quarta-feira, 8 de junho de 2016

Ao observarmos a evolução das religiões no mundo, percebemos uma grande divisão histórica nos registros modernos: saímos do plural para o singular. No período anterior ao advento do Cristianismo, há cerca de 2016 anos atrás, o mundo religioso, em sua grande maioria, era povoado por uma infinidade tão grande de Deuses e divindades menores, que seria impossível classificar a todos, fosse qual fosse nosso esforço. Panteísmo, animismo, politeísmo, monolatria, são termos recentes, desconhecidos para povos que estavam conectados as suas crenças, não por uma questão de escolha, mas por uma ligação étnica. Nascer sob a égide de uma determinada religião, receber de seus pais e sociedade os ensinamentos daquela crença, era automaticamente ser e considerar-se pertencente a ela.

Tal visualização pode parecer difícil num primeiro momento, num contexto onde a mística exerce um papel social secundário, neste mundo atual onde as pessoas trocam de religião com a mesma facilidade com que bebem um copo d'água. Mas basta pensar que ainda confundimos árabes com muçulmanos, que ignorantemente chamamos de racista todo aquele que diz não gostar do Judaísmo, para perceber que ainda temos muito que aprender sobre esta matéria.

Estas três religiões são então nossa principal referência para o assunto que se segue. É o Judaísmo o precursor do pensamento moderno, disseminado pelo Cristianismo, e tão ferrenhamente defendido pelo Islamismo de que "Deus é um só!". Todo este reducionismo, obviamente, encontra seus fundamentos numa colcha de retalhos histórica tão distante dos métodos modernos de classificação e verificação científica, que somos obrigados a usar deste argumento, de que são eles os "inventores" desta ideia, de modo a não cairmos num relativismo sem fim, que nos distancia da pluralidade de Deus(es) mas nos lança no "polihistoricismo" teórico. Deixemos que os cientistas da religião e exegetas nos digam se o monoteísmo existe de fato ou se toda esta ideia não passa de puro marketing espiritual.


E por qual razão consideramos essa possibilidade? Pois basta que você recorra ao principal elemento de perpetuação, usado principalmente pelas religiões monoteístas - seus livros sagrados -, para que sem esforço se depare com uma infinidade de seres espirituais imbuídos de funções sob o comando do tal "Deus Único", que em muitos casos, são tão poderosas, e descritas como tão mais próximas de nós, e tantas outras tão próximas d'Ele, que mais justo seria também considerá-las divindades dignas dos mesmos preletores. E não era esse o argumento daqueles antigos religiosos a que modernamente nos referimos como pagãos? Não é recorrente no paganismo, o conceito de que, apesar da pluralidade, apesar de um panteão com diferentes Deuses, todos eles, e as criaturas sob seus comandos, eram advindos de uma fonte única?


 Em todo mundo moderno, o esforço exercido pelas religiões monoteístas para desvincular o povo de seus mitos e crenças, foi em certo nível falho e vão. Pessoas e religiões se viram na obrigação de adaptar sua magia, fé e seres espirituais a nova linguagem imposta, daqueles que teimavam em lhes dizer que "basta pedir para Deus". Não bastou! Deuses viraram santos, semi-deuses foram travestidos como super heróis, rituais transmutaram-se em festas, espíritos reinterpretados como assombrações ou guias, elementais como folclore, anjos e demônios como serviçais de Deus para a manutenção da vida do homem... todos, tão antigos quanto o antigo, mais fortes que o tempo, venceram a força da abstração ignorante e minimalista, e superaram, mesmo que reconfigurados, as invasões, fogueiras e bombas do tempo que tanto insistiram e insistem, na tentativa de lhes expulsar do contato para com cada um de nós, e lhes apagar dos registros da nossa história e memória.

Os Espíritos da Natureza é um livro publicado pela editora ISIS, no ano de 2004, com 94 páginas, 16 capítulos, e foi escrito por Charles Webster Leadbeater, famoso teosofista e clarividente do século XIX.


