quarta-feira, 20 de maio de 2020

Conheci F. há cerca de 10 anos atrás. Desde o primeiro dia sabia que seríamos grandes amigos. Isto porque ele era até então uma das únicas pessoas que conseguia conversar comigo sobre todos os assuntos que sempre me fascinaram: magia, religião, ocultismo, psicologia, alquimia... Nos encontrávamos sempre que possível e ficávamos por horas a fio falando sobre os mais diversos temas.

Eu sempre soube que ele era gay, mesmo quando ele, por vergonha ou qualquer outro motivo, negava. Seu jeito afeminado fazia com que as pessoas especulassem coisas sobre nossa relação, que sempre foi da mais pura amizade. Eu, que desde a adolescência aprendi a não dar a mínima para a opinião alheia, especialmente a opinião de gente burra e maldosa, ria junto dele da cara destes tipos. Para mim, o cérebro de alguém inteligente sempre valeu muito mais que mil línguas de gente da família dos asininos ou dos muares. Mas nós bem sabemos que a cada dez faladores, sempre existe um que resolve tomar uma atitude.

Era madrugada e voltávamos para casa depois de mais uma dessas agradáveis noites de conversa. Ele, aquariano e um pouco desatento, caminhava pela calçada de forma despreocupada, falando e rindo alto, exibindo seus trejeitos, enquanto eu, leonino nato, compartilhava suas gargalhadas mas permanecia atento a estrada deserta. De repente, algumas quadras a frente, um carro surgiu virando a esquina. Em princípio vinha em velocidade normal mas logo reduziu. Rapidamente direcionei minha atenção para a cena. F. continuava falando como se nada estranho estivesse acontecendo.

Um homem do banco do carona pôs metade de seu corpo para fora da janela com uma coisa preta na mão, em forma de tacape. O carro repentinamente acelerou. F. se assustou com o barulho e logo percebeu que estávamos em perigo. A calçada era curta, não havia muito o que fazer. Ao se aproximarem em alta velocidade, o homem tentou acertá-lo na cara com aquilo que, imagino eu, era o tapete de borracha do carro enrolado como uma arma. F. saltou para o meu lado para se esquivar e fomos os dois direto para uma parede chapiscada, ralando nossos braços e tronco. 

Poucos segundos depois e alguns metros a frente, o homem gritou:
- VIADO, FILHO DA PUTA!

Pegamos um táxi e voltamos para casa ainda assustados com toda a situação. Nada de pior, felizmente, nos aconteceu. Mas infelizmente esta não é a realidade de muitos. 

A homofobia discrimina, machuca, mata. E ela não surge do nada, é teorizada, propagada e fundamentada na maior parte das vezes através de um livro, um livro religioso chamado Bíblia Sagrada. 

Mas afinal de contas, o que a Bíblia ensina sobre a Homossexualidade?

O QUE A BÍBLIA ENSINA SOBRE A HOMOSSEXUALIDADE é um livro escrito por Kevin Deyoung, com 193 páginas divididas em 12 capítulos e foi publicado no ano de 2015 pela Fiel editora.

Antes de mais nada faz-se necessário criarmos um parenteses aqui: não, a Bíblia não é a única fonte para a homofobia. O ser humano é um animal que naturalmente discrimina seus pares pelos mais diversos motivos, sem com isso necessariamente precisar de qualquer justificativa lógica. Entretanto, a atitude discriminatória, quando surgida naturalmente, costuma procurar algum tipo de referência para justificar sua postura. Assim, por exemplo, se uma criança branca, que vive em meio a crianças brancas, considera estranha a presença de uma criança preta em sua sala de aula, se seus responsáveis não lhe derem a devida orientação sobre o fato da multiplicidade étnica existente no mundo, e ainda apoiar sua estranheza dizendo que crianças pretas não deveriam estar ali, as chances desta criança branca não apenas crescer como uma racista mas ainda incentivar as outras a terem a mesma atitude, é muito grande. 

