segunda-feira, 9 de março de 2020


Asa de morcego. Olho de boi. Pelo de búfalo. Uma pitada de veneno de escorpião. E uma criança que seja filha de um anão. 

Misturar todos os ingredientes em um caldeirão fervente. Sob a luz da lua cheia numa noite quente. Evocar os diabos de chifre de corte e beijar a bunda preta de um bode.

THE SATANIC RITUALS é um livro escrito por Anton Szandor LaVey, com 220 páginas, divididas em 11 capítulos e foi publicado no ano de 1972 pela Avon Books.

Não, este ritual não existe. Eu acabei de inventá-lo. E apesar de tê-lo criado neste momento, rituais como este preenchem os livros de contos infantis e testemunhos de vítimas da santa inquisição católica, que sob as mais diversas formas de tortura, inventavam coisas deste tipo para se livrarem o mais rápido possível da dor e tormento extremo a que eram expostos sob a acusação de bruxaria e satanismo. Se podemos afirmar que a humanidade possui facilidade para a criatividade, o que dizer sobre nossa disposição para a insanidade?

Insanidade esta que pouco ou nenhuma relação tem com a realidade. Insanidade esta que sob a justificativa de vingar o sacrifício fictício de fetos em rituais sabáticos, matou mais pessoas inocentes que nenhum satanista jamais foi capaz. Ao menos não os satanistas de Lavey, seguidores deste homem que deixa claro nas linhas de seu livro sagrado, chamado de A Bíblia Satânica, que o sacrifício de animais e crianças não faz parte das práticas satanistas vide a pureza contida nestes seres. E se podemos garantir que a Bíblia Satânica não autoriza o assassinato de crianças, fato é que não podemos dizer o mesmo da Bíblia Sagrada, aquela dos cristãos, onde o deus de israel não apenas sacrifica seu próprio filho, como autoriza o extermínio dos pequenos como visto nas passagens que contam as histórias de Eliseu, Êxodo, dentre outras. Ao que parece o infanticídio suja mais o dedo histórico daqueles que acusam, do que daqueles que são acusados. Que mundo irônico este em que vivemos, não?!

Mas tudo bem, comparar as Bíblias deve ser uma artimanha de satanás que está me fazendo pecar e desviar do caminho que é falar sobre um outro livro, aquele que foi escrito como um complemento para a Bíblia Satânica, o livro chamado Os Rituais Satânicos.

Sim, este livro é um complemento, logo, caso você não tenha lido a Bíblia Satânica, é melhor que o faça antes. Embora Lavey comece este título de uma forma bem semelhante a sua primeira publicação, mais uma vez ressaltando que o Diabo vem sendo usado de forma irrestrita pelos mais diversos tipos de abraâmicos, sempre com o intuito de acusar seus opositores ideológicos de serem seus seguidores, ou ainda sobre a passividade das modernas escolas de bruxaria que se esquivam a todo custo de qualquer acusação de que seus rituais, ou mesmo seu deus cornudo, tenham qualquer relação com satanismo, as semelhanças se encerram aí, visto que esta publicação não é filosófica ou ideológica, mas essencialmente prática. 

Lavey considera que a fantasia desempenha um papel importante em qualquer religião e que os rituais satânicos são usados não para escravizar o praticante com fantasias sobre espiritualidade, mas para que o adepto entre num estado alterado de consciência, de maneira que possa manipular de forma livre suas crenças e emoções, e assim alcançar seus próprios objetivos. Partindo do princípio de que é através da tensão que as mudanças são produzidas, concebe que a magia reproduz o movimento de retração e expansão do universo. Portanto, o praticante puxa para si aquilo que deseja e empurra de si aquilo que não quer mais, sempre motivado pela intensidade das situações. A ação mágica aqui leva em consideração o magista em si, sua energia e da vítima, e que os efeitos, em geral, afetam muito mais a psique e vontade, que um dano físico direto. É importante notar que não há a crença da interferência de espíritos ou deuses e que a energia dos envolvidos é direcionada para alterar o estado mental da vítima, de modo que ela produza as alterações físicas desejadas sobre si mesma. Se for para o bem, que ela tenha forças para conquistar, se for o mal, que ela se boicote e se destrua.

Os rituais apresentados são classificados em dois tipos: ritos para fins específicos ou cerimônias e celebrações festivas. O livro apresenta o contexto histórico do rito e em seguida, a forma de realizá-lo. Homens e mulheres podem desempenhar as mesmas funções, desde que as polaridades sejam analisadas e combinadas de modo prévio, e destaca o mesmo para grupos homossexuais.
Todos os rituais são pensados como peças de um teatro, onde atores e plateia participam ativamente, com roteiro e emoção, de modo que o grand finale seja proveitoso para todos. Portanto é importante estar conscientemente ali, querer estar ali e saber por que está ali: qualidade é mais importante que quantidade! E que o oficiante saiba distinguir os mais adequados. 

Sobre suas origens, alega que são de influência esotérica advindas predominantemente da Alemanha e França, vide a riqueza do drama satânico produzido por esses países. Lembremo-nos que muitas dos contos infantis ou mesmo infanto-juvenis da Europa tinham contextos e finais dignos de filmes de terror, mas que muitos foram alterados ao caírem nas mãos de Walt Disney. As versões que conhecemos sempre tem um final feliz, mas a realidade dos livros é bem outra...

A sequência de rituais são:

THE ORIGINAL PSYCHODRAMA 
Le Messe Noir

L'AIR EPAIS
The Cerimony of the Stifling Air

THE SEVENTH SATANIC STATEMENT 
Das Tierdrama

THE LAW OF THE TRAPEZOID 
Die Elektrischen Vorspiele

NIGHT ON BALD MOUNTAIN 
Homage to Tchort

PILGRIMS OF THE AGE OF FIRE 
The Statement of Shaitan

THE METAPHYSICS OF LOVECRAFT 
The Cerimony of the Nine Angles and The Call to Cthulhu

THE SATANIC BAPTISMS 
Adult Rite and Children's Cerimony

THE UNKNOWN KNOWN


Sentimos decepcionar o leitor que tivesse a esperança de encontrar neste livro fórmulas contendo sacrifícios de animais ou crianças. Não, eles não fazem parte desta obra. Todos estes rituais transcendem a prática e são interessantes não apenas pela contextualização histórica, mas também pela ideia que apresentam, sempre focados num fundamento subversivo. Neste complemento à Bíblia Satânica, Lavey nos convida a não mais pensar Satã como o outro, como aquele que não gostamos, como símbolo de nossas desavenças, mas a incorporarmos Satã em nós mesmos visto que para nossos opositores nós já somos ele. A proposta de antes era ideológica, a proposta aqui é prática, o objetivo da literatura de Lavey é fazer de todas esses ingredientes a receita para a sua vida, com boas pitadas daqueles temperos especiais que sempre dão gosto as suas obras: a ironia e o deboche.


por Allan Trindade


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