica e menos mistificada com a magia. Aqui tudo é essencialmente prático, sem entretanto fugir a conceitos tradicionais encontrados nos sistemas esotéricos ocidentais. Todo estudante aplicado nestas Ciências, perceberá que o novo aqui reside em grande parte na liberdade em que o sistema dá para se adaptar os conceitos fundamentais à sua própria maneira, sem estabelecer nenhum revés de ideal moral em função disso. O foco é mental e energético, e o senso de Arte e Ciência aqui são levados ao seu sentido mais radical, para que então a mágica se faça. Diagramação, arte e capa dura são belezas a parte que dispensam comentários.

 Post Scriptum: e se nada é verdadeiro, e tudo é permitido...permita-se tê-lo, você não vai se arrepender.

por Allan Trindade



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