Perceba então que temos uma fonte espontânea, ou seja, o sentimento de diferença sentido pela criança em sua comparação de cores, justificado e incentivado por seus pais racistas. O mesmo processo pode ser observado na questão homossexual. Vale ressaltar ainda que embora possam surgir em nós reações estranhas frente ao diferente, este sentimento pode ser induzido por outrem. Em outras palavras, uma criança que nunca tenha considerado tratar seu coleguinha de forma diferente por ser afeminado, por exemplo, pode ser incentivada por ser seus pais a discriminá-lo por acreditarem que este é um comportamento errado ou pecaminoso. Enfim, consideramos a multiplicidade de origem para um comportamento discriminatório, mas observamos que de uma forma geral, em nossa sociedade, a homofobia, ou seja, o medo e ódio contra pessoas e  atitudes consideradas homossexuais tem sempre se justificado por argumentos bíblicos.

Em sua introdução, Kevin Deyoung esclarece que embora a Bíblia não seja um livro sobre homossexualidade, a Bíblia fala explicitamente sobre este assunto. Já em seu princípio, destaca que para entender os argumentos daquele livro, faz-se necessário entender seu objetivo e método. Para tal, propõe uma volta as origens, mais especificamente em Gênesis, onde o Deus de Israel criara o homem e o jardim do Éden, e em seguida Eva, para que vivessem em paz. A queda os teria feito então sair de seu estado original e abençoado, e com isso, uma nova perspectiva se criava: o homem precisava retornar a seu estado de santidade e a única maneira para alcançar tal modo, seria mantendo-se casto. Por castidade, termo que poderíamos também definir como sinônimo de puro de objetivo, entende-se que este mesmo Deus criara uma série de regras a serem cumpridas, de modo que só através de sua observância, o homem poderia então retornar a seu estado original. No tocante ao sexo, ele poderia ser feito, desde que com o objetivo principal da procriação.

Sendo assim, o ser humano deve então: cumprir as diretrizes estabelecidas por Deus, fazer sexo para fins reprodutivos, longe das lascívia e orar para que tenha a chance de adentrar no Reino dos Céus.
Anos se passaram porém sem que o homem de fato cumprisse todas as regras estabelecidas pelo Deus, e sua degradação tornara-se cada vez maior. 

Os judeus teriam visto então surgir em seu meio um suposto messias, chamado Jesus, que teria vindo não para negar a antiga Lei, mas para afirmá-la, embora tenha feito pequenas modificações aqui e acolá, incluindo elementos interpretativos da mesma. A partir deste messias, que seria considerado pelos cristãos o próprio Deus encarnado, outros homens viriam para destacar a importância da observância de seus mandamentos. Paulo seria então uma destas figuras de maior proeminência. 

Mas o que teria toda esta história a ver com a homossexualidade? Segundo o autor, a Bíblia é um livro atemporal, cunhado como um manual de regras para que o cristão alcance a pureza estabelecida pelo Deus de Israel, transfigurado agora sob o nome de Jesus. Este livro estabelece que dentre estas regras, existem aquelas que são consideradas mais ou menos importantes, ou ainda pecados menores e maiores segundo as vistas deste Deus. Desvios como o de tocar em mulheres menstruadas diziam respeito as questões de pureza relacionadas especialmente aos sacerdotes, glutonia aos malandros e indivíduos já majoritariamente transviados que porém, ainda podem ser libertos, divórcio, que embora proibido, poderia ser então considerado em casos de adultério. Porém, seja no Antigo ou Novo Testamento, nenhum porém é garantido para a prática da homossexualidade, sendo este um pecado considerado uma abominação sob os olhos daquele Deus, um crime passível de morte dentre os judeus, e considerado um impeditivo para a entrada no Reino dos Céus pelos cristãos. 

Para o autor, este é um fato inconteste: embora possam haver crimes de igual nível abominável, nenhum pecado é maior que um homem se deitar com outro homem. E destaca ainda que se a Bíblia quase não fala sobre a questão homossexual, isso se dá pelo simples fato de que todos daquela época estavam plenamente cientes que esta prática não era aceitável.

 Segundo ele, este livro fora escrito então para um destes três tipos de pessoas:

convictos: que sabem que a homossexualidade é um pecado;
contenciosos: que espera que se os elementos textuais, exegéticos e lógicos expostos aqui não forem suficientes, que saibam que estão recorrendo a argumentos não bíblicos;
confusos: para os quais espera poder elucidar todas as questões sob a luz das Escrituras.

