sexta-feira, 12 de março de 2021

Polêmico. Este é um dos adjetivos sugeridos por Barbieri a este coletivo tão controverso chamado de Exu. 

Você pode estranhar o fato de usarmos o termo coletivo para nos referirmos a Exu, porém isto se dá de forma intencional visto que esta palavra serve para definir tanto o orixá homônimo de origem yorubá, quanto todo o grupo de entidades que pegaram Seu nome emprestado para definirem a si próprias.

EXU é um livro escrito por Alan Barbieri, com 253 páginas divididas em 25 capítulos e foi publicado no ano de 2020 pela editora Mariwô.

Segundo Alan, esta é apenas uma das características de Exu, que vive sempre em transformação e que embora seja comumente associado ao mal, é justo e até mesmo caridoso, sendo a ignorância e o sincretismo cristão os culpados por sua associação ao Diabo. Tal engano teria sido iniciado por um nigeriano cristão de nome Samuel Crowther, quando em 1843 traduziu a Bíblia para o yorubá e substitui as referências ao demônio opositor do Deus judaico cristão, a Exu. Barbieri destaca o absurdo de tal comparativo visto ser Exu a força que impulsiona os homens a ação para sua própria evolução espiritual, e não uma criatura sedenta pela desgraça humana tal como a figura de satanás.

O livro traça uma linha progressiva de explicação sobre estas figuras da espiritualidade africana e brasileira. Vindo das terras de lá, Esu, neste ponto ainda o Orixá, é apresentado como tendo uma relação próxima e controversa com Oxalá, que se recusava a lhe prestar os devidos respeitos conforme mandado por Olorun. Em seguida, o autor nos apresenta os diversos epítetos atribuído ao Orixá dos Caminhos, que quando vistos por leigos, passam a impressão de se referirem a outros seres, porém, tais epítetos apenas marcam características de Exu em suas diversas formas e campos de atuação. 

Ao chegar em terras tupinikin, Exu passaria então a integrar diversos outros cultos brasileiros, carregando qualificações positivas e negativas, e misturando-se as tradições europeias e americanas que aqui se condensavam. E é assim que Exu deixa de ser apenas um Orixá para se tornar a fonte nominal da falange de todos os espíritos desencarnados que Dele pegam o nome e recebem o grau. 

Nas encruzilhadas, onde os exus costumam ser cultuados, pratos com farofa e sacrifícios animais compõem seus ebós, mas Barbieri deixa claro que apesar de respeitar todas as formas de culto, em seu terreiro não há derramamento de ejé (sangue) e que é hipocrisia daqueles que criticam tais práticas mas consomem carne de animais fruto de matadouros que não dispensam o mínimo respeito pela vida daqueles seres.

O autor nos diz ainda que nada é por acaso, e que somos consequência de nossos atos desta ou de outras vidas, e que Exu é o aplicador da lei do merecimento, sendo o responsável por dar a cada um aquilo que merece. Os exus são vistos então como agentes da ordem, espíritos responsáveis por fiscalizar as ações do mundo e decidir quais consequências devem ser tomadas em função de cada situação. 

Os mais atentos hão de perceber que tais conceitos se aproximam muito de ideias como lei do karma e lei do retorno, e aqui faz-se necessário esclarecer um ponto. 

Alan Barbieri é umbandista, e portanto, embasa grande parte de seus conceitos sobre o que sejam os exus, sob a lei de Umbanda. Sendo assim, que o leitor saiba que embora tais conceitos sejam amplamente difundidos como verdades sobre a realidade total de exu e pomba gira, nem todas as vertentes de culto a estes seres concordam sobre tais pontos. Em outras palavras: saiba que existem vertentes de linhas de Quimbanda que não atribuem as ações de Exu valores éticos ou morais, definindo-os como seres amorais, livres e liberados para agirem da forma que bem entenderem sem que isto lhes cause qualquer choque de retorno.

Barbieri fala ainda sobre a ação das entidades na vida das pessoas, quais critérios a espiritualidade usa para elevar espíritos ao grau de exus, a relação destes seres com a sexualidade, as falanges e as relações com os Orixás, receitas de diferentes tipos de padê para diversas finalidades, explicações sobre assentamentos e ervas, e instruções sobre como fazer firmezas para seus exus pessoais e cuidar deles em sua casa.

Um livro leve, muito bem diagramado, que apresenta história, teoria e prática num só conjunto. Útil para iniciantes que conheçam ou não seus exus de frente, mas igualmente interessante para aqueles que já tenham alguma experiência dentro das práticas e que queiram ter sempre em mãos um livro de consultas rápidas. Daqueles livros que vale a pena ler e ter.

por Allan Trindade


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