sexta-feira, 13 de novembro de 2020


Ideias sobre demônios permeiam e sempre permearam o imaginário humano. E engana-se quem acha que tal pensamento - ou percepção - é exclusividade de uma única religião ou segmento espiritualista
. Muitas são as doutrinas que descrevem a existência de tais seres, muitas vezes nem tão maléficos como costumam ser imaginados, mas inegavelmente e comumente potencialmente nocivos a existência humana. Nossa herança cristã nos legou tal conceito e temor, mas as fontes judaicas podem explicar mais especificamente certos detalhes oriundos destas crenças.

DIALOGOS SOBRE DEMÔNIOS é um livro escrito por Rav Zadok Hakohen e Rafael Resende Daher, contém 211 páginas divididas em 8 capítulos, e foi publicado no ano de 2020 pela Mubarak editorial.

A vida de sucesso do rabino Zadok, coautor desta publicação, começou cedo. Por volta de seus 12 anos de idade já se destacava em sua comunidade através de seus escritos responsivos aos textos judaicos. Progressivamente aumentou sua dedicação, seu envolvimento e religiosidade, casando-se jovem, ainda com seus 15 anos, provando sua maturidade precoce, embora este mesmo fator possa ter sido fonte para seu pronto declínio. Divorciou-se graças as fofocas alheias que punham em pauta a fidelidade de sua esposa, e buscou em outros ares o apoio de rabinos que apoiassem sua decisão. Casou-se ainda por mais duas vezes, sem entretanto nunca gerar filhos, o que considerou como um provável castigo pela forma como tratara sua primeira mulher. 

E é assim que Rafael Daher nos introduz esta publicação bilíngue que trata das especificidades literárias da tradição hebraica voltadas para a tratativa e relação com demônios dos mais diversos tipos. Destaca que neste estudo, serão apontados as relações existentes no ideário dos grimórios componentes da Tradição Salomônica de magia, e suas origens bíblicas, cruzando conexões percebidas entre as tradições cristãs, islâmicas e judaicas, entretanto sem fazê-lo de forma diretamente comparativa. 

Daher salienta que, apesar do destaque para este ponto, este livro não se propõe a analisar de forma pormenorizada e lateral os textos encontrados em todas estas tradições, mas de outra forma, busca nas fontes hebraicas passagens e versículos que indiquem para o leitor a provável origem deste ou daquele conceito Salomônico, ou mágico, de modo que, em tendo conhecimento de ambas as tradições, o próprio legente estará habilitado para perceber suas origens e influências. Assim, ao encontrar em um grimório, por exemplo, que Salomão construíra seu templo com ajuda de demônios, apresenta quais textos originais tratam dos detalhes desta história e desenvolve seus argumentos sobre estas fontes. 

Como destaques adicionais, acrescenta histórias sobre Adão e sua relação (inclusive sexual) com demônios. Lilith e sua fama distorcida no ocidente, visto que segundo a literatura, nunca fora ela símbolo de independência feminina, mas que toda esta ideia de rejeição a Adão fora criada a partir de um texto denominado Alfabeto de Ben Sirach, obra de conteúdo antissemita que traz uma série de histórias bizarras sobre sexo e flatulências, que ganhou destaque através de discursos feministas do século XX. A influência que os egípcios teriam exercido sobre os israelitas e sua adoração pagã a animais e o sacrifício dos mesmos para aqueles demônios de lá. A Torre de Babel e a transformação de alguns de seus habitantes em diabos por seu desejo de praticar idolatria. Necromantes e a enganação que praticam ou sofrem, visto serem os demônios os agentes de suas predições sobre o futuro, demônios estes que atuam sob a supervisão do Deus de modo a testar a observância de suas regras. As disputas destacadas no Sepher ha-Zohar entre a Luz e as Trevas e a punição das almas no Gehenom. As tigelas babilônicas e seus feitiços, dentre outros.

O livro se encerra com um capítulo escrito pelo próprio rabino Zadok Hakohen e suas explicações sobre Cabala, a Árvore da Vida, as sephiroth e qliphot, sendo estas últimas, segundo o autor, as cascas de proteção criadas para que a pureza e potência do poder divino emanado não destruam a criação. A existência das qliphot e sua força negativa, entretanto, seriam o motivo para a confusão exercida sobre muitos daqueles que delas se aproximam e que se sujeitam as suas más influências, tornando-os tão impuros em alguns casos, que nada mais lhes resta, nesta ou em outra vida, se não o inevitável destino de tornaram-se eles próprios demônios em si.

Todos aqueles que conheçam minimamente personagens como Moises, Salomão, Ashmodeus, Azazel,  ou mesmo itens específicos como Urim e Tumim, dentre outros elementos da tradição judaica, entenderão a proposta desta publicação. Um livro de referências que indica certas fontes da magia, religião e crenças populares que pode ser aproveitado de forma igualmente proveitosa por curiosos, pesquisadores ou esoteristas que se apoiem sobre as bases tradicionais da magia ocidental.

por Allan Trindade



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