O Que a Bíblia Ensina Sobre a Homossexualidade é um livro bastante completo a sua maneira. Responde de forma lógica as principais questões levantadas por liberais cristãos ou defensores da causa gay, sempre fundamentando seus argumentos com versículos daquele livro sagrado. Sua exposição faz uma viagem desde a criação em Gênesis, passando por Sodoma e Gomorra, Romanos e Coríntios, incluindo uma observação sobre a suposta natureza amorosa daquela Deus. Traz ainda três apêndices que tratam sobre o casamento homossexual dentro da sociedade contemporânea, a atração homossexual, e a igreja: seus compromissos e a homossexualidade.

Kevin Deyoung é acima de tudo respeitoso em sua exposição, deixando claro que a declaração de sua fé, e seus dogmas, visto que é um cristão, de modo algum justificam qualquer tipo de agressão ou violência contra quem quer que seja. Embora seja opinativo em seus apêndices, e até levemente tendencioso neste ponto, é majoritariamente teológico em seu conteúdo. Não deixa dúvidas de que a Bíblia de fato condena enfaticamente, e sobre a maioria dos outros pecados, a prática da homossexualidade, e qualquer indivíduo coerente se sentirá impelido a concordar com suas conclusões.

Entretanto, concordar que um determinado texto afirme tal coisa, não significa considerar que tais afirmações devam ser aplicadas e praticadas por não cristãos, que sejam legalmente cabíveis para uma sociedade laica, ou mesmo que sejam lógicas para os nossos tempos.

"Dai a César o que é de César." Mt 22:21


por Allan Trindade


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sábado, 16 de maio de 2020

Segundo Frater U.D, a prática dos sigilos, tal como cunhada por Austin Osman Spare, é uma das formas mais eficientes para convencer curiosos e praticantes sobre a eficácia da magia, justamente por sua simplicidade de execução, independência de misticismos e sistemas mais complexos.

Mas será tudo assim tão fácil?

PRACTICAL SIGIL MAGIC é um livro escrito por Frater U. D. com 140 páginas, divididas em 9 capítulos e foi publicado no ano de 2012 pela Llewellyn Publications.

Em seu primeiro capítulo, o autor nos apresenta as grandes mudanças vistas no final do século XIX  e começo do século XX, destacando a forte presença de Austin Osman Spare, sendo depois de Aleister Crowley, um dos ocultistas mais interessantes do mundo inglês. Fora este indivíduo, que seria usado como referência para grande parte das teorias envolvendo o uso dos sigilos, que a sua maneira fundamentou a base sobre a qual se apoiam muitos dos métodos de uso dessa ferramenta mágica.

Os tempos eram de florescimento de ideias sobre a psicologia humana, seu modus operandi, e personalidades que se consagrariam cada vez mais como fundamentais para o entendimento da psique do homem, tais como Freud e Jung, propagavam conceitos que influenciaram não apenas o mundo comum, mas de forma igual as mentes de ocultistas de seu tempo, transformando de maneira irreversível aquilo que seria produzido dentro do contexto esotérico vindouro. Assim, muito daquilo que era dito até então sobre como a magia funcionava, de um modo geral sua eficácia sendo atribuída a ação de espíritos, daria então lugar a teorias sobre o ID, ego e superego, consciente e subconsciente, neuroses e sincronicidades. 

A tradição mágica, por sua vez, sempre manteve em seu espaço desenhos estranhos, muitas vezes considerados rabiscos ininteligíveis pelo vulgo, que guardavam em si uma intenção própria, um objetivo pré-definido e oculto. As formas mais conhecidas, geralmente encontradas nos grimórios clássicos e presentes nos pantáculos planetários, de uma forma geral, eram produzidas a partir de métodos cabalísticos e na maioria dos casos, eram usados para a fabricação de talismãs.

A junção do clássico com o moderno então produziu o conceito de que o homem continha em si todas as potencialidades para alcançar seus próprios objetivos, sem a necessidade de atribuir a potências planetárias, espirituais, ou externas por assim dizer, a consecução de seus intentos. Os sigilos então passariam a ser fabricados não mais apenas por kameas, mas também através de fórmulas de desejos simples, e simplificadas, que uma vez absorvidas, burlariam o sistema de defesa mental do homem e tornariam seus intentos reais.

Aqui, pragmatismo é a palavra chave. Tudo deve ser feito de forma desprendida de ânsia de resultados ou mesmo crença. Fazer a coisa conforme manda a fórmula deve ser suficiente. E se a fórmula não funcionar, tente de outra maneira. Não há dogmas, não há limites, não há moral, você é seu próprio agente, medidor e guia.