Entendendo-se que Leadbeater chama de fadas, todos os espíritos da natureza ligados ao plano telúrico, de forma etérica ou astral, o autor reuniu através de capítulos uma coletânea de descrições sobre o mundo dos elementais, com foco em seu comportamento e forma.


A ideia básica por trás de seu conteúdo reside no conceito de que estes seres são formas sutis de energia, nascidas através de anjos e devas, com sua própria trajetória evolutiva no mundo espiritual. Sua proximidade conosco então se dá, pois são os elementais os responsáveis pela criação e manutenção de grande parte de todo o ciclo de vida da natureza, em seu sentido mais natural, sendo eles os administradores de flores e suas colorações, plantas e suas formas, insetos e toda a infinidade de coisas que se possa imaginar.

Sendo o homem um ser dotado de inteligência e individualização, e tendo em si caracteres revolucionários e ignorantes que o distanciam deste contato, está, por conseguinte, em grande parte, se afastando da relação com estes seres, todas as vezes que substitui florestas por cidades, rios por esgotos, despertando assim a ojeriza das fadas. Isso explicaria então o por que de no passado termos tido tantos relatos de seres fantásticos, e nos dias de hoje, tudo soar para nós como lendas de contos de fadas, aos quais, apesar de nosso anseio, só temos conhecimento através de reproduções cinematográficas.

Ainda segundo o autor, quanto mais distante do contato com a civilização humana, mais simpáticos eles são para conosco, traçando assim uma distinção entre os elementais que residem em rios e florestas, que por exemplo, são mais avessos e arredios a nossa presença já que conhecem e veem com frequência nossos atos destrutivos em seus reinos, e sendo aqueles residentes das superfícies do alto mar muito mais simpáticos a nós, uma vez que nossa aparição por lá seja muito mais rara.

As descrições de Leabeater são sempre generalistas e nada tem de realmente profundas: cada capítulo, quando muito, não chega ao número de quatro páginas. Entretanto, o título também não nos
traz promessa alguma: não há nele qualquer indicação sobre como o autor chegou aquelas verificações e nem tampouco, como elas poderiam então ser reproduzidas por outrem. Obviamente que aqui não estamos ignorando a fama do referido ser um clarividente, apenas consideramos que o livro carece de uma introdução explicativa neste sentido, para aqueles que não conhecem sua história. Se você está procurando um livro prático de magia elemental este título certamente não é para você.

Os Espíritos da Natureza ainda exige um certo conhecimento prévio, por incrível que pareça, para entender algumas ideias apresentadas pelo autor. Talvez seja interessante que você esteja familiarizado com tipos de pensamento relacionados a metempsicose, hierarquia celeste, hinduísmo e teosofia. Nada que você realmente precise, mas que pode evitar, principalmente em seus primeiros capítulos, questionamentos sobre "O quê ele quer dizer com isso?!".

Além disso, a editora incluiu nesta edição tantas imagens de fadas, que acredite, caso não fossem elas, o livro teria ainda bem menos páginas. Não obstante, não consta em sua ficha técnica seu nome original. Como seus leitores saberão de onde vocês tiraram estes escritos, Editora ISIS? Isso nos leva a pensar sobre a possibilidade desta publicação ser uma antologia destacada de algum outro contexto, onde originalmente os pontos falhos citados acima - como uma introdução para o assunto e explicações sobre métodos - talvez estivessem incluídos. Deixamos aqui o espaço aberto para uma possível explicação.

Este título dificilmente lhe trará algo de realmente significativo, seja a nível intelectual ou prático. Não espere por grandes revelações, métodos ou exercícios: nada disso você encontrará lá. Mas, com um certo esforço, tal qual o que eu fiz aqui, você poderá usá-lo como um gatilho para reflexões sobre o porquê da nossa relação de tanta dependência com o mundo moderno e o nosso distanciamento, cada vez mais intenso, para com os aspectos mais básicos da natureza.

por Allan Trindade


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