sábado, 4 de abril de 2020


" Como caíste desde o céu, ó Lúcifer, filho da alva! Como foste cortado por terra, tu que debilitavas as nações. " 
Isaías 14:12


" Eu, Jesus, enviei o meu anjo para dar a vocês este testemunho concernente às igrejas. Eu sou a Raiz e o Descendente de Davi, e o resplandecente Lúcifer. " Apocalipse 22:16

ANJOS CAÍDOS é um livro escrito por Harold Bloom, com 83 páginas e foi publicado no ano de 2008 pela editora Objetiva.

Sim, talvez você tenha se impressionado com as passagens acima, especialmente no ponto onde Jesus afirma ser Lúcifer. A bem da verdade eu manipulei o texto. A fonte original se refere em Isaías a Lúcifer, mas em Apocalipse como estrela da manhã. O que eu fiz não é novidade e em outros lugares você poderá encontrar o termo lúcifer também sendo substituído por sua forma traduzida mais adequada, ou seja, estrela da manhã. E se procurar além das traduções verá que existem diversas teorias que especulam sobre lúcifer ter sido um rei déspota daqui, um príncipe de acolá, ou um planeta de outrora.  E por que tantas fontes usam tantas traduções diferentes, ou dão sentidos diversos para uma mesma sentença? Teologia!

 A  interferência teológica dentro das traduções causa este tipo de fenômeno e confunde as mentes daqueles menos entendidos do assunto. Estrela da manhã é apenas a tradução para a palavra lúcifer. Uma expressão filosófica para alguns. Um nome próprio para outros. Para aqueles que consideram lúcifer como estrela da manhã, em outras palavras, como sendo apenas uma alegoria poética para aquele que traz a luz, na maior parte do tempo serão justos em considerar que todas as vezes que esta palavra aparecer na Bíblia, deverá ser traduzida como tal. 

Porém, para aqueles tantos outros que creem que lúcifer seja na verdade um nome próprio, uma pessoa em si, ou ainda o próprio anjo caído, bem...estes provavelmente considerarão Lúcifer em Isaías mas certamente não considerarão Lúcifer como sendo Jesus no Apocalipse. Dois pesos e duas medidas? Provável que sim...

...

Harold Bloom abre sua obra destacando um fato: há no mínimo três mil anos somos apresentados a imagens e conceitos de anjos, oriundos das três principais religiões abraâmicas dominantes do mundo ocidental, e em tempos modernos, pela grande explosão do tema através de místicas alternativas que desde a década de 90 preenchem as estantes de livrarias e locadoras (quando estas ainda existiam) com os mais variados tipos de livros, kits e filmes sobre o tema. Cremos não ser exagero afirmar que não há pessoa viva nestas terras que não tenha ouvido falar nestes divinos seres alados. 

Diferentemente de seus parentes menores, os demônios, que possuem um caráter mais universal, sendo encontrados em praticamente todas as culturas ao redor do mundo, segundo o autor, os anjos parecem ter uma relação específica com aquelas origens zoroatristas, judaicas e consequentemente cristãs e islâmicas. Sempre dotados de funções divinas e por vezes rebeldes, estes seres são únicos por terem uma relação estranhamente próxima a nossa, não apenas em seu sentido pseudo histórico - vide os diversos relatos de contatos e relações encontráveis nestes textos sagrados-, mas também comportamental, sendo dotados de paixões e vontades, embora na maior parte do tempo exerçam a função de servir. 

Seria a atração dos anjos por nós e nossa por eles mero acaso?

Bloom destaca o fato de seres humanos não terem o mesmo apreço pelos demônios que possuem pelos anjos, sendo estes vistos com certo glamour mesmo quando são diabólicos. O que dizer de frases como " ...você caiu do céu, um anjo lindo que apareceu, com olhos de cristal, me enfeitiçou eu nunca vi nada igual...",  apenas para citar um dentre vários casos de poemas e canções que tornam a queda destes seres interessantes ou atraentes para nós. A razão para isso? 

Segundo Harold, anjos caídos foram portadores de algo que tem o potencial de ser reavido, pois este algo é parte intrínseca de sua própria natureza. Sendo assim, toda esta atração por anjos, sendo eles caídos ou não, talvez represente um apelo íntimo e desconhecido residente dentro de cada um de nós. Uma verdade oculta em nossa próprio ser, que se manifesta através deste estranho interesse, ansiando por manifestar-se. Algo que também temos mas não sabemos. Um segredo sobre aquilo que nós somos.  A possibilidade de nós sermos anjos caídos buscando reconciliação com nossos iguais. 

Para justificar toda esta senda por comunicação ou reconciliação, que destaca, existe desde o paganismo,  como visto nos textos de Apuleio e sua fala sobre o daemon de Sócrates, passando por Santo Agostinho e seu entendimento de como seria a vida dos anjos antes do Éden, segundo o autor, são estes os seres, e não os diabos,  que independentemente do nome ou forma que lhes sejam atribuídas, sempre estiveram no imaginário e ânsias humanas em busca do Divino. E se levarmos em consideração a etimologia da palavra, angelus, mensageiros, e portanto, intermediários, talvez essa teoria nem parece tão absurda. 

O autor disserta sobre outros temas correlacionados, como do conceito judaico sobre satã e seu entendimento amorfo, muito mais ligado a qualquer ideia ou elemento de oposição, que propriamente tratando de um ser como um diabo espiritual ou demônio sedento por maldade, considerando que esta percepção deturpada fora propagada principalmente pelo já mencionado Santo Agostinho em sua obra A Cidade de Deus. A ideia por trás do conceito reside sobre o argumento de que mesmo que os demônios tenham sua função no imaginário humano, são os anjos que desempenham os papéis mais importantes.

Anjos caídos é um livro interessante a sua maneira. Divaga, vai e volta nos temas sem muito compromisso com uma formalidade textual. Lança assuntos e ideias e deste modo exige um certo nível de conhecimento geral sobre o que trata. É curto mas levemente profundo, cheio de referências a textos e autores clássicos da literatura, como Shakespeare, John Milton, Mary Shelley, dentre outros. Tem uma proposta interessante sobre qual seja a real identidade humana e é preenchido com belas ilustrações de Liberati.

Não crie grandes expectativas. Não é indispensável. Mas até vale um tanto.


por Allan Trindade

.
Gostou? Quer comprar ANJOS CAÍDOS em um local seguro, com um preço mais em conta e ainda patrocinar o blog sem isso lhe custar nem um centavinho a mais? É só clicar no link abaixo:

https://amzn.to/3aLAk3c




0 comentários:

Postar um comentário