segunda-feira, 13 de julho de 2020


A capa deste livro induz os incautos ao erro. Isso mesmo. 
A capa desta edição traz escrito em seu título
o nome Wicca para Homens. E qual é o problema nisso? Nenhum, não fosse o caso deste livro não ser o Wicca para Homens. A.J. Drew possui duas publicações de títulos muito semelhantes voltadas especificamente (mas não exclusivamente) para o público masculino. São elas: Wicca for Men [Wicca para Homens] e Wicca Spellcraft for Men [Wicca Feitiços para Homens], sendo a última aquela referente a presente publicação brasileira. E embora a capa esteja errada, a folha de rosto, ou seja, aquela primeira página que aparece logo que abrimos o livro e que geralmente repete o título da capa, traz o nome correto: Wicca Feitiços para Homens.

WICCA FEITIÇOS PARA HOMENS é um livro escrito por A.J.Drew com 224 páginas, divididas em 9 capítulos e foi publicado no ano de 2002 pela Madras editora.

Drew começa o livro de forma enfática e provocativa, dizendo que se você é o tipo de pessoa que acha que não existem diferenças físicas e biológicas entre homens e mulheres, o melhor que você tem a fazer é nem começar esta leitura. Isto pois, segundo o autor, homens e mulheres possuem características próprias de nascença, que fazem com que não possamos nos tratar como absolutamente iguais em todos os sentidos, sendo este livro indicado não apenas para aqueles que concordem com isso, mas também para todos que já tenham uma noção básica sobre a Wicca. Ainda sob esta perspectiva, o autor destaca que entende que mulheres tenham mais facilidade para se relacionarem com a Deusa, e os homens com Deus, e que não há nada de sexismo nesse tipo de aproximação, apenas um sentido de correlação. Atribui a culpa por toda esta divisão moderna ter-nos sido legada pela Igreja Católica, que durante muito tempo demonizara a mulher e em seguida a todos, dizendo que tudo é pecado, gerando com isso um sentimento moderno reverso, fazendo com que mulheres acreditem que não precisam de homens. Porém, segundo  A.J., nenhum sexo pode ser realmente independente do outro, nascemos como seres complementares.

Dividido em três partes, o autor inicia a teoria deste livro falando sobre sua própria experiência mágica, relatando que a eficácia de seus feitiços variava, ora sendo efetivos ora não, e que muito disso se dava por sua falta de conhecimento teórico que foi sanada após a leitura de Magick In Theory And Practice de Aleister Crowley. Segundo o autor, magia é apenas uma maneira de explicar leis ainda incompreendidas da natureza, que quando assim o forem, serão chamadas de ciência. Portanto, não deve haver oposição entre aquilo que se entende por magia ou aquilo que se sabe sobre ciência. Visto ser a mente a principal ferramenta da magia, o autor cita uma série de exemplos de doenças psicossomáticas ou mesmo curas alcançadas através do poder mental, indicando a inegável conexão entre aquilo que se crê e se tem certeza, se sente e se realiza. Levando em consideração a natureza dispersa da mente, e portanto, as dificuldades de trabalhá-la magicamente quando não a se tenha treinado, indica exercícios e métodos de observação para descobrir seus próprios padrões mentais e demais elementos que se relacionam aos sentidos, como a visão, o tato, olfato, paladar e a audição.

Drew recorda que este é um livro de feitiços, e portanto, faz-se necessário falar sobre a ética de seu uso neste campo. Para o autor, tudo isto é relativo. A Wicca ensina que todos tem o direito de fazer o que quiserem desde que não prejudiquem ninguém. Mas como considerar isso de forma absoluta, se, por exemplo, para sobreviver, animais carnívoros precisam se alimentar de outros animais? A ética deve ser então sempre uma medida pessoal, decidida por cada um a partir de seu próprio universo, convicções e emoções. 

Na segunda parte, esclarece que em você sendo um deus, sua ética também é a ética dos deuses, assim como a do próximo, idem. Entretanto, apesar de todo este panteão existente no mundo, que somos todos nós, o mundo também está infestado por demônios espalhados, escondidos e disfarçados em todos os lugares, por isso, é preciso saber lidar com eles, e os feitiços são uma ótima ferramenta. Sendo assim, a dúvida costuma ser a principal inimiga de seu sucesso. O autor alega que crianças geralmente pensam que podem fazer tudo pois poucos adultos lhes disseram que não poderiam fazer o que quisessem. Logo, sendo você um adulto que foi por tantas vezes censurado, é sua responsabilidade quebrar estas barreiras e convencer-se da certeza que é capaz.  Oferece então uma série de sugestões de rituais para serem feitos neste sentido, relacionados a sonhos e tudo mais pertinente ao astral e ao subconsciente, e até para disputas políticas, pessoais e sociais, visto que a atitude combativa deva ser praticada para a derradeira vitória.

Por fim, na terceira e última parte, o autor traz uma enorme lista de receitas de incensos e tinturas e óleos mágicos, relacionando deuses de diversas culturas, chakras, planetas e tudo mais. E esta é, sem dúvidas, umas das melhores partes deste livro. À todos aqueles que veem na magia algo para além do pensamento positivo, é neste ponto que você será levado a acender seu caldeirão.

Wicca Feitiços para Homens é um livro interessante, dividido em teoria e prática, à melhor maneira da bruxaria tradicional: com muitas receitas de óleos, ervas e incensos para tornar o bruxo e o ambiente sempre envolvido com todos os elementos naturais possíveis para a execução de seus feitiços, feitiços que aqui, são destinados para quase todos os fins. É, por vezes, também militante, considerando que o wiccan deve se envolver com questões que transcendam seu próprio microcosmo e alcance questões sócio ambientais, em defesa dos animais, florestas e de tudo que envolva a natureza em seu sentido puro. É bom, especialmente se usado como um livro de receitas.

por Allan Trindade