Segundo U. D., baseando-se nas ideias práticas do já citado magista inglês, a magia ocidental se apoia sobre dois pilares: vontade e imaginação. Sendo assim, você precisa de não muito mais que isso para que a mágica seja feita. Seu principal  método é relativamente simples e consiste em primeiramente definir um desejo. Em seguida, faz-se necessário expressá-lo numa folha de papel em letras garrafais, por exemplo: É MEU DESEJO GANHAR O LIVRO X. Todas as letras repetidas devem ser então eliminadas, mantendo apenas a primeira: se a letra E aparece por duas ou mais vezes, elimine todas as outras, mantendo apenas uma. Deve-se então repetir este processo com todas as letras até que restem apenas um conjunto de letras que será unido, manipulado e transformado ao gosto do magista numa forma pictórica, um desenho, que será então usado para ser implantado no subconsciente através de métodos que alterem a consciência do indivíduo, produzindo um vácuo momentâneo, seja usando ilícitos, através do orgasmo ou outros, para  que assim aquela semente plantada possa germinar como advinda de algum lugar esquecido da floresta da sua mente. E pronto! Uma vez concluído todo o processo, basta continuar com a normalidade da vida.

O livro segue ainda tratando da evolução dos próprios conceitos da fabricação dos sigilos. Da relação com o Zos Kia Cultus, a IOT e Magia do Caos. De métodos outros como aqueles que usam o mesmo processo para criar mantras ou ainda acessar os aspectos animais presentes em nossa 'subconsciência biológica'. Do alfabeto do desejo, tema ainda bastante discutido nestes meios. E finaliza então fazendo uma volta as origens, tratando da fabricação dos sigilos através dos métodos tradicionais cabalísticos.

Frater U.D. mais uma vez expressa seu talento ao apresentar um livro que trata sobre um tema bastante popular, e normalmente vulgarizado, que através de sua escrita ganha os ares da fundamentação histórica, teórica e prática necessárias e esperadas por todo ocultista sério, sem com isso ser prolixo. Este livro resume e cobre as diversas formas da fabricação de sigilos, deixando claro para todos que a partir das informações contidas aqui, qualquer um terá o fundamento necessário não apenas para produzir os seus próprios, mas ainda inovar, criando métodos pessoais. Desnecessário dizer que este livro é obrigatório na biblioteca de qualquer um que a preze.

por Allan Trindade



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sábado, 2 de maio de 2020

'Fique em casa' tem sido o mantra dos tempos atuais. Em consequência do novo vírus que assola a humanidade, nunca foi tão importante manter-se encerrado em sua própria habitação o máximo de tempo possível, não apenas para sua própria segurança mas também para a proteção alheia. As pessoas vem se reinventando e encontrando novas formas de continuarem suas vidas. É fato que o mundo não será mais mesmo quando tudo isso passar. E se podemos adaptar práticas comuns ao ambiente do lar, por que não integrar também a religiosidade a este novo formato?

UMBANDA EM CASA é um livro escrito por Beto Angeli, contém 158 páginas divididas em cerca de 19 capítulos e foi publicado no ano de 2018 pela editora Fundamentos de Axé.


Não, este livro não foi escrito em função da quarentena, porém parece parcialmente* adequado para tal. Sua proposta é inovadora para o contexto da Umbanda, embora não seja novidade para outras religiões. Aqui o autor nos pergunta: e se pudéssemos trazer parte do culto de Umbanda para dentro de nossas casas? Alguns podem considerar uma sugestão polêmica em função da natureza caritativa desta religião, visto que a Umbanda visa sempre um trabalho de incorporação de espíritos para a facilitação do contato destes para com aquelas pessoas que estejam necessitadas de algum conselho ou mesmo passe energético. O problema seria então, segundo alguns, que os locais aonde estes contatos acontecem são devidamente preparados através de fundamentos espirituais que garantem a proteção não apenas dos médiuns mas também de demais participantes.  Angeli esclarece então que a intenção não é mesmo aquela de transformar o cômodo da casa de um indivíduo em um terreiro, mas, tal como o fazem católicos, evangélicos, espíritas e membros de outras religiões, facilitar a extensão das energias praticadas na gira, para a casa dos adeptos.

