O mundo. É curioso notar a distinção existente entre nós, seres humanos
e o resto da natureza. Se parar para pensar, a natureza com seus animais e
plantas, parece seguir uma linha uniforme de vida, que nos dá a impressão de
ser hoje exatamente aquilo que foi ontem. Não que esta ideia seja verdadeira,
que de fato o mundo natural, distinto do hominal, seja comparável a um filme em
eterno replay, repetindo nascimento, vida e morte de suas criaturas, sem
qualquer pausa ou revolução. Se levarmos em consideração o argumento de alguns
cientistas, é evidente que somos nós que não enxergamos as vicissitudes que nos
cercam. Talvez o motivo para isto se dê pelo fato de que precisamos de impacto
para perceber e recordar acontecimentos. Precisamos de mais do que aquela pseudo
tranquilidade e certeza que a natureza pode nos dar. Precisamos de mais que a
mera ideia de que a vida é feita de momentos pacatos e seguros...para muitos,
uma vida assim, nem mesmo é vida. Precisamos de experiências fortes o
suficiente que nos façam sentir que estamos vivos; precisamos de medo, prazer,
cansaço, descanso, luta, revolução, vida e morte...do outro!
A morte do outro nos dá certo conforto, nos faz sentir vivos, nos causa o impacto que tanto necessitamos e nos faz
aprender sobre métodos que nos distanciem cada vez mais da morte. A morte do
outro tem então uma dupla função: nos ensina a viver e nos conforta. Os
noticiários que mais dão audiência são aqueles das desgraças alheias. Os
horários são então estratégicos: almoço e janta, para garantir que grande parte
da família esteja reunida. Enquanto comemos a morte daquela natureza tão
distinta de nós, nos tranquilizamos com a morte alheia tão aparentemente
distante de nós. Aqui, neste mundo, é muito importante que não se tenha
dúvidas: a morte deve pertencer ao outro, tão e somente! Nossa indiferença
dá-se apenas àqueles que não são capazes de nos dar nada além da visão da morte
e a ideia da continuidade desta vida. Se alguém que nos é caro morre, se
alguém a quem estimamos nos deixa sem todos os outros tantos sentimentos que
necessitamos, que apenas nós seres humanos carentes e famintos julgamo-nos
merecedores de receber, isso não pode ser justo...e a única solução para esta
injustiça é que a vida continue após a morte...e que além de tudo, nós possamos
nos comunicar com ela!
Talking to the Dead é um livro escrito por Barbara Weisberg, dividido em
cinco partes, com 19 capítulos e 324 páginas, publicado pela editora Harper
One. Este é um título biográfico que nos conta sobre a vida das irmãs Fox e o
nascimento do espiritualismo, conforme movimento religioso, dentro dos Estados
Unidos. Advindas de uma família pobre, e de pais com problemas de
relacionamento, as três irmãs: Maggie, Kate e Leah , viveram uma vida repleta
de fama, problemas e controversas depois de seu primeiro contato com o
"mundo espiritual".
Tudo começou em 1848, em Nova York, num período onde o rigor moral
imperava num país ainda em processo de formação, e o dogmatismo cristão
vigorava como único método de conduta e fé religiosa. Um escândalo para os
fundamentalistas e uma piada de mau gosto para os céticos, as irmãs alegavam
serem capazes de se comunicar com os espíritos e que estes podiam responder
perguntas sobre o passado, o presente e o futuro e haviam lhes dado a
incumbência de trazer a verdade de um mundo espiritual atuante, para o mundo
material. A ideia era simples: os espíritos das pessoas não adormeciam junto de
seus corpos mortos conforme era então ensinado por algumas linhas cristãs,
continuavam vivos e conscientes em uma realidade paralela a nossa, e portanto
passível de comunicação. Essa comunicação, no entanto, era um tanto deficiente,
limitando-se a batidas que se ouviam por móveis e paredes, e sugeriam certa
falha de contato dos então ditos espíritos para conosco e vice versa. Para a
solução desta problemática, vivos e mortos estabeleceram um código baseado na
quantidade de batidas, o que fazia com que, estas perguntas devessem ser feitas
de forma clara, onde suas respostas se limitassem a um objetivo "sim"
ou "não".
Décadas se passaram desde o primeiro contato e as irmãs conquistaram o
amor, a indiferença e o ódio de muitos. Muitos daqueles que lhes eram
simpáticos, e crentes nas manifestações que presenciavam, inclusive de forma
pública e coletiva, não apenas lhes seguiam, como partiram, eles próprios, na
tentativa deste contato com o outro mundo. A partir daí surgiriam médiuns por
todo o país e continentes, alegando contatos cada vez mais íntimos e
pirotécnicos com os espíritos; mesas que giravam, levitavam e batiam, espíritos
que se materializavam e traziam mensagens de consolo para parentes e amigos, e
outros tantos que exibiam luzes e fogos que flutuavam no ar.
Daqueles que duvidavam de seus feitos, e tantos outros que viam em toda
esta histeria um perigo para sua própria fé, não mediram esforços para tentar
desmascarar todas estas manifestações, que segundo eles, não passavam de
charlatanismo e truques de prestidigitação. Dentro de seu principal argumento,
diziam que as batidas ouvidas deviam-se a uma incrível e incomum capacidade,
desenvolvida a partir de muito treino, de estalar as juntas dos ossos produzindo
assim os sons ouvidos. Curioso é pensar sobre como, como quando nas exibições
públicas em teatros, por exemplo, poderiam dezenas de pessoas ouvir o estalido
da fricção de juntas ósseas de uma única pessoa...quem sabe a acústica
explique...
A autora nos leva a vivenciar cada detalhe da vida das meninas e esta é,
sem dúvida, uma biografia imparcial com uma impressionante pesquisa
bibliográfica, digna de servir como exemplo para todos aqueles que se pretendem
escrever um dia. Porém, toda este detalhismo é também seu ponto negativo, pois
o livro é bastante extenso e muitas vezes lê-lo se torna um pouco
cansativo. Barbara Weisberg é sem
dúvidas uma perfeccionista, e vai tão a fundo em sua pesquisa, que não se limita
a tratar apenas de espiritualismo ou da vida desta controversa família. Nos
traz dados históricos que nos projetam para um Estados Unidos do século XIX e
não deixa brechas para que seus leitores se percam na ambientação de sua
narrativa.
Envolvidas em toda esta trama estavam três irmãs que, no decorrer de
todo este tempo e repletas de amores, fama, tristeza, dinheiro, drogas, elogios
e acusações, viram no mundo espiritual uma chance de tornar as suas vidas, e a
de tantos outros, muito mais vivas, mesmo que seja falando com os mortos.
por Allan Trindade
[ ATENÇÃO: este livro possui uma versão em português publicada no Brasil
pela editora Nova Fronteira sob o título de " Falando com os Mortos ". Infelizmente não tomei conhecimento desta
informação a tempo e por este motivo esta resenha é baseada em sua versão
estrangeira. Levando em consideração a possibilidade da qualidade idêntica a
esta versão, e pela valorização de editoras que se dedicam ao trabalho de
tradução de livros espiritualistas e ocultistas no Brasil, recomendo a compra
de sua versão nacional.]
Gostou? Quer comprar FALANDO COM OS MORTOS em português, em um local seguro, com um preço mais em conta e ainda patrocinar o blog sem isso lhe custar nem um centavinho a mais? É só clicar no link abaixo:
https://amzn.to/2NpGIpu
https://amzn.to/2NpGIpu
0 comentários:
Postar um comentário