A proposta é simples e parece mesmo inovadora: reunir pessoas interessadas no culto, organizar como tudo será feito antecipadamente decidindo com quais energias irá trabalhar, fornecer material escrito para que todos possam acompanhar cada etapa da ritualística, iniciar os trabalhos e pronto. Aqui não há intenção de incorporação mas de evocação das energias através de meditação, pontos e orações, de modo que cada um possa a sua maneira e intenção pedir pelo recebimento de graças. O objetivo é enfim que a Umbanda praticada em casa seja um elemento adicional a prática do terreiro e não uma substituição ao mesmo.

Surgido através de um curso oferecido por seu autor e desenvolvido com o passar dos anos até transformar-se na presente obra, o livro tem um caráter bastante didático iniciando seus capítulos com informações sobre o fundamento das religiões e do ser religioso, os diferentes aspectos interpretativos sobre a natureza do divino passando por conceitos como politeísmo, panteísmo, panenteísmo etc, esclarece as razões para que a umbanda seja incontestavelmente uma religião e sua fundação através de Zélio de Moraes, além de fornecer todas as instruções necessárias para a realização do culto em casa. 

Entretanto, embora a proposta geral do livro seja bastante interessante, há aquilo que pode soar estranho aos olhos de alguns. Segundo o autor, os responsáveis pelo ritual devem priorizar apenas os aspectos positivos referentes as entidades ou orixás. Sugerindo que os mesmos sejam brevemente estudados durante a introdução da cerimônia para que todos estejam minimamente familiarizados e assim estejam conectados também intelectualmente as forças que se farão presentes. Considera que qualquer aspecto que possa ser interpretado como negativo em relação ao mito atrelado aquela divindade, deve ser ignorado, pois pode gerar uma má impressão naqueles que ali estejam. Assim nos diz o autor:

Ao cultuarmos um pai ou mãe orixá, devemos entender plenamente seus fatores e suas formas de atuação. Nosso objetivo não é criar dogmas, e sim quebrá-los, então evite utilizar lendas dos orixás para descrever um pai ou uma mãe, pois em geral essas lendas são falhas em alguns pontos e, muitas vezes, dão a entender que os pais e as mães orixás são desequilibrados, têm sentimentos negativos, como raiva, inveja, cobiça, entre outros. Sugiro que você fale sobre as características das divindades, a não ser que encontre uma lenda que seja neutra e não cause nenhum tipo de má impressão acerca dos pais e mães orixás. pg.112

Consideramos este tipo de sugestão um tanto quanto tendenciosa sob vários aspectos. Mas pensamos ser suficiente dizer que estas histórias são frutos de anos de tradição oral, oriundas de povos que participavam experiências e culturas muito distintas das nossas, e portanto, tais mitos tem sua razão de ser. Considerá-los falhos nos parece no mínimo inadequado. Para além disso, a conexão esperada ao se ressaltar apenas os aspectos positivos de uma divindade, além de ignorar o fato de que na vida tudo tem sua polaridade, pode transformar-se justamente em algo oposto ao fim daquela mesma sessão onde um alguém, encantado quem sabe pela energia do ritual, poderia então buscar saber mais sobre aquele determinado orixá e se deparar com os diversos mitos que ressaltam as suas verdades, sejam elas agradáveis ou não. 

Consideramos ainda que aqueles que pensam que a espiritualidade é como um conto de fadas onde todos são perfeitos e só a bruxa é má, deveriam despertar para a visão do mundo real, pois as representações energéticas - se assim consideradas e denominadas, deuses ou orixás -, são o que são, perfeitos e imperfeitos, para aqueles que desejem estes termos, e isso de modo algum os torna inferiores, apenas atestam sua harmonização para com a realidade da vida. O fogo que aquece é o mesmo que queima. A chuva que refresca é a mesma que inunda. O mar que gera a vida é o mesmo que a afoga.

Embora pensemos este um ponto falho desta publicação, o todo nos parece positivo. A proposta é inovadora. A introdução é instrutiva de acordo com os conceitos estabelecidos pelas ciências das religiões. O desenvolvimento é didático. E com as devidas ressalvas, vale a pena ter a umbanda em casa.

por Allan Trindade


* parcialmente pois visa congregar amigos numa mesma casa e sabemos que isso não é adequado na presente data de 2